Já vivemos em crise climática. É só observarmos os desastres naturais e, claro, o calor extremo que tem sido recorrente.
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As temperaturas acima da média são resultado de décadas de industrialização acelerada. E também da falta de responsabilidade das empresas sobre os gases de efeito estufa (GEE) emitidos diariamente na atmosfera.
As obras não podem parar, mas cada instituição, empresa e indivíduo pode fazer a sua parte.
A seguir, vamos discutir como a arquitetura pode auxiliar a conter os efeitos da crise climática. Confira:
O que é crise climática?
Crise climática é uma expressão que resume os impactos do aquecimento global no planeta. Principalmente aqueles relacionados às mudanças climáticas.
É um termo que resume todo o impacto que as grandes corporações, sem pensar nas consequências da produção acelerada, vêm causando no mundo.
O planeta já passou por mudanças climáticas de resfriamento durante toda a sua existência. Com o crescimento da atividade humana após as eras industriais, a temperatura média da Terra aumentou de maneira acelerada.
Isso, claro, por conta da emissão de GEE pela fumaça das fábricas, desmatamento, resíduos derramados em locais inadequados, queimadas e produção exagerada de plástico.
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No ano passado, as temperaturas bateram recordes mês a mês. Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) mostram que 2023 foi o ano mais quente do Brasil em 174 anos. Ou seja, desde quando as medições meteorológicas começaram.
Além disso, dos 12 meses do ano, nove tiveram médias mensais acima da média histórica (1991/2020).
A crise climática não ficou apenas no Brasil. Segundo o observatório Copernicus, novembro de 2023 foi o sexto mês consecutivo de recordes de calor na Terra, fazendo do ano o mais quente da história.
Mas o recorde já foi batido. No dia 17 de março, a região de Guaratiba registrou sensação térmica de 62,3º C — a mais alta desde 2014, quando o Sistema Alerta Rio começou a fazer as medições.
Acordo de Paris
Adotado em 2015 e assinado por 195 países, o Acordo de Paris é um documento que funcionaria como uma resposta ao avanço das mudanças climáticas.
As nações participantes se comprometeram a reduzir emissões de GEE para limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Embora ainda preocupante, o aumento em 1,5 ºC não apresentaria níveis tão alarmantes, mas qualquer centésimo acima disso pode provocar tragédias com danos irrecuperáveis.
Relatório da ONU divulgado em novembro de 2023 mostrou que a poluição por aquecimento do planeta em 2030 ainda será 9% maior do que em 2010.
O problema é que o mundo não está cumprindo com sua palavra. Outro relatório da ONU, também do ano passado, indicou que, até 2030, os países querem produzir mais que o dobro do limite de combustíveis fósseis que limitariam o aquecimento em 1,5º C.
Como a arquitetura pode ajudar a combater a crise climática?
O setor de construção civil é um dos mais poluentes do mundo. Dados do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável mostram que o segmento gera 80 milhões de toneladas de resíduos por ano. Além disso, a indústria da construção é responsável por 39% das emissões globais de GEE.
Por isso, cada arquiteto, engenheiro e profissional envolvido num projeto precisa ter ciência de como cada decisão pode impactar o ambiente.
Veja algumas dicas de como a arquitetura pode auxiliar a combater a crise climática:
Avaliação do ambiente
Antes de começar qualquer projeto, é essencial que o arquiteto avalie qual o impacto que aquela construção causará no entorno.
Mas não apenas isso. Também é preciso considerar os impactos da própria construção. Assim, é possível planejar levando em conta todo o ecossistema local, o uso de materiais mais sustentáveis, menos gastos com água e menos produção de resíduos.
Uso de materiais sustentáveis
Do planejamento à construção, a equipe deve dar preferência a materiais:
- Atóxicos: que não são tóxicos ou venenosos. A definição de material atóxico também pode abranger seu desenvolvimento. Ou seja, uma produção sem matérias-primas consideradas tóxicas por sua química;
- Recicláveis: que podem servir de matéria-prima para a construção de novos elementos;
- Reutilizáveis: que podem ser utilizados novamente.
Nesse quesito, a equipe também deve abranger empresas que não utilizam trabalho escravo. O Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) conta com o Cadastro de Empregadores, popularmente conhecido como Lista Suja. O documento enumera todos os empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à escravidão.
Design passivo
Design passivo é aquele que utiliza fontes naturais de aquecimento e refrigeração para que o usuário não precise ligar aparelhos para obter conforto térmico.
Nesse caso, o arquiteto cria um layout capaz de aproveitar a direção dos ventos, a incidência solar e até mesmo onde o sol nasce e se põe para regular a temperatura da residência.
Retrofit
Retrofit é o ato de recuperar construções obsoletas mantendo o design original, mas com adaptações que sigam a legislação vigente.
Dessa forma, um prédio continua com as características arquitetônicas da época de sua construção, mantendo a memória local viva, mas com ideias mais eficientes para sustentabilidade e economia de energia.
Cobogós
Criado em 1929, o cobogó é um elemento vazado inspirado no muxarabi, de origem árabe. Por sua estrutura, é possível criar muros, paredes e divisórias que protegem a casa sem comprometer a circulação de ar.
Antes feito de concreto, o cobogó hoje aparece em madeira, cimento, vidro, acrílico, PVC e até em outros mais sustentáveis, como a cerâmica.
O cobogó Mundaú é um exemplo de cobogó do tipo. A areia é substituída por cascas de sururu, uma espécie de molusco. Toneladas desse resíduo eram despejadas inadequadamente na lagoa Mundaú (AL).
Além de proporcionar mais conforto térmico, o cobogó também atua filtrando e \"redistribuindo\" os raios solares, evitando que eles batam diretamente na edificação.
Energia limpa
A energia limpa é aquela cuja produção não emite nenhum GEE para a atmosfera. Ela é comumente confundida com a energia renovável — produzida com recursos naturais que não são limitados, como sol, vento, chuva, marés e o calor do interior da Terra (energia geotérmica).
A diferença está na poluição. Energias renováveis também podem ser poluentes. Contudo, a maior parte delas também é limpa, como a eólica, a fotovoltaica e a da biomassa.
Revestimentos sustentáveis
A produção de revestimentos também traz impactos, já que exige desde a extração de matérias-primas até a produção em fábricas.
Na Portobello, a prioridade é que toda a cadeia de produção seja sustentável para auxiliar na contenção da crise climática.
Além de a extração de argila ser muito menos danosa, por se limitar às camadas mais superficiais da terra, o design, a produção e até a reciclagem de peças reprovadas são pensados para que o impacto no ambiente seja menor.
Como visto, o setor de arquitetura e construção tem papel fundamental para conter a crise climática.
Isso se dá também no uso de materiais e recursos sustentáveis, que têm impacto consideravelmente menor na emissão de GEE. Nesse contexto, entenda melhor o que é e como adotar a sustentabilidade.