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“O Grande Veleiro”, obra de Bispo do Rosário, em exposição na 55ª edição da Bienal de Veneza (Foto: SunOfErat/Wikimedia Commons)

O que é arte bruta? Conheça a nova tendência do design de interiores

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28.11.2023
Leia o artigo completo para entender o conceito de arte bruta, sua origem e como se expressa a partir de diferentes olhares
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A arte bruta é um conceito criado para abarcar as obras produzidas por pessoas que fogem da lógica tradicional de produção artística.

Isso quer dizer que não possuem formação, não seguem regras e não possuem propósitos comerciais.

É expressão bruta, pura, espontânea.

Quer saber mais sobre essa arte que está virando tendência nos projetos de interiores? Então continue lendo!

O que é arte bruta?

“Arte bruta” se refere ao fazer artístico de pessoas que não integram sistemas tradicionais da arte. Ou seja, que não receberam uma formação específica ou que estão alheias à cultura artística.

As obras de arte bruta são geralmente produzidas por artistas autodidatas, crianças e pessoas à margem da sociedade.

Por não serem educadas formalmente, o trabalho criativo é genuíno, pois se alimenta da imaginação livre. Não há amarras em relação a materiais, técnicas, temas, ritmo.

Todos esses detalhes surgem de uma motivação intrínseca, sem influências externas, sobretudo da arte clássica.

Ao conhecer algumas obras de arte bruta, é comum nos surpreendemos com o seu ineditismo, já que o uso de determinados materiais e técnicas é improvável para a maioria de nós.

A partir dos próprios impulsos e gestos, os artistas criam trabalhos bastante expressivos, puros, livres de qualquer regra.

Leia mais:

De onde veio o conceito de arte bruta?

O termo “arte bruta” foi criado pelo artista Jean Dubuffet no contexto pós-Segunda Guerra Mundial na França. Existe também o termo “Outsider Art”, cunhado posteriormente por Roger Cardinal, usado por muitos como sinônimo para os mesmos princípios.

Na época, o mundo da arte estava começando a perceber a importância de dar voz a artistas de fora dos sistemas tradicionais.

O que Dubuffet passou a chamar de arte bruta era para ele a expressão criativa verdadeiramente autêntica. Afinal, estava livre de padrões estéticos e carregada de emoções.

obra de arte bruta do artista Jean Dubuffet
“Jardin d’émail”, escultura de Jean Dubuffet no jardim do Museu Kröller-Müller, na Holanda (Foto: Gebruiker:Pampiertje/Wikimedia Commons)

Em vez de valorizar o aspecto racional de uma obra, a arte bruta valoriza a subjetividade e a individualidade dos artistas.

Ao mesmo tempo em que questiona o mercado das artes, a arte bruta é conceituada como arte e ocupa espaços em galerias e museus. Portanto, passou a ser legitimada pela sociedade artística tradicional.

Isso fez com que a arte bruta e Dubuffet fossem criticados.

Outro aspecto interessante da arte bruta são as influências da psiquiatria, pela qual Dubuffet era fascinado. Apesar da aproximação entre os dois campos, Dubuffet não enxergava funções terapêuticas ou sociais para a arte, muito pelo contrário.

O que ele valorizava era a expressão pura, a espontaneidade e a subjetividade da arte produzida em hospitais psiquiátricos.

Ao ser usada como meio de avaliação psicológica, os fundamentos brutos dos objetos artísticos são deixados de lado.

Na cidade de Lausanne, na Suíça, está o Museu Collection de l’Art Brut, que reúne mais de 70 mil obras de arte bruta. E grande parte da coleção vem de pacientes de hospitais psiquiátricos, prisioneiros e indivíduos marginalizados.

Presença da arte bruta na decoração contemporânea

A estética imperfeita da arte bruta tem influenciado cada vez mais o universo da arquitetura e do design de interiores. 

Não faltam exemplos de peças criadas sob a influência de uma estética genuína que revela a essência de quem as produziu.

Essa influência está diretamente ligada à macrotendência Inside Out, apontada pelo Trendbook 2023 da Portobello. O foco no essencial tem impulsionado o uso de materiais brutos, processos manuais e união de forma, função e verdade em busca de plenitude.

