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Vista aérea do High Line, em NY, projetado por Diller Scofidio + Renfro. Um exemplo de urbanismo à serviço da cultura e das pessoas
Vista aérea do High Line, em NY, projetado por Diller Scofidio + Renfro. Um exemplo de urbanismo à serviço da cultura e das pessoas (Foto divulgação: Diller Scofidio + Renfro)

O papel da cultura no urbanismo

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18.04.2022
O impacto social dos equipamentos de cultura e lazer nas cidades foi o tema do Fórum Internacional de Arquitetura e Urbanismo 2022
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Pelo sétimo ano consecutivo, a revista PROJETO promoveu, junto à Expo Revestir, o FIAC - Fórum Internacional de Arquitetura e Urbanismo. O evento, historicamente, reúne nomes de destaque da arquitetura mundial, que apresentam assuntos contemporâneos e lições da prática arquitetônica. O papel da cultura na formação de cidades mais acolhedoras foi o mote desta edição.

Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:

Apenas no período recente, passaram pelos palcos do Fórum nomes como Paulo Mendes da Rocha, Toyo Ito, Elizabeth de Portzamparc, Sou Fujimoto, Gustavo Penna, Roberto Loeb, entre tantos outros. Reconhecido internacionalmente como um dos grandes encontros de profissionais ao redor do mundo, o evento promove debates intergeracionais e temáticos. No último evento presencial, antes da pandemia, reunimos um grupo de mulheres arquitetas, firmando nossa posição pela equidade de gênero na arquitetura brasileira (leia mais aqui). Na fase recente de transmissões online, que todos esperam ter sido finalizada, nomes como Isaac Safdie, Sean Sensor, Lara Kaiser e José Bofill passaram pelo palco digital.

Neste ano, propusemos o debate sobre o impacto social dos equipamentos de cultura e lazer nas cidades, com a ilustre presença de Charles Renfro, do aclamado escritório Diller Scofidio + Renfro, responsável por equipamentos culturais e urbanos, audaciosos e inovadores, tais como o Moma e o High Line, em Nova York, o Centro de Música de Londres, entre diversos outras emblemáticas obras que impactam a vida do entorno. Aqueles que tiveram a oportunidade de visitar a cidade americana em tempos recentes puderam captar perfeitamente o papel do parque elevado para as pessoas. Por aqui, ainda engatinhamos com inúmeros projetos que jamais saíram do papel, que poderiam transformar o Minhocão de São Paulo em algo parecido.

Cabine de depoimentos no Museu da Cruz Vermelha, em Genebra, Suíça, projetado por Gringo Cardia, Francis Keré e Shigeru B
Cabine de depoimentos no Museu da Cruz Vermelha, em Genebra, Suíça, projetado por Gringo Cardia, Francis Keré e Shigeru Ban (Foto: MICR/Alain Germond)

Mas foi na conversa que se seguiu, na qual reunimos dois grandes expoentes da arquitetura “cidadã”, que o tema Cultura e Cidade foi melhor abordado. Gringo Cardia, arquiteto multimídia, experiente na concepção de museus e projetos expográficos, se uniu ao arquiteto e urbanista belga Laurent Troost, radicado em Manaus, aonde exerce a profissão e foi também Diretor de Planejamento Urbano, para um papo sobre o poder social da arquitetura voltada à cultura e cidadania.

O Museu do Amanhã faz parte do processo de revitalização da zona portuária carioca
O Museu do Amanhã faz parte do processo de revitalização da zona portuária carioca. Integrado à praça Mauá, recentemente reurbanizada, tem átrio de acesso aberto que funciona como prolongamento do espaço público (Foto: Bernard Miranda Lessa)

Ao implantar uma escola de arte e tecnologia para população carente na região portuária da cidade do Rio de Janeiro, Cardia, que entre diversos projetos de museus desenvolveu junto a Shigeru Ban e Diébédo Francis Kéré a renovação do antigo Museu da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho em Genebra, Suíça, acompanhou de perto toda mudança urbana que ocorreu por aquele local. “Os museus têm atuações culturais muito fortes nas cidades, eles modificam sempre o local aonde são implantados”, disse Cardia.

