Liberatum Festival celebra diversidade na capital afro das Américas
“Eu sou a diversidade”, disse Pablo Ganguli, organizador do Liberatum Festival, na abertura da mais recente edição do evento, que aconteceu de 3 a 6 de novembro, em Salvador. O festival contou com a participação de Viola Davis, atriz vencedora do Oscar, e de várias outras personalidades brasileiras e internacionais, com o objetivo de promover a inclusão por meio da cultura.
Pablo é originalmente do grupo étnico Bengali, da Índia, e já morou em vários locais do mundo. Em 2001, aos 17 anos, ele fundou a Liberatum, uma organização de diplomacia com a missão de criar um futuro com mais diversidade. O Liberatum Festival é um festival cultural multidisciplinar que celebra a inclusão e já aconteceu na Cidade do México, Istanbul, Marrakesh, São Petersburgo, Hong Kong, Nova Delhi, Berlim, Moscou e Dubai.
Leia mais sobre diversidade:
- Por que a transição capilar é um assunto de toda a sociedade?
- O que é interseccionalidade?
- Lugar de fala: situar para ampliar
Para a primeira edição na América do Sul, foi escolhida Salvador, considerada a capital afro das Américas. O evento contou com a co-realização da Prefeitura de Salvador, que em novembro está celebrando a cultura negra, por ocasião do Dia da Consciência Negra.
Ao longo de três dias, o Liberatum Festival aconteceu em vários pontos da cidade, com programações variadas, entre shows, jantares e fóruns. O Archtrends esteve presente no primeiro dia do fórum de conteúdo, que reuniu mais de mil pessoas no Centro de Convenções de Salvador para ver Viola. Antes dela, no entanto, aconteceram duas outras mesas igualmente interessantes.
Cultura afro
O primeiro talk teve como tema Um vida dedicada à cultura, com a participação de Margareth Menezes, artista e ministra da cultura, e Gil Alves, diretor artístico, com mediação de Camila Apresentação. Margareth contou que seu primeiro contato com as artes foi pelo teatro na escola e afirmou: “A cultura me possibilitou a emancipação do pensamento”.
Gil, por sua vez, relembrou de uma fase de sua vida em que criava todo um espetáculo, mas quem assinava era um diretor branco. Ele contou que precisou entender a potência da criatividade negra para enfim assumir o papel de diretor artístico. “A cultura afro é ancestral. É preciso sempre se cercar de sua história. Cultura é ensinar, agregar e realizar”, disse.
Diversidade queer
Em seguida, um talk sobre música e diversidade LGBTQIAPN+. A linguagem da música promoveu um encontro entre artistas de gerações, culturas e origens diferentes: a americana Debbie Harry, da banda Blondie, e a brasileira Majur, com mediação de Rob Roth. Majur teve falas de incentivo ao público: “O que eu gostaria de dizer à comunidade queer é que desistir não é uma opção”. Rob também abordou o tema: “As artes foram uma escapatória à homofobia e me trouxeram até aqui. Como um jovem queer nos anos 1980, a arte me salvou”.
Em um momento emocionante, Rob chamou a mãe de Majur, a sócio-educadora Luziane Luzia Santos, que assistia tudo da primeira fileira, a subir ao palco. Luziane falou sobre o orgulho que tem da filha e da família, composta por mulheres fortes. “Considerando da onde nós viemos, ninguém espera que a gente esteja aqui, em congressos, nas escolas”, afirmou. “A luta é grande, mas nós temos um elemento de surpresa, que é o amor”, finalizou, com um beijo na filha.
As histórias da afrodiáspora na cultura
Por fim, a grande estrela do dia Viola Davis, atriz vencedora do Oscar, produtora e escritora, participou do talk Afrodiáspora, com Julius Tennon, seu marido, ator e produtor, Melanie Clark, empreendedora criativa, Taís Araújo, atriz e defensora das mulheres negras pela ONU Brasil, e mediação de Maurício Mota.
Viola contou que conquistou uma grande audiência quando estrelou a série de sucesso internacional How to get away with murder. Porém, ainda assim, não tinha noção de sua relevância. “Eu demorei a entender que tudo que me disseram sobre ser uma atriz negra era mentira. Eu havia internalizado as limitações das histórias que as pessoas supostamente querem ver - existe um nome para isso, é opressão internalizada. Pois era comum só contarmos histórias de uma certa parte da população”, contou.
O momento da virada veio durante uma viagem à Itália. “Havia muitas pessoas fora do meu hotel e eu perguntei: ‘o Mick Jagger está hospedado aqui’? Mas não, elas estavam lá por minha causa. Ali começou meu processo de me redefinir. Entendi que quando, como artistas, fazemos algo que é honesto, as pessoas querem nos ver. E isso me empoderou.”
Muito bom o texto, fez um resumo completo do evento