Andar pelas cidades é algo natural, no qual nem sempre paramos para analisar a fundo. Mas tudo o que está ali foi pensado por profissionais de urbanismo.
Desde a largura das ruas e das calçadas até o material usado nessas construções. Sem falar no paisagismo presente em praças, jardins e canteiros e nas formas de se locomover de um ponto ao outro.
São muitos detalhes que compõem as teias das cidades, com a finalidade de torná-las espaços agradáveis de se viver.
Isso, claro, com a ajuda de outros profissionais, como arquitetos, paisagistas, engenheiros, designers e servidores públicos.
Contudo, o urbanismo não é estático. Ele se adapta às transformações da tecnologia e da sociedade. Portanto, é um conceito vivo, para acompanhar sempre. Saiba mais!
O que é o urbanismo?
O urbanismo é uma ciência humana multidisciplinar. Dedica-se ao estudo das cidades, bem como ao seu planejamento, controle e regulação. Isso envolve a infraestrutura e a mobilidade.
Portanto, precisa estar sempre em movimento para acompanhar as tendências de comportamento, da sociedade e da urbanização, por exemplo. Assim, é possível levar mais qualidade de vida às pessoas.
Para isso, dialoga com outras áreas de conhecimento, como a arquitetura, a geografia, a geologia, o paisagismo e a ecologia.
Qual é a diferença entre arquitetura e urbanismo?
A verdade é que paisagismo, urbanismo e arquitetura andam juntos. Afinal, os três estudam a relação entre espaço e sociedade para criar ambientes funcionais e agradáveis.
No entanto, enquanto a arquitetura foca em um edifício, o urbanismo é mais complexo, pois abrange o planejamento de um bairro ou uma cidade.
Já o paisagismo permeia as duas áreas, sendo responsável pela inclusão de elementos — sobretudo vegetação — nos projetos. Assim, leva bem-estar para as pessoas e ajuda na preservação do meio ambiente.
Como surgiu e evoluiu o urbanismo?
Seguindo a mesma lógica do tópico anterior, o surgimento do urbanismo se confunde com a história da arquitetura.
Ela surgiu na pré-história, a partir da necessidade dos seres humanos de se proteger de animais e intempéries.
Há mais de 5 mil anos, esse conjunto de construções deu origem às primeiras cidades, como Atenas, Byblus, Damascus, Jerusalém e Varanasi.
Por sua vez, elas começaram a ganhar mais importância.
Isso porque, com o passar dos anos, esses locais ganharam significados para além do abrigo ou da comunidade. Passaram a representar religiões e posicionamentos políticos.
Já no início do urbanismo, é possível notar construções monumentais. Além disso, os detalhes eram pensados com cuidado.
Esculturas, painéis, pinturas e materiais eram utilizados para mostrar o quão imponente era determinada cidade.
Vale ressaltar que em cada local e a cada época, estilos e detalhes diferentes eram adotados. Isso revela a adaptação do urbanismo de acordo com a cultura, as crenças e o estilo de vida de cada lugar.
No entanto, ele também sofre impacto da evolução da tecnologia — que, inclusive, acelerou o processo de urbanização.
Nos primeiros anos depois de Cristo, a organização de uma cidade podia levar séculos. Mas isso ganhou escala. Em 1950, 10% das pessoas viviam em áreas urbanas.
O número deu um salto e, atualmente, 50% da população está em cidades. A expectativa é de que, até 2050, esse percentual chegue a 75%.
Já é de se imaginar que os desafios do urbanismo são grandes. Sobretudo se considerarmos que 1/3 das pessoas vive em favelas ou complexos habitacionais que não oferecem o mínimo, como saneamento.
Leia também
- Petra: uma cidade esculpida nas montanhas
- We Manifesto: tendências sociais declaram nosso modo de estar no mundo
Quais são os principais desafios do urbanismo contemporâneo?
O êxodo do campo para as áreas urbanas deu um verdadeiro salto a partir da segunda metade do século XX. Entretanto, poucas cidades conseguiram se planejar para acompanhar essa mudança brusca.
Portanto, um dos principais desafios do urbanismo na atualidade é lidar com cidades densas e populosas. Afinal, isso gera alguns problemas, que veremos na sequência.
Mobilidade urbana
As pessoas tendem a partir para as cidades em busca de qualidade de vida e oportunidades de trabalho.
No entanto, isso gera alguns problemas para as próprias cidades, que veem seus custos aumentarem. Tanto com limpeza e segurança quanto com o transporte público.
Para que as pessoas possam se locomover, é possível oferecer diferentes alternativas. Metrô, trem, ônibus, balsa e bicicleta estão entre as principais.
