Issa Diabaté: construindo o tecido urbano africano
Natural de Abidjan, na Costa do Marfim, Issa Diabaté é um dos arquitetos da nova geração que revoluciona a maneira de olhar e entender a arquitetura africana.
Co-fundador da Koffi & Diabaté Architects, fundada em 2001, ele busca soluções para o rápido crescimento populacional e seus efeitos no planejamento urbano.
Com alguns prêmios no bolso, o arquiteto palestra em todo o mundo, abordando temas atuais como mobilidade urbana e fatores sociais, além de pontos a respeito de sua própria carreira.
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A história de Issa Diabaté
Issa Diabaté é filho de Henriette Dagri Diabaté e Lamine Diabaté, dois nomes fortes na política e na economia da Costa do Marfim.
Ele se graduou e fez mestrado em Arquitetura pela Universidade de Yale. De 1991 a 1993, estagiou em importantes escritórios na Costa do Marfim (Goly Kouassi), nos Estados Unidos (Devrouax e Purnell) e na França (Jean Nouvel et Catani), onde participou do concurso Cité Judiciaire de Nantes.
No entanto, antes de se graduar, Diabaté teve que enfrentar o ceticismo dos pais. Em uma entrevista ao site português Expresso, o arquiteto explicou que começou estudos em Finanças nos Estados Unidos por pressão deles, que diziam ser muito complicado praticar arquitetura em um país africano.
Contudo, no terceiro ano, ele percebeu que não estava feliz. Assim, mudou o rumo da sua vida, enveredando para o que ele sempre amou fazer — já que iniciou sua “carreira” estagiando aos 13 anos no escritório de um amigo de seu pai.
Apesar da bagagem adquirida nos Estados Unidos, Diabaté não tinha certeza de como encontraria o mercado em seu país de origem. Foi nesse momento que passou a estagiar com Guillaume Koffi, que mais tarde se tornou seu sócio.
A parceria começou em 1994, com Diabaté ainda como estagiário. Na sequência, ele foi nomeado Gerente de Projetos de Arquitetura e, um ano depois, em 2001, se tornou co-fundador da Koffi & Diabaté.
Diabaté teve que adaptar a prática da arquitetura à realidade local. Não apenas no sentido da adaptação às características do ambiente, mas, sobretudo, em termos de propor algo que pudesse evoluir no contexto em diferentes vertentes.
As obras que trazem um novo olhar para a África
Para Issa Diabaté, a arquitetura tem um poder importantíssimo: o de abordar problemas econômicos e sociais locais.
Suas criações estão apoiadas menos na dimensão estética e mais nas questões sociológicas, buscando novas formas de evoluir a cidade, transformar o ambiente, usar a vegetação para resolver situações simples, como a criação de sombras para vidraças expostas, entre outros pontos.
Para o costa-marfinense, o papel do arquiteto vai além da construção. Ele deve ser crítico em relação à direção que a sociedade toma e ser muito criativo sobre as maneiras de seguir.
E isso é muito sentido em seus projetos na África. A escala e a velocidade de desenvolvimento em diferentes países africanos estão em um nível sem precedentes, o que exige dos arquitetos uma abordagem diferente. Os profissionais precisam ser uma fonte de propostas para o governo e para o povo, materializando ideias e visões para alcançar o objetivo final, que é mudar a paisagem urbana.
Em uma entrevista concedida ao site Design Boom, Diabaté explicou a forma como se dá o trabalho em seu escritório. Nele, além da pesquisa formal para conhecer clientes, hábitos e culturas, os sócios investem na prática informal, observando o que acontece ao redor, tanto física quanto sociologicamente.
Nessa observação, eles notaram que a população passa por grandes mudanças, principalmente com a presença marcante da tecnologia. Então, se desejam antecipar a “arquitetura do amanhã”, devem considerar isso e inserir recursos tecnológicos em tudo o que é criado.
Habitação e desenvolvimento urbano
O escritório de arquitetura de Issa Diabaté explora há bastante tempo questões relacionadas à habitação, desenvolvendo novas formas urbanas concebidas como um convite a uma vida diferente, em um ambiente sustentável e adaptado às culturas locais.
