Os traços da arquitetura brutalista encontram-se em obras pelo mundo todo. Sua estética crua destaca pilares com um visual de obra inacabada. Assim, revela o conceito puro da arquitetura: a construção de espaços de forma organizada e ordenada para acomodar atividades humanas.
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Apesar das características visuais do estilo, seu início se deu em meados do século XX como uma derivação dos movimentos moderno e minimalista, no contexto do pós-guerra europeu.
O diferencial é que o ponto de partida não são conceitos artísticos, e sim a necessidade e a função das obras.
A arquitetura brutalista é uma inspiração para decoradores e arquitetos, deixando ambientes comerciais e residenciais com um charme a mais. O estilo foi muito utilizado até meados da década de 1980, e agora volta como tendência e fonte de inspiração.
Quer entender melhor? Acompanhe a leitura e conheça a arquitetura brutalista. Confira suas principais características e veja projetos para se inspirar.
Qual é a origem da arquitetura brutalista?
Como mencionamos, o estilo surgiu no fim da Segunda Guerra Mundial. O período foi decisivo para o avanço industrial e tecnológico em diversos campos, incluindo a construção civil e a arquitetura. A necessidade de reerguer cidades europeias foi o elemento propulsor para tal desenvolvimento.
O brutalismo surgiu nesse meio, derivado do termo “béton brut”, traduzido como “concreto bruto”. A origem francesa da vertente revela a participação de um dos principais mentores da arquitetura do século XX, Le Corbusier.
Ele batizou e solidificou os ideais do movimento, aplicando-os pela primeira vez nas Unités d’Habitation (Unidades de Habitação), um de seus trabalhos mais marcantes.
A primeira obra, localizada em Marselha, na França, foi construída entre 1945 e 1949. Ela é parte de um conjunto de edifícios modulares com estilo moderno que preconizam a economia de recursos para reerguer as cidades.
Isso justifica o uso de materiais baratos, como o concreto, e a aplicação de técnicas modernas para facilitar a circulação de ar, por exemplo. As outras unidades estão em Rezé, Berlim, Briey-en-Forêt e Firminy.
O pensamento da arquitetura brutalista expõe a realidade da época e a consequência sobre o campo da construção civil.
Naquele momento, os edifícios eram vistos apenas pelo viés funcional. Isto é, era negada toda a ideia dos possíveis significados por trás de seu desenho. Ele não era nada além do que aparentava e do que tinha como função.
Também eram rejeitados acessórios e artigos supérfluos, valorizando apenas a “verdade estrutural” do projeto.
As formas das construções brutalistas fizeram muito sucesso pelo mundo inteiro. Principalmente em edifícios governamentais e em países como França, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Itália, Canadá, Israel e Austrália. Sua presença também foi marcante no Brasil.
Características da arquitetura brutalista
O propósito do movimento da arquitetura brutalista era, muitas vezes, reprimido por causa da estética pouco trabalhada das obras.
Os projetos eram considerados “feios”, pelo contraste com todas as características que anteriormente dominavam a arquitetura. Isso inclui o estilo neoclássico e o neogótico, cheios de adornos, detalhes, rebuscamento, valores ideológicos e culturais.
A beleza diferenciada da arquitetura brutalista colocava vigas, pilares e os demais aspectos estruturais em exposição. Além de usar materiais como concreto armado, madeira e aço como protagonistas.
De maneira geral, os prédios brutalistas são imponentes e de grande porte, com desenhos arrojados, caracterizados principalmente por ângulos, módulos e formas geométricas.
Estruturas suspensas — com recortes inusitados, muitas vigas, fachada tomada pelo concreto e algumas aberturas cobertas por vidros — completam a variedade das construções.
Na decoração de interiores, o brutalismo é percebido na praticidade. Assim, ambientes e móveis são dispostos para facilitar a utilização dos espaços e remoção dos excessos.
O estilo, que não tem nada a ver com o “brutal”, garante características urbanas marcantes e é uma forma de expressão, aplicando materiais mais baratos, simples e resistentes.
A madeira, o metal e o vidro, bem como o concreto, são os mais populares, em conjunto com cores neutras, tons amadeirados ou metalizados e outros aspectos que retomam obras inacabadas.
Traços são visíveis nas principais obras brutalistas
Um dos exemplares mais impressionantes da arquitetura brutalista é o Complexo Habitat 67 em Montreal, no Canadá. Ele foi criado pelo israelense Moshe Safdie e construído em 1967. Originalmente, o conjunto reunia 158 apartamentos e 354 blocos pré-fabricados de cimento.