Algumas delas esbarram na falta de planejamento do espaço ou em orçamentos apertados para o investimento em meios de locomoção que sejam eficientes, seguros e acessíveis para toda a população.
Espaços para caminhar
Há ainda o debate sobre as cidades caminháveis. Ou seja, que privilegiam espaços para andar a pé. Entretanto, isso esbarra com outras questões, como a segurança.
A ideia é valorizar calçadas e demais áreas em que as pessoas possam caminhar. Isso contribui com um estilo de vida mais saudável e estimula a interação.
Para tanto, é necessário pensar em uma arquitetura convidativa. Nesse sentido, não podem ser espaços escuros ou desertos.
Moradia
O crescimento das cidades levou a outro problema que segue sendo um desafio para o urbanismo: a habitação.
Áreas periféricas se expandiram e, nelas, nada foi pensado para que as pessoas tivessem o mínimo que se espera de uma cidade: saneamento básico, água, energia elétrica e por aí vai.
Nesse caso, não basta o trabalho de arquitetos urbanistas. É necessário envolver engenheiros, biólogos, geógrafos etc.
Sem falar na necessidade de priorização do poder público, que muitas vezes negligencia esse tema.
Qualidade de vida
A grande concentração de pessoas leva ainda a outro desafio para o urbanismo, que é a manutenção da qualidade de vida.
Poluição, lixo, barulho e calor estão entre os exemplos de fatores que interferem no bem-estar da população urbana.
Nesse sentido, o urbanismo pode contribuir de diferentes formas. Uma delas é usar materiais inteligentes para as construções.
A ideia é proporcionar não só conforto térmico e sonoro, como também ajudar a reduzir o consumo de energia elétrica.
Ainda é importante pensar em espaços de lazer arborizados, como parques e praças. Sem falar em questões mais específicas, como o escoamento do esgoto e a reciclagem do lixo.
Quais são as particularidades e os desafios do urbanismo brasileiro?
Além dos desafios do urbanismo que vimos anteriormente, há algumas particularidades nas cidades brasileiras que aumentam a lista.
Transporte
Mesmo nas grandes cidades brasileiras, as opções e as linhas de transporte não são suficientes para atender a toda a demanda.
Sem falar que elas não abrangem todo o território, levando as pessoas a usarem mais de um veículo para realizar um único trajeto. Sendo assim, além do desgaste, elas precisam gastar mais dinheiro.
O que já era ruim ficou ainda pior com a pandemia de Covid-19. Nesse período, empresas de transporte reduziram as linhas, que não foram retomadas após a vacinação.
Infraestrutura
Outro desafio do urbanismo brasileiro aparece quando notamos as calçadas das grandes cidades.
Em alguns locais, elas são praticamente inexistentes. Afinal, dividem espaço com postes, árvores, buracos e sinalização de trânsito.
Também com relação à infraestrutura, observa-se uma grande desigualdade, de acordo com a região. Em áreas periféricas, as ruas são estreitas; as casas são pequenas e sem ventilação.
Já em bairros considerados nobres, é possível usufruir de mais conforto, incluindo a disponibilidade de espaços de lazer e a facilidade de locomoção.
Saneamento básico
Para garantir a qualidade de vida e, mais do que isso, a manutenção da saúde e do bem-estar, é necessário investir em aspectos como o saneamento básico.
Dessa maneira, as pessoas podem manter bons hábitos de higiene, o que evita doenças e outros problemas.
Preservação do meio ambiente
O crescimento das cidades leva ao desmatamento de áreas até então preservadas. Isso pode impactar todo um ecossistema, levando ao aumento da temperatura e à piora da qualidade do ar, por exemplo.
Além disso, observa-se ainda outro fator, que é a procura por moradias mais afastadas dos centros urbanos.
Essa tendência começou com a pandemia e a adoção do home office por grande parte das empresas. Como muitas mantiveram esse modelo de trabalho, a busca por casas em regiões arborizadas e tranquilas segue em alta.
Portanto, é necessário observar e agir para que essa ocupação não prejudique o meio ambiente nessas localidades.
Gentrificação
A busca pela valorização de certos espaços é mais um desafio da urbanização. A gentrificação é pautada na especulação imobiliária, o que leva à adoção de medidas como a arquitetura hostil.
Nesse caso, a ideia é impedir que moradores de rua permaneçam em determinados locais, de modo a valorizar os imóveis nessas regiões.
No entanto, a arquitetura hostil não passa de uma forma de mascarar um problema social que o governo não consegue solucionar.
