Você já parou para pensar na importância de um simples pântano ou mangue para a preservação da natureza? Apesar de aparentemente serem apenas poças d'água, formam um sistema de filtragem tão complexo que são copiados pelo homem para a limpeza de efluentes — são as chamadas wetlands artificiais.
Nunca ouviu falar nesse termo? Apesar de não muito populares no Brasil, as wetlands são sistemas alternativos e sustentáveis de tratamento de esgoto adotados e aprovados mundo afora.
Saiba mais a seguir como elas funcionam.
O que são wetlands?
Wetland é uma palavra composta de origem no inglês, em que wet significa molhado e land significa terra, ou seja, "terra molhada".
Wetlands são sistemas projetados para formarem lagoas ou canais rasos que abrigam plantas aquáticas.
Mas também existem as wetlands naturais, como pântanos, manguezais e banhados (poças). Também podem ser chamadas de zonas úmidas construídas (quando artificiais).
Apesar de formar uma tecnologia já usada e consagrada no mundo inteiro, as wetlands artificiais para o tratamento de efluentes ainda são pouco exploradas no Brasil.
Segundo o site Wetlands Brasil, apenas na França há mais de 3,5 mil estações para tratamento de esgoto doméstico de pequenas cidades e comunidades.
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Como as wetlands funcionam?
A criação de wetlands oferece vários benefícios. A principal é fazer a gestão de recursos hídricos tratando a água contaminada.
Resumindo, ela trata efluentes industriais e água cinza (efluente não industrial contaminado com processos domésticos), além de fazer o escoamento de águas pluviais.
Para isso, o sistema projetado tenta emular as características de um pântano, por exemplo, para fazer esse tratamento. Todo seu mecanismo ecológico é controlado por recursos das engenharias civil e sanitária.
Além disso, uma wetland atua como biofiltro, removendo uma série de impurezas:
- Patógenos, como vírus, bactérias, protozoários e helmintos;
- Matéria orgânica;
- Metais pesados;
- Patógenos;
- Nutrientes.
A retirada de patógenos, porém, obedece até um certo limite. Portanto, quando a água está com alto nível de poluentes sólidos ou matéria orgânica, é recomendado que ela passe pelo tratamento primário de esgoto.
São as plantas que fazem o tratamento?
Apesar de chamar a atenção em um sistema artificial, não é a planta quem faz o tratamento de água em uma wetland. É a microbiota desenvolvida naturalmente no ambiente que vai fazer esse serviço.
Afinal, mesmo sendo um sistema projetado, todos os recursos ali colocados têm o objetivo de desenvolver esse conjunto de microrganismos capazes de despoluir efluentes.
Quais os tipos de wetlands?
Além das naturais e das artificiais, as wetlands também são classificadas pelo seu nível de profundidade.
Wetland de fluxo superficial
Geralmente conta com áreas em que a água está aparente e a vegetação é composta por macrófitas flutuantes e/ou emergentes.
É na superfície dessas plantas que toda a microbiota se desenvolve, formando biofilmes. A água contaminada que passa por esse sistema é tratada por meio dos processos de:
- Sedimentação;
- Filtração;
- Oxidação;
- Redução;
- Adsorção;
- Precipitação.
A wetland de fluxo superficial é a que mais se assemelha a um sistema natural. Por isso mesmo, tem mais probabilidade de atrair animais no geral, como insetos, moluscos, peixes, anfíbios, aves e mamíferos.
A aplicação desse sistema, portanto, é voltada ao tratamento avançado de águas advindas de lagoas, filtros biológicos percoladores e lodos ativados, por exemplo.
Vertical de fluxo subsuperficial
Semelhante aos filtros intermitentes de areia, na wetland vertical de fluxo subsuperficial, o efluente passa ao fundo do leito de areia ou pedras.
O leito, por sua vez, é coberto com macrófitas emergentes (plantas aquáticas cujas folhas podem estar acima do nível da água).
Aqui, o esgoto não precisa passar pelo tratamento primário. Portanto, é comum que esse efluente venha apenas de tratamento preliminar.
Horizontal de fluxo subsuperficial
É projetada para que o efluente se mantenha no nível abaixo do terreno. A filtragem é feita enquanto ele percorre pelo meio filtrante — que pode ser formado por britas, pedras, cascalhos, areia ou solo — e pelos rizomas e raízes de macrófitas emergentes.
Embora seja um sistema mais caro que o sistema de fluxo superficial — pois necessita de um material de enchimento para servir como suporte —, a wetland horizontal é ainda mais em conta que as alternativas convencionais.
Além disso, é um sistema comum e eficiente no tratamento secundário em residências unifamiliares ou de pequenas comunidades.
A wetland horizontal de fluxo subsuperficial também pode ser aplicada como pós-tratamento de fossas sépticas ou fossas-filtro e no tratamento de águas residuárias de origem industrial.
Sistema híbrido
É a combinação de diferentes sistemas de wetlands para a melhor filtragem de um tipo específico de efluente. O mais comum é que seja feita a soma dos sistemas horizontal e vertical.
Onde as wetlands devem ser construídas?
As wetlands são sistemas que não contam com o uso de elementos eletrônicos em seus reatores nem produtos químicos para o tratamento da água.
Todo o processo é feito naturalmente, com o desenvolvimento do biofilme nas superfícies por onde ela percorre. Serão esses microrganismos que vão degradar, por meio de sistemas químicos, físicos e biológicos, essa matéria orgânica complexa.
Porém, elas precisam de espaço para tratar uma quantidade considerável desse efluente.
Apesar da dimensão de uma wetland estar atrelada ao projeto, em média é necessário disponibilizar de 1 a 2 m² para cada 160 litros diários de vazão.
Além disso, é preciso prever mais de 40% da área para recursos ao redor, como vias de acesso, tratamento preliminar e estruturas de apoio.
Como visto, a própria natureza se reconstrói. Sistemas naturais são capazes de tratar os efluentes poluídos pelo próprio homem.
Contudo, nem sempre ela é capaz de dar conta de um sistema tão destrutivo e poluente. Daí, cabe à sociedade reproduzir esses sistemas para acelerar essa descontaminação.
As wetlands são fundamentais nesse aspecto. Além de uma limpeza eficaz, elas ainda se transformam em ambientes onde plantas e animais podem se reproduzir.
E para continuar nos assuntos ecologia e sustentabilidade, entenda um pouco mais sobre arquitetura verde.