Os blocos são iguais, mas foram dispostos de maneiras diferentes. Isso permitiu a formação de uma estrutura gigantesca, com 12 andares.
Os traços futuristas, os terraços suspensos, as praças e as aberturas por todo lado são atributos singulares da obra.
Vale a pena conferir também a Torre Trellick (Londres), a Torre Genex (Belgrado) e o quartel-general do FBI (Washington).
É válido destacar que a arquitetura brutalista também foi aplicada em residências, utilizando os mesmos preceitos estruturais.
Assim, foi possível garantir um ar moderno nas construções, de tal forma que as casas pareciam ser perfeitamente moldadas, sem deixar sua função principal de lado. O concreto se tornou o personagem principal nesse tipo de edificação.
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Brasil também contribui com movimento brutalista
A arquitetura brutalista começou a ser utilizada na Europa em 1950, chegou ao Brasil por volta dos anos 1970 e logo se tornou popular. O antigo Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro, foi o primeiro projeto a seguir os pressupostos do brutalismo.
A vertente tomou força, entretanto, com a Escola Paulista, que foi um movimento de representantes da arquitetura moderna da cidade. Nesse caso, as principais inspirações foram Le Corbusier, o New Brutalism (corrente inglesa do movimento) e o arquiteto Vilanova Artigas.
Os principais exemplos da corrente no Brasil são:
- o MASP (Museu de Arte de São Paulo) e o SESC Pompeia, de Lina Bo Bardi;
- MUMA (Museu Metropolitano de Arte), projetado por Marcos Prado;
- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, de Vilanova Artigas;
- Condomínio Central Park, também em São Paulo.
O movimento brasileiro, da mesma maneira que o europeu, contou com o concreto e com a simplicidade dos materiais para desenhar obras imponentes e funcionais. O diferencial foi tratar tais aspectos com elegância, imprimindo novos sentidos às obras.
É válido destacar que esse estilo foi responsável por uma nova geração de arquitetos paulistas muito talentosos. Outro ponto interessante é que o início da influência brutalista coincide com o concurso e a construção de Brasília, embora sua notoriedade seja evidenciada posteriormente.
É claro que a arquitetura brutalista sempre conviveu com outras tendências, gerando certa heterogeneidade nas edificações brasileiras. O que pode ser evidenciado pelas obras da época.
Contudo, é importante lembrar que a arquitetura brutalista surgiu em meio a uma situação política delicada em nosso país.
As construções brutalistas europeias não se importavam com a beleza. Mas, nas brasileiras, não se tratava de um mero conceito estético, mas sim de uma militância política.
O avanço da ditadura fez com que muitos arquitetos se aproximassem do partido Comunista. E, com o AI-5 em 1968, alguns professores foram afastados do cargo na USP (como Artigas e Paulo Mendes).
Isso se deu por conta de suas edificações apresentarem a ideologia da esquerda, com espaços abertos propícios a manifestações.
Escola paulista
A escola paulista de arquitetura brutalista foi fundamental para o crescimento da cidade de São Paulo. Muitos arquitetos pertencentes ao movimento fizeram parte das principais construções da época.
Não podemos deixar de mencionar que a escola paulista foi responsável por inserir traços de criatividade no “brutalismo universal”, também chamado de novo brutalismo.
Podemos até dizer que foi gerada uma nova linguagem, peculiar e própria, por meio de uma linha tênue entre uma estética monstruosa ou grotesca. Como na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP ou no Museu de Arte de São Paulo, por exemplo.
Alguns arquitetos, como Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, foram precursores na utilização do concreto aparente nas edificações. Obras como o Estádio do Morumbi e a Residência Olga Baeta são alguns exemplos.
Por fim, mas não menos importante, alguns autores conseguiram destacar o brutalismo paulista, ressaltando seus aspectos compositivos e retóricos.
Assim, foi possível perceber que não existia apenas um apelo estético dos materiais. Mas um arranjo dos elementos e um conjunto de estratégias nunca assumidas no discurso, mas capazes de criar visuais incríveis.
Escola Carioca
A escola carioca, por sua vez, foi internacionalmente consagrada após a Segunda Guerra Mundial por conta do alto nível de qualidade em suas obras e sua oportuna divulgação.
Inclusive, ela foi potencializada pelo contexto do momento, quando o mundo se encontrava em reconstrução.