Para isso, adota medidas como bancos em áreas públicas com ferros entre os assentos ou pedras e grades em locais que poderiam servir de abrigo para pessoas em situação de rua.
Impacto das chuvas
Chuvas em grandes volumes, que acontecem de repente e em pouco tempo. Essa é uma realidade que veio para ficar. Afinal, são consequência das mudanças climáticas que estamos vivendo.
Para o urbanismo, o desafio está em prever esse tipo de situação e adotar medidas que minimizem os estragos.
As áreas verdes, por exemplo, são capazes de reduzir os impactos das chuvas nas cidades. Isso porque elas absorvem a água e retardam os alagamentos.
Sem falar na impermeabilização do solo, o que é muito frequente em processos de urbanização, favorecendo as enchentes.
Quais são as principais tendências em urbanismo?
Levando em consideração todos os desafios globais e locais do urbanismo, chegamos a um ponto essencial quando falamos sobre esse tema.
Afinal, são as tendências que indicam o caminho a ser percorrido daqui para frente, como veremos a partir de agora.
Cultura no urbanismo
O urbanismo pode ter um forte impacto social. Sobretudo quando inclui a cultura nos projetos, como uma forma de tornar as cidades mais acolhedoras e agradáveis.
A cultura no urbanismo tem o poder de transformar para sempre um lugar. Foi o que aconteceu na zona portuária do Rio de Janeiro, por exemplo.
Ela recebeu uma escola de arte e tecnologia para a população carente, além de museus que impulsionaram o crescimento da região, antes totalmente deteriorada.
Ecologia urbana
A harmonia entre os seres humanos e o meio ambiente é objeto de estudo da ecologia urbana.
Até porque, o urbanismo leva a alterações no solo, no ar e na água por meio de construções e da presença de muitas pessoas em um único espaço.
Entre os principais benefícios da ecologia urbana está o aumento da qualidade de vida, proporcionada justamente pelo contato com a natureza.
Com o desenvolvimento sustentável, ainda é possível observar uma melhor qualidade do ar e um maior conforto térmico, entre outras vantagens.
Além de pensar em áreas verdes, o urbanismo também pode prever soluções para a geração, o descarte e a coleta de lixo.
Transportes menos poluentes e reflorestamento de áreas devastadas são outras alternativas para adotar em projetos que levam em conta a ecologia urbana.
Sustentabilidade na construção civil
A sustentabilidade na construção civil é um tema que não pode esperar.
Da escolha de materiais à adoção de técnicas, é possível reduzir os impactos ao meio ambiente, garantindo a existência da espécie humana.
Para fomentar um urbanismo mais sustentável, foram criados diferentes selos que atestam a aplicação de medidas que contribuem para a preservação da natureza.
A construção civil já é responsável por cerca de 40% das emissões de CO2 em todo o planeta. Sendo assim, muitos consumidores buscam ativamente por soluções sustentáveis.
Entre os exemplos estão a eficiência energética, ao priorizar o conforto térmico e a luz natural, levando à economia de eletricidade.
Sem falar no uso de materiais que agridem menos o meio ambiente, como é o caso dos revestimentos cerâmicos da Portobello.
Eles podem reproduzir matérias-primas naturais e escassas com fidelidade, mas de um jeito mais sustentável.
Novo normal
Após a pandemia de Covid-19, é possível perceber mudanças em todo o mundo. Isso inclui desde o comportamento das pessoas até a maneira de olhar para o urbanismo.
Algumas cidades europeias, por exemplo, passaram por transformações que levaram à priorização de residências e áreas públicas mais espaçosas.
Vale ressaltar também que durante a pandemia houve aumento do êxodo urbano, com pessoas à procura de mais qualidade de vida nas áreas rurais ou cidades menores, graças as soluções tecnológicas de trabalho remoto.
Outro ponto importante foi a adoção do home office por muitas empresas. Isso impacta diretamente o urbanismo, pois reduz a quantidade de pessoas nos transportes e até em grandes centros econômicos.
Com os indivíduos passando mais tempo em casa, há ainda a necessidade de espalhar certos serviços para todos os cantos das cidades.
Entre eles, é preciso destacar o acesso à cultura e ao lazer — que, muitas vezes, têm opções concentradas em determinadas regiões.
Cidades caminháveis
Um dos desafios do urbanismo é também uma das tendências dessa área. As cidades caminháveis visam potencializar a qualidade de vida ao oferecer mais espaços para que as pessoas circulem a pé.
Esse conceito visa aumentar a mobilidade urbana. Mas não só isso: pode impactar a economia e a organização dos locais, sejam eles públicos ou privados.
Isso porque questiona a priorização dos automóveis como principal meio de transporte nas grandes cidades.