Quando chegou no porto com seu projeto social, há 22 anos, encontrou a área totalmente deteriorada, mas hoje percebe a cidade crescendo justamente no entorno de sua escola. O "Porto Maravilha" virou cartão postal, assim como ocorreu com seu projeto mais recente, a Cidade da Música, coincidentemente também em região portuária, mas em Salvador, Bahia. A recuperação do edifício histórico, ao lado do Mercado Modelo, tornou-se também equipamento urbano, que já demonstra uma notável mudança no entorno, a geração de mais um ponto de encontro.

Cidade da Música da Bahia, projetada por Gringo Cardia. Um novo hub de encontros na capital baiana
Cidade da Música da Bahia, projetada por Gringo Cardia. Um novo hub de encontros na capital baiana (Foto divulgação: Cidade da Música)

A cultura faz o encontro das pessoas e o encontro das pessoas modifica o espaço

- Gringo Cardia, durante Fórum Internacional de Arquitetura e Construção da Expo Revestir

O Fórum Internacional de Arquitetura e Construção da Expo Revestir
O Fórum Internacional de Arquitetura e Construção da Expo Revestir, que reúne grandes nomes da arquitetura mundial (Foto divulgação: Expo Revestir)

Já Laurent Troost, mestre em arquitetura e urbanismo pelo Institut Supérieur d’Architecture Intercommunal Victor Já Laurent Troost, mestre em arquitetura e urbanismo pelo Institut Supérieur d’Architecture Intercommunal Victor Horta, em Bruxelas, com pós-graduação em Geografia e Cidades pela Escola da Cidade, em São Paulo e que já trabalhou em diversos escritórios importantes antes de firmar-se na cidade manauara – entre eles o OMA de Rem Koolhaas –, possui experiência diversa de Cardia. Sua atuação em urbanismo na Europa sempre visou a criação de cidades ou bairros novos, e não a revitalização de pré-existências.

Segundo declarou durante o Fórum, a experiência europeia tratou-se de desenvolvimento muito mais voltado ao mercado, sem grande importância a equipamentos culturais. Segundo ele, no continente europeu a cultura é muito mais institucionalizada e o desenvolvimento urbano não passa necessariamente pela criação de espaços que incentivem o encontro de ideias. Já por aqui, a cultura popular ainda necessita do espaço urbano, uma vez que não se encontra totalmente dentro dos museus e, quando está, muitas vezes se encontra em espaços aonde seguranças privados cuidam do que deveriam ser espaços públicos. Tampouco há ações que determinem os próximos passos, um plano diretor, após a instalação de equipamentos culturais. “Em Manaus, o Teatro Amazonas foi totalmente recuperado há 20 anos, aproximadamente. Mas não houve esforço além da requalificação do Largo à sua volta. Não há leis que tragam habitações ao local, por exemplo”, disse Troost durante o Fórum.

O Casarão de Inovação Cassina, projetado por Laurent Troost na cidade de Manaus, AM
O Casarão de Inovação Cassina, projetado por Laurent Troost na cidade de Manaus, AM. Mais um exemplo do encontro entre espaços culturais e urbanidade (Foto: Joana França)

Em entrevista recente à PROJETO, Washington Fajardo, arquiteto e urbanista, atual Secretário Municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, comentou o trabalho de busca, justamente, do adensamento do centro da cidade e de localidades com boa infraestrutura instalada (leia a entrevista completa aqui). Além do programa Reviver Centro, que procura trazer moradias de interesse social para a região central, Fajardo cita os novos empreendimentos imobiliários, comerciais e residenciais, justamente na região portuária da cidade, não por acaso incentivados pela volta da ocupação dos espaços públicos em torno dos museus ali instalados, entre diversos outros equipamentos culturais e de mobilidade criados no local durante o ciclo das Olimpíadas, realizadas na capital fluminense em 2016.

A experiência mostra, e o ano eleitoral traz à tona, que a cultura faz parte da cidadania, e que o urbano civilizado se dá por meio de equações, nem sempre perfeitas, mas que sejam existentes, entre oferta de espaços para o saber e o lazer, unidos a uma razoável infraestrutura para que o povo possa desfrutar desses locais.

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