Confira a seguir algumas inspirações:

decoração com arte bruta
Pia bruta com formato orgânico esculpido manualmente (Projeto: FV Arquitetos | Foto: Amanda Dolôres)
decoração com arte bruta
Para agregar ainda mais à decoração clean, este projeto contou com uma bancada de formas e texturas bastante inusitadas (Projeto: FV Arquitetos | Foto: Amanda Dolôres)
decoração com arte bruta
A mesa de centro em pedra trouxe mais uma camada de significado para este living (Projeto: Juliana Pippi | Foto: Mariana Boro)
decoração com arte bruta
A divisória de pedra, com bordas irregulares, rompe com a lógica das divisórias tradicionais (Projeto: Juliana Pippi/Portobello | Foto: Mariana Boro)

Artistas, iniciativas e obras de arte bruta que você precisa conhecer

Confira a seguir como a arte bruta se expressa a partir de diferentes olhares:

Bispo do Rosário

obra de arte bruta do brasileiro bispo do rosário
Estandarte bordado por Bispo do Rosário (Foto: Zeal Harris)

Um dos grandes nomes da arte bruta no Brasil, Arthur Bispo do Rosário nasceu em Sergipe, em 1909.

Ao longo de sua vida, passou por diferentes trabalhos: boxeador da Marinha, vulcanizador na Light and Power, empregado doméstico.

No final dos anos 1930, Bispo começou a ter episódios de delírio, sendo posteriormente diagnosticado com esquizofrenia.

A doença o fez viver em instituições psiquiátricas por quase 5 décadas.

Por decisão própria, passou 7 anos trancado numa cela para bordar com agulha e linha os escritos de seus estandartes e pedaços de tecido. Ficou muito conhecido pelos bordados feitos com linhas azuis, desfiadas de uniformes antigos dos internos.

Além dos bordados, usou diversos objetos, como papelão, arame, canecas, papelão, pedaços de madeira e tantos outros para criar suas obras.

Durante toda sua vida, foi marginalizado pela sociedade pelos estigmas que carregava: louco, pobre e negro. Mas sua genialidade subverteu essa lógica.

Chamou a atenção não só da mídia como também dos críticos de arte.

Diversas exposições nacionais e internacionais dos trabalhos de Bispo já foram feitas. Considerado um dos expoentes da arte contemporânea, tornou-se reconhecido no mundo inteiro.

O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, é responsável por preservar, conservar e difundir a obra do artista.

Design Brut | Philia & Kids

exemplo de arte bruta feita por crianças
Peças de mobiliário, desenhadas por crianças, feitas a partir do conceito de arte bruta (Foto: TrendBook 2023 Portobello)

A exposição Design Brut | Philia & Kids é uma iniciativa da Galerie Philia em colaboração com o Behaghel Foiny Studio, realizada no Espace Meyer Zagra, em Paris.

Em uma escola no Sudeste da França, os designers Antoine Behaghel e Alexis Foiny pediram para as crianças desenharem peças de mobiliário para que eles as confeccionassem.

Para preservar a essência da criação e a pureza dos traços infantis, as peças foram esculpidas em madeira de oliveira local.

O resultado mostrou a união entre funcionalidade e ausência de limites no campo criativo da arte bruta.

Judith Scott

Obra de Judith Scott
Obra de Judith Scott no Museu de Arte Moderna de São Francisco, nos Estados Unidos (Foto: Rob Corder)

Judith Scott é uma artista internacionalmente reconhecida pelas suas esculturas com linhas.

Nasceu em 1943, com Síndrome de Down. Aos 7 anos, seguindo conselhos de médicos e religiosos, sua família a deixou numa instituição para pessoas com deficiência.

Pela falta de cuidados adequados, ficou surda ainda quando criança. E, sem estímulos, nunca desenvolveu a fala.

Décadas depois, Joyce, irmã gêmea de Judith, a resgata da instituição. Então, passa a fazer parte de um grupo que trabalhava com pessoas com deficiência por meio da arte.

Graças à genialidade de suas esculturas com fios coloridos, Judith ganhou o mundo com mais de 200 esculturas que fez durante 18 anos de sua vida.

Suas obras fazem parte de coleções particulares e de acervos de museus do muito inteiro.

Esses são apenas alguns exemplos de trabalhos de arte bruta feitos por crianças e pessoas que foram marginalizadas pela sociedade.

Além da singularidade das obras, Bispo do Rosário e Judith Scott são artistas que criaram estéticas disruptivas e mostram o poder na arte em suas vidas particulares.

Para o artista Vik Muniz, a “Arte tem a capacidade de tirar você de certas rotinas e trajetórias”. Saiba mais sobre o processo criativo dele!

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