Intervenção urbana: o que é e 5 exemplos dessa manifestação artística
Já ouviu falar sobre intervenção urbana? Esse é o nome dado às manifestações artísticas que impactam a dinâmica das cidades e dialogam com o espaço urbano.
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Mais do que oferecer uma experiência estética, essas intervenções chamam atenção para questões importantes do nosso tempo.
Com criatividade, artistas do mundo inteiro transformam espaços públicos e convidam as pessoas a despertarem o senso crítico.
Quer saber mais sobre o assunto? Então continue lendo!
O que é intervenção urbana?
“Intervenção urbana” é o termo usado para se referir às manifestações artísticas feitas nas grandes cidades.
Em vez de ocupar museus e galerias, as intervenções urbanas usam o espaço público para se expressar visualmente ou por meio de outras linguagens, como a música e o teatro.
Por conta disso, as obras interagem com o ambiente, chamando a atenção de quem passa por elas.
Mais do que deixar as cidades mais bonitas, as intervenções urbanas instigam as pessoas a refletirem sobre questões estéticas, sociais, culturais e políticas contemporâneas.
A escolha por se expressar em lugares públicos também está ligada a críticas por parte de muitos artistas em relação às restrições em espaços tradicionais de exposição de arte.
Assim, a partir do momento em que a arte está literalmente na rua, passa a ser acessada por toda e qualquer pessoa. E gera um impacto significativo na paisagem urbana.
Quais são os tipos de intervenção urbana?
Quando o assunto é arte urbana, logo pensamos nos grafites que conferem vida aos muros e prédios das cidades, não é mesmo?
Afinal, esse tipo de pintura produz um forte impacto visual e foi bastante disseminado ao longo das últimas décadas pelo mundo inteiro. Ou seja, estamos mais familiarizados com o grafite.
No entanto, fique sabendo que existem outros tipos de intervenção urbana, de diferentes portes e com diversas linguagens.
Caminhando pelas ruas da cidade, quantas vezes você não se deparou com um poste ou uma placa cheios de adesivos colados? Não por acaso, já se tornaram parte do visual urbano no mundo inteiro.
Há também os famosos lambe-lambes, uma espécie de cartaz fixado com cola artesanal em muros, postes, lixeiras, entre outros mobiliários urbanos.
Por serem impressos e, portanto, fáceis de serem replicados, costumam ser colados em série, ocupando espaços inteiros de muros vazios.
Ainda no campo visual, estão as intervenções urbanas que envolvem a instalação de objetos e uso de diferentes técnicas para transformar o espaço. Mais para frente, você poderá entender melhor do que se tratam com os exemplos que serão apresentados.
Não podemos deixar de falar também sobre as outras linguagens artísticas, como a música e o teatro, que podem ser usados para intervir no ambiente urbano.
Um ótimo exemplo é o “flash mob” — mobilização rápida, em português. Um grupo de pessoas se organiza para fazer uma ação comum, envolvendo dança, música e encenações, em praças, ruas, estações de metrô, etc.
No flash mob, o grupo faz uma apresentação atípica, que logo se dispersa, como se nada tivesse acontecido. Ou seja, abandona a lógica de uma apresentação tradicional.
Conheça as principais características de uma intervenção urbana
Talvez você já tenha algumas pistas de quais são as características mais marcantes de uma intervenção urbana.
A seguir, vamos falar sobre as principais delas para entender melhor os impactos dessas manifestações artísticas:
Percepção do espaço urbano
Nas grandes cidades, o dia a dia da população é bastante agitado. Na correria entre casa e trabalho, pouca atenção costuma ser dada ao que está ao redor.
Nesse sentido, a intervenção urbana convida as pessoas a perceberem o cenário por meio de experiências estéticas.
Portanto, nem que seja por alguns minutos, as retira do automático e da objetividade funcional. E, acima de tudo, insere a arte no cotidiano.
Crítica ou reflexão
Além de transformar o dia a dia, a intervenção urbana carrega mensagens importantes, tendo um caráter crítico em torno de questões que afetam a vida das pessoas.
E o intuito é justamente provocar uma reflexão.
A presença de obra de arte na rua, na praça ou no metrô, por exemplo, é uma oportunidade única de colocar as pessoas em contato com problemas que recebem pouca visibilidade.