No início da década de 1950, alguns arquitetos já apresentavam designs que sinalizavam a nova tendência. Isso tornou o período conhecido como um momento de transformação. Seja pelo trabalho de Oscar Niemeyer, seja pelos projetos de Affonso Eduardo Reidy (que foi um dos pioneiros na utilização de estruturas em concreto aparente, como no MAM-RJ).
Sendo assim, podemos afirmar que uma nova geração de arquitetos formados na arquitetura brutalista contribuiu para a consolidação desse movimento. Nomes como Paulo Mendes da Rocha, Francisco Petracco e Pedro Paulo de Mello Saraiva surgiram nessa época.
Construções brutalistas sofrem com falta de manutenção
Nos últimos anos, algumas das obras mais imponentes da arquitetura brutalista começaram a ser destruídas. Esse é o caso do edifício Robin Hood Gardens. Ele era composto por uma estrutura maciça de concreto, com 213 apartamentos, em Londres.
Esse prédio foi projetado por Alison e Peter Smithson, sendo concluído em meados de 1972. O conceito aplicado pelos arquitetos ficou conhecido como “Streets in the Sky”, por conta da presença de varandas de concreto do terceiro pavimento de cada edifício.
Assim, era possível observar o jardim central, criando um espaço em comum para o encontro de seus habitantes, que também servia para crianças brincarem. Contudo, a falta de manutenção fez com que o complexo se tornasse precário.
A edificação foi demolida, dando lugar a um empreendimento de aproximadamente R$ 1,8 bilhão. Arquitetos ingleses até tentaram protestar contra a demolição, mas a manifestação foi em vão.
Outros prédios passaram por situações similares, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, as principais edificações ainda estão de pé, mas apresentam condições duvidosas, tornando seu uso inseguro e impróprio.
A falta de manutenção é um dos principais problemas encontrados por qualquer edificação que já está de pé há um bom tempo. Infelizmente, os empreendimentos da arquitetura brutalista também sofrem com a ação do tempo.
É preciso encontrar maneiras de solucionar esses problemas, sem necessitar demolir ou refazer as construções. Conservar as ideias e os traços da arquitetura brutalista é uma grande vantagem.
Além de servir de inspiração para as próximas gerações de arquitetos, cada monumento traz consigo uma bagagem histórica incrível, fazendo valer a pena sua conservação, preservação e manutenção.
As construções baseadas na arquitetura brutalista passaram por momentos de baixa, mas elas são consideradas atemporais, trazendo contribuições interessantes para a arquitetura contemporânea.
Como aplicar a arquitetura brutalista nos interiores?
O estilo brutalista traz muitos elementos que podem ser aproveitados tanto no exterior quanto no interior de residências e ambientes corporativos atuais.
Em residências, o ar moderno e urbano do brutalismo pode ser aproveitado em todos os ambientes. Confira as inspirações que selecionamos para entender melhor como aplicar esse estilo nas construções.
1. Revestimentos rústicos
O ideal é aproveitar os revestimentos mais rústicos, apostando no concreto e nas paredes de tijolos, por exemplo.
Contudo, as paredes e os revestimentos de pisos devem harmonizar muito bem com os materiais expostos, e o ideal é que estejam em cores neutras. Por exemplo, cinza e bege.
O projeto em destaque é um bom exemplo. Inspirado na arquitetura brutalista, traz linhas retas, revestimentos que reproduzem materiais rústicos, além de vidro, espelho e luz natural.
Afinal, na arquitetura brutalista não só o concreto exposto ganha destaque. As texturas ásperas também ficam em evidência em outras superfícies.
E trazendo aspectos da arquitetura brutalista para o dia a dia, é possível ter muito mais praticidade com o uso de revestimentos que reproduzem materiais como cimento e madeira.
Dessa forma, é possível ter um material mais resistente ao desgaste e à ação do tempo. Além de ser fácil de limpar e não manchar com facilidade.
2. Luz natural
A iluminação deve ser estratégica em um projeto inspirado na arquitetura brutalista. Assim, valoriza pontos e amplia o local.
Portanto, a luz natural traz ainda mais beleza ao espaço, como acontece no projeto acima. Por meio de fechamentos em vidro e do pé direito alto, foi possível obter maior aproveitamento da iluminação solar.
Essas características convergem com a estética brutalista, que busca por aberturas generosas, muitas vezes com grandes janelas retangulares.
Tais aberturas ajudam não só a maximizar a entrada de luz natural, como também relevam a busca por uma presença monumental e impactante no ambiente construído.
Afinal, no brutalismo há a tendência de estruturas de grande escala, incluindo arranha-céus, edifícios governamentais e instituições públicas.