Os empreendimentos habitacionais se tornaram marca registrada da dupla costa-marfinense. E isso não é por acaso: para Diabaté, com essas criações é possível focar no ecossistema e propor soluções que impactem toda uma comunidade.
A partir da observação da população local, dos seus desejos e das suas aspirações, os arquitetos começaram a desenvolver novos modelos de habitação, que funcionem no contexto da África contemporânea.
Assinie-Mafia
Assinie-Mafia é uma cidade costeira do sudeste da Costa do Marfim, localizada a cerca de 80 km de Abidjan e palco de um projeto urbano de destaque de Issa Diabaté e seu sócio. Ela funcionou como um grande laboratório de experimentos para os arquitetos, que puderam testar várias ideias.
Por exemplo, em relação à sustentabilidade e ao uso de materiais locais, visando atingir o desempenho climático. Para isso, além de tecnologias verdes, foram empregadas soluções relacionadas à ventilação e à iluminação naturais.
Outro ponto foi a experimentação social de reunir as pessoas para trabalhar, criando um ambiente urbano unificado.
Em meados da década de 1990, eles projetaram um modelo paisagístico simples para a entrada de uma casa que haviam construído. Os moradores gostaram tanto que começaram a fazer igual em suas casas e, hoje, quase todos têm um jardim. Isso faz parecer que foi resultado de um planejamento urbano formal, mas não foi.
A lição aprendida foi a do papel do arquiteto de mostrar o caminho que as pessoas podem seguir. Então, a partir disso, elas tendem a acatar essa orientação, construindo um novo ambiente urbano.
Les Résidences Chocolat
Esse é outro empreendimento do escritório de Issa Diabaté. Trata-se de um conjunto residencial de alto padrão criado em 2013, com 14 sobrados e 18 apartamentos, totalizando 32 unidades por hectare.
O projeto é mais voltado à classe média, criando um modelo em termos de aspiração e estilo de vida, em que as pessoas passam a dividir questões como jardinagem, segurança, energia etc. Tudo isso mostra que elas podem viver melhor juntas do que separadas, reduzindo a dependência dos automóveis e introduzindo uma nova abordagem da mobilidade urbana.
Essa mesma inspiração foi levada para o Aldeia Abatta, um composto de uso misto com 226 unidades, com moradias, escritórios e um centro desportivo com piscina e ginásio. A proposta é que uma pessoa consiga morar e trabalhar nesse ambiente, sem ter que usar o carro. O projeto estimula o compartilhamento dos espaços comuns, modificando a visão sobre o todo.
Nos empreendimentos urbanos, a ideia é “retirar” os portões dos condomínios fechados e criar ambientes nos quais todos possam viver com bem-estar, aumentando a sensação de pertencimento e também transformando a forma de desenvolver novas áreas urbanas.
Móveis Överallt
Em 2019, a Ikea se uniu aos principais nomes do design africano para criar uma coleção de móveis, com produtos criativos que fazem referência às paisagens do continente. O projeto foi uma parceria com a Design Indaba, que ficou incumbida de escolher os profissionais.
Issa Diabaté contribuiu projetando uma cadeira simples, que reflete a abordagem africana de viver ao ar livre. Ela é produzida em apenas uma folha de madeira compensada e foi projetada para ser personalizada de acordo com as necessidades do usuário.
A peça foi incluída no top 10 dos designs de móveis da Deezen de 2019.
Os principais prêmios
O trabalho de Issa Diabaté não passa despercebido pelo universo da arquitetura, já que o costa-marfinense conta com vários prêmios em sua carreira.
Hoje, ele é membro da Ordem dos Arquitetos da Costa do Marfim (CNOA). Também foi nomeado Cavaleiro do Mérito Cultural e laureado pela Bienal de Arte Contemporânea DAK’ART, do Senegal, em 1998.
Em 2018, o seu projeto “Ginásio da Escola Secundária Blaise Pascal” foi premiado no Festival Mundial de Arquitetura como o melhor edifício da categoria esporte.
O arquiteto tem uma participação cada vez mais frequente em congressos e eventos de universidades, incluindo o Design Indaba, a Universidade do Porto e a Universidade de Columbia.
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