Ao priorizar projetos caminháveis no urbanismo, é possível obter diversas outras vantagens. Entre elas, a redução de CO2, tendo em vista que os veículos serão menos utilizados.
Por sua vez, isso contribui para a diminuição do risco de doenças respiratórias, além de melhorar a saúde das pessoas em geral.
Afinal, caminhadas diminuem o colesterol, melhoram a circulação do sangue, evitam diabetes e reduzem a ansiedade.
Entre as formas de ter cidades caminháveis está a priorização de calçadas mais largas e ruas bem pavimentadas.
A arborização é outro ponto importante. Além disso, é necessário garantir semáforos inteligentes, que favoreçam a circulação de pedestres.
Envelhecimento da população
Com a expectativa de vida aumentando, é importante considerar a longevidade humana em projetos de urbanismo.
Além de ser uma tendência, essa já é uma realidade para muitos locais, que enfrentam os desafios de ter boa parte da população na terceira idade.
A expectativa é de que, em 2050, tenhamos 1 bilhão de idosos a mais. E os números são mesmo alarmantes.
Se atualmente a população acima de 65 anos representa 8,5% das pessoas no mundo, em 2025 essa porcentagem vai passar para 17%.
Portanto, estamos envelhecendo nas cidades e isso requer algumas adaptações. Acessibilidade, mobilidade e lazer para essa faixa etária são essenciais em projetos de urbanismo da atualidade.
Cidades inteligentes
As cidades inteligentes ou Smart Cities são uma tendência mundial que afeta não só a arquitetura e o urbanismo, como também a economia e o comportamento.
Estamos falando da integração de diferentes áreas para tornar as cidades melhores de se viver. Isso inclui a preservação e a sustentabilidade ambiental.
Sem falar em planejamento urbano e transporte público mais eficazes. Outros aspectos também entram para a lista, como o consumo consciente e a educação de qualidade.
Tudo isso para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas de maneira geral. Nesse sentido, o urbanismo é essencial.
É ele que vai entender como a cidade pode oferecer uma melhor infraestrutura, conectando os cidadãos aos serviços de uma forma mais eficiente, geralmente tecnológica.
Também é possível ter cidades inteligentes pensando em soluções como energia limpa e renovável.
Vale ainda reaproveitar recursos naturais e escolher materiais que tenham um processo de produção menos nocivo ao meio ambiente.
Cidades verdes
Já as cidades verdes são aquelas regidas pelo conceito da sustentabilidade. Portanto, essa é uma tendência de urbanismo que reúne alguns dos elementos que vimos anteriormente.
Nesse caso, há a implementação de:
- construções sustentáveis;
- leis ambientais rígidas;
- redução da poluição;
- autossuficiência.
Tudo isso, claro, aliado ao acesso à saúde e à educação, sem deixar de lado o desenvolvimento econômico.
Ao contrário do que se possa pensar, uma cidade verde não busca só a harmonia entre as pessoas e o ecossistema.
Como preza pelo equilíbrio das ações em geral, contribui, por exemplo, para a redução na taxa de obesidade da população. Pode ainda aumentar a expectativa de vida e até diminuir os índices de violência.
Contudo, há também práticas sustentáveis como o uso de energias limpas e reciclagem. Tudo isso ajuda no aumento do Produto Interno Bruto (PIB) dos locais que decidem seguir os preceitos das cidades verdes.
Como é o curso de Urbanismo?
Para quem se interessa pelo assunto e quer se tornar um profissional da área, o primeiro passo é ingressar na graduação em Arquitetura e Urbanismo.
De nível superior, o curso é bastante completo e permite não só atuar como urbanista, mas também como arquiteto, paisagista ou designer.
A duração é de 10 semestres (cinco anos) e a grade curricular inclui matérias que envolvem desenho, geometria e sociologia.
No fim, é necessário apresentar um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Já para exercer a profissão, é preciso ter registro no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR).
Como é o mercado de trabalho para um urbanista?
Os diferentes conhecimentos e habilidades adquiridos no curso de Arquitetura e Urbanismo permitem ingressar em diversas áreas.
Para começar, é possível tanto trabalhar em uma empresa quanto abrir um negócio e atuar de forma autônoma.
Com o mercado imobiliário em alta, a tendência é que a demanda por profissionais permaneça nos próximos anos.
Sem falar na possibilidade de prestar concurso público para atuar como arquiteto e urbanista em municípios, estados ou empresas públicas, por exemplo.
Para quem quer se aprofundar no assunto, o Archtrends está cheio de bons conteúdos. Continue com a gente e conheça cidades históricas brasileiras!