O racismo ambiental é um conceito que existe há algumas décadas, mas que recebe maior atenção diante das injustiças ambientais que afetam cada vez mais as populações vulneráveis e marginalizadas.
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Falta de acesso a serviços básicos, alagamentos, territórios invadidos, rompimento de barragens... Esses são apenas alguns exemplos de situações que esses grupos enfrentam.
Para além das mudanças climáticas, eventos desse tipo acontecem devido à degradação ambiental e à ausência de políticas públicas voltadas às comunidades historicamente mais atingidas pela desigualdade social.
Continue a leitura para entender melhor o que é o racismo ambiental, qual é a sua origem, quais são as consequências e como combatê-lo!
O que é racismo ambiental?
O termo “racismo ambiental” se refere ao processo discriminatório de comunidades historicamente marginalizadas que sofrem de forma desigual com os impactos negativos da degradação ambiental.
Essas injustiças se manifestam não apenas em grandes desastres ambientais.
É possível reconhecer os impactos do racismo ambiental até mesmo no acesso a recursos naturais e serviços ambientais:
- localização de aterros sanitários e lixões próximos a comunidades de baixa renda, formadas, em sua maioria, por pessoas negras;
- falta de acesso à água potável, ausência de saneamento básico e coleta de lixo em comunidades periféricas e rurais;
- poluição do ar em bairros pobres;
Enquanto isso, as populações mais privilegiadas desfrutam de melhores condições de vida possibilitadas pela maior proteção ambiental.
Dessa forma, o racismo ambiental rompe com o mito de que a questão ambiental atinge todas as pessoas igualmente.
Como surgiu o conceito de racismo ambiental?
A origem do conceito de racismo ambiental está ligada ao movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, que se deu entre os anos 1950 e 1960.
Quem cunhou o termo foi o ativista afro-americano Benjamin Franklin Chavis Jr., que foi secretário de Martin Luther King Jr. durante a juventude.
Na época, Chavis Jr. já chamava atenção para o fato de que a população negra norte-americana era a mais afetada pela degradação ambiental.
A ideia também passou a ser reforçada por meio de estudos realizados no mesmo período pelo sociólogo Robert Bullard.
Assim como Chavis Jr., Bullard argumentava que a população negra norte-americana era a mais afetada pelos prejuízos ao meio ambiente, utilizando o conceito de injustiça ambiental.
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Essa realidade ficou evidente na pesquisa de Bullard realizada em Houston, no Texas: pelo menos 14 dos 17 depósitos de resíduos industriais da cidade estavam localizados em bairros negros, sendo que apenas 15% da população era negra.
As pesquisas de Chavis Jr., Bullard e outros pesquisadores criaram as bases para popularizar a questão. Tanto é que, em 1992, foi criada a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que passou a ter um escritório dedicado à injustiça ambiental.
Por se tratar de uma realidade comum em outros países, os termos foram sendo traduzidos para diferentes idiomas e adaptados a diversos contextos.
Quais são os principais exemplos de racismo ambiental no Brasil?
O Brasil é marcado pela desigualdade social, o que faz com que o racismo ambiental se manifeste de diversas maneiras por aqui.
Uma realidade comum nas diferentes regiões do país é a falta de investimento em saneamento básico.
Isso faz com que as comunidades em situação de vulnerabilidade social fiquem expostas a resíduos nocivos à saúde despejados irregularmente.
A falta de acesso à moradia digna e de políticas públicas para resolução do problema também fazem com que as populações periféricas, formadas em sua maioria por pessoas negras, sofram com as tragédias causadas por eventos climáticos extremos.
Não se pode deixar de lembrar ainda da grilagem e exploração de terras habitadas por povos originários e comunidades tradicionais.
Além desses exemplos recorrentes, vale apontar outros graves eventos que expressam o racismo ambiental no Brasil:
- Mariana (MG): rompimento da barragem da mineradora Samarco que destruiu uma cidade próxima, sendo que quase 85% das vítimas imediatas eram negras;
- Brumadinho (MG): outro rompimento de barragem cuja onda de rejeito atingiu uma população formada, em sua maioria, por pessoas negras;
- Belo Monte (PA): construção da usina hidrelétrica que obrigou comunidades indígenas e ribeirinhas a abandonarem as suas terras;
- Território Yanomami (RO/AM): crise sanitária provocada pela invasão de garimpeiros e ausência de programas governamentais.
Quais são as consequências do racismo ambiental?
No caso do Brasil, os impactos do desequilíbrio climático são claramente desiguais. Afetam de forma mais intensa a população negra, quilombola, indígena, ribeirinha e em situação de pobreza.
Esse cenário tem a ver com o próprio passado colonial do país, cuja estrutura social se baseou na escravização de pessoas negras.
Mesmo após o fim da escravidão, a população negra permaneceu invisibilizada, já que não houve medidas de reparação de danos e para garantia de direitos.
Isso se reflete até os dias de hoje. Nos centros urbanos, as populações que vivem em favelas e periferias são historicamente formadas por pessoas negras.
Nesses locais, a falta de estrutura urbana, moradia digna e serviços básicos afeta a vida dos moradores, impactados cada vez mais pela degradação ambiental e pelos efeitos das mudanças climáticas.
Em outros locais, como áreas rurais e territórios ocupados por grupos indígenas e originários, as comunidades também sentem as consequências do racismo ambiental.
Além de terem as suas terras invadidas e, muitas vezes, não demarcadas, precisam lutar diariamente pelo direito à sobrevivência.
Como combater o racismo ambiental?
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que as questões ambientais geram consequências desiguais para as pessoas.
A partir disso, medidas para combater o racismo ambiental precisam ser desenvolvidas e implementadas.
É fundamental que elas envolvam a defesa de direitos humanos e ambientais, além da valorização do conhecimento das comunidades afetadas.
A criação de políticas públicas que considerem as desigualdades sociais, raciais e econômicas não pode ficar de fora do combate ao racismo ambiental.
A arquitetura e o urbanismo podem ser usados como instrumentos para minimizar o problema, como por meio de um planejamento urbano que priorize o bem-estar das pessoas e a preservação ambiental.
Além de moradia digna, é essencial que os cidadãos contem com abastecimento de água, energia elétrica, saneamento básico, coleta de lixo, transporte público etc.
Equipamentos urbanos que ofereçam acesso a saúde, educação, cultura e lazer também são essenciais. Parques e praças ainda proporcionam contato com a natureza.
Parte do processo envolve a promoção da educação e a garantia do direito de participação das comunidades nas tomadas de decisão.
Para isso, as populações mais vulnerabilizadas, em sua maioria negras e pobres, devem estar no centro dessas políticas.
Você sabe o que é racismo estrutural? Leia sobre a importância (senão urgência) de compreender o racismo de forma ampla e contextualizada!