3. Ponto de cor
A paleta de cores na arquitetura brutalista é muitas vezes austera e limitada. Nesse sentido, predominam tons terrosos, como cinza, marrom e bege, enfatizando a naturalidade do concreto.
Contudo, algumas estruturas podem incorporar cores mais vibrantes, mas geralmente de forma moderada e em elementos específicos.
Pontos de luz, como objetos metalizados, brilhantes e coloridos, também são ótimas opções para dar mais personalidade ao lugar.
Entretanto, vale reforçar que esses elementos devem aparecer em pouca quantidade para não sobrepor outros aspectos e perder as características fundamentais do estilo.
O uso de cores contrastantes pode ainda ajudar a destacar partes da estrutura. Isso vale também para projetos em que a ideia seja destacar características arquitetônicas como escadas, colunas e outros detalhes.
Na inspiração que trouxemos, o piso que reproduz mármore verde se encarrega de levar um toque de cor, mas sem exageros.
Outra ideia é apostar em revestimentos que reproduzem concreto colorido. Assim, é possível levar a modernidade do estilo, sem abrir mão de tons modernos.
4. Móveis com design clean
Para que o ambiente não fique sem graça ou muito simples, o mobiliário faz a diferença. Os móveis devem apresentar um design clean e refinado, deixando de lado itens muito grandes, chamativos e pouco funcionais.
Afinal, no brutalismo prevalece o design centrado na funcionalidade e na eficiência. Sendo assim, a estética é frequentemente derivada das necessidades práticas do ambiente.
Portanto, valorize cores neutras e linhas retas, que harmonizem com revestimentos que reproduzam materiais com cimento e madeira, como acontece no projeto em destaque.
5. Linha simples
A simplicidade do design é outro ponto que se sobressai em projetos inspirados na arquitetura brutalista, como o que vemos acima.
Isso acontece tanto nos móveis quanto na construção em si, trazendo linhas retas e bem marcadas para o ambiente.
Nesse sentido, dê preferência a formas geométricas simples e sólidas. Como blocos retangulares e estruturas cúbicas, por exemplo.
Vale destacar ainda a ausência de ornamentos ou decorações superficiais, valorizando a forma pura.
A amplitude é outro ponto que marca o projeto em questão, assim como a escolha de revestimentos, como o da linha Solar, que você conhece na sequência.
Linha Solar, da Portobello, tem inspiração na arquitetura brutalista
Se você se interessou pela arquitetura brutalista e quer levar aspectos desse estilo para o seu projeto, precisa conhecer a linha Solar, da Portobello.
Os revestimentos reúnem planos e volumes que resgatam a linguagem da arquitetura brutalista.
A principal inspiração para a sua criação foi a obra de Lina Bo Bardi. Os designers Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrósio propuseram uma nova cartela de cores, em linhas e formas essenciais.
Um aspecto muito importante dessa linha é a sustentabilidade, tanto social quanto ambiental para se aprofundar no design essencial.
Afinal, os produtos fazem parte do projeto Sururu: conchas que transformam. Trata-se de uma iniciativa da Portobello com os designers da linha para levar solução a um problema enfrentado por uma comunidade de Alagoas.
Às margens da Lagoa Mundaú, famílias vivem da pesca do sururu, um molusco muito consumido na região. No entanto, suas cascas não tinham destinação adequada, sendo desprezadas na lagoa. Por sua vez, isso vinha causando poluição e mau cheiro, que afetava a qualidade de vida dos moradores.
Observando essa questão social e ambiental, foi desenvolvida a matéria-prima da linha solar. O cimento e as conchas se iluminam com cores levando energia e robustez, ideais para projetos inspirados na arquitetura brutalista.
Produtos da linha Solar em detalhes
A partir das conchas do sururu surgem produtos que revelam beleza em superfícies que reproduzem efeitos ripados e lineares. Assim, é possível ter uma composição de maxitijolinhos com cores solares iluminadas pelo efeito furta-cor das conchas.
Os produtos linha Solar são ideais para compor paredes personalizadas. No formato 09x19 cm, são encontrados em quatro cores: concreto, ocre, terra e areia. Todas elas em versão plana ou ripada.
Portanto, são oito opções para levar a inspiração da arquitetura brutalista para diferentes projetos. Quanto ao acabamento, em todas as peças é mate. Ou seja, não tem brilho.
E aí? Gostou do conteúdo? Então, que tal saber mais sobre as inspirações da linha Solar no Archtrends Podcast em que Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrosio falam sobre o projeto Sururu?