Efemeridade
Seja qual for o tipo de manifestação, o que as intervenções urbanas têm em comum é a efemeridade. Ou seja, são temporárias, transitórias.
Diferentemente das obras conservadas em galerias e museus, as obras de arte urbana ficam expostas e, portanto, sujeitas às intempéries e passagem do tempo.
Já no caso das apresentações de teatro e dança, o caráter efêmero é ainda mais nítido, uma vez que a intervenção começa e acaba num curto período de tempo.
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Então, qual é o objetivo de uma intervenção urbana?
Cada manifestação carrega uma mensagem própria. Entretanto, todas as intervenções possuem objetivos em comum.
Um deles é a expansão dos conceitos de arte, que extrapolam os limites das obras convencionais. Assim, retoma o questionamento do que é arte e incita o público a participar da discussão.
Outro ponto interessante é muitas intervenções serem feitas para chamar atenção para um problema social. Trata-se de uma forma de lembrar a população de que determinados problemas existem, além de cobrar soluções do poder público.
Esse aspecto tem a ver com a própria origem da intervenção urbana.
No Brasil, as manifestações artísticas em espaços públicos surgiram durante a Ditadura Militar, entre 1964 e 1985. A arte era usada como uma forma de resistência e protesto diante dos governos autoritários.
Nas décadas seguintes, a intervenção urbana se expandiu e diversos artistas começaram a colocar em evidência diversas demandas sociais. Tanto é que nos anos 1990, coletivos de artistas começaram a surgir em várias cidades do país.
Até hoje a arte de rua carrega consigo esse propósito, que vai além da experiência estética da obra em si.
5 exemplos de intervenção urbana que se destacaram pelo mundo
Veja a seguir alguns projetos no Brasil e em outros países que se tornaram símbolos da arte urbana:
1. Mais amor por favor
Em São Paulo, o coletivo “Mais amor por favor”, nascido em 2009, espalha lambe-lambes pela metrópole para tentar despertar a atenção das pessoas para o amor.
A proposta surgiu diante da agressividade, indiferença e velocidade da capital paulista. E foi nos muros e paredes de espaços públicos que o grupo encontrou uma maneira de transmitir essa mensagem.
2. Curativos Urbanos
O projeto “Curativos Urbanos” coloca em evidência os buracos em ruas e calçadas mal cuidadas das cidades.
Para isso, colam adesivo em formato de band-aid sobre os buracos, como uma espécie de curativo, deixando os buracos mais evidentes para evitar que as pessoas se machuquem.
Além de chamar atenção para o risco de acidentes e quedas de pedestres, a intervenção urbana ajuda a demandar da prefeitura os reparos necessários.
Criado por arquitetos na cidade de São Paulo, o projeto já passou por outras cidades do Brasil e até da Itália.
3. Cow Parade
O CowParade é o maior evento de arte a céu aberto do mundo. Desde 1999, já passou por dezenas de cidades do planeta, inclusive no Brasil.
Tem como principal objetivo democratizar a arte por meio da inclusão cultural.
Uma escultura de vaca em fibra de vidro e tamanho natural é entregue para os artistas selecionados pintarem. Depois, são espalhadas pelas ruas, que funcionam como um espaço de exposição acessível para todas as pessoas.
4. Yarn bombing
“Yarn bombing” é um termo em inglês que significa “bombardeio de fios”. Esse tipo de intervenção artística se popularizou mundo afora, conferindo cor para as ruas das cidades.
É um trabalho artesanal que utiliza técnicas de crochê para criar adornos para árvores, pontes, estátuas, hidrantes, bancos e para o que a criatividade permitir.
5. Rubber Duck
O artista holandês Florentijn Hofman ficou conhecido por criar esculturas gigantes e colocá-las sobre lugares inusitados em cidades por todo o mundo.
Além do projeto “Rubber Duck”, em português pato de borracha, o artista já criou outras obras gigantes que ficaram bastante famosas, como o “HippopoThames”, um hipopótamo de 21 metros colocado no Rio Tâmisa, em Londres.
Esses exemplos mostram como a arte, por meio da intervenção urbana, está ligada ao urbanismo, uma vez que transforma os espaços públicos.
Quer saber mais sobre o urbanismo? Leia o artigo para conhecer a técnica de projetar e construir cidades!