Vegetação e conforto ambiental
Já mencionamos por aqui a importância da arquitetura na qualidade de vida do ser humano, onde espaços mais saudáveis contribuem para o bem estar físico e emocional. Como parte do meio construído, o paisagismo também traz uma série de benefícios ao nosso dia-a-dia. Nesse texto ampliamos o olhar para a relação entre a edificação e o seu entorno, no contexto urbano. Quando implantados adequadamente, árvores, arbustos e forrações são recursos eficazes para transformar a paisagem, muito além do aspecto visual, promovendo melhora do conforto térmico e da umidade, além de reduzir a poluição sonora e do ar.
O uso de vegetação é uma das estratégias da Arquitetura Bioclimática que parte de um entendimento correto das condições climáticas do local e busca, desde as etapas iniciais do projeto, soluções para o aproveitamento dos recursos naturais e a proteção contra condições desfavoráveis. Somados, arquitetura e paisagismo são capazes de criar um microclima, uma pequena área onde as condições de ventilação, insolação, temperatura e umidade diferem das condições do clima da região.
A vegetação pensada como estratégia bioclimática é muito vantajosa por se tratar de uma técnica de climatização passiva, o que significa que com pouco ou nenhum consumo energético consegue proporcionar condições de temperatura, umidade e qualidade do ar adequadas ao conforto ambiental.
Imagem retirada do livro Manual do Arquiteto Descalço – Johan Van Lengen (2014, p.134)
Ventilação natural, sombreamento, inércia térmica, resfriamento evaporativo e aquecimento solar passivo, são algumas das estratégias bioclimáticas que melhoram o conforto ambiental e reduzem o consumo energético da edificação a medida em que diminuem a necessidade de equipamentos mecânicos para garantir o conforto como: ar condicionado, aquecedores, umidificadores, etc.
Trouxemos algumas soluções projetuais que podem proporcionar conforto térmico e acústico, mesmo em áreas muito abertas, compreendendo a vegetação como um conjunto da edificação. Usando as estratégias adequadas é possível alcançar temperaturas mais amenas em dias mais quentes ou manter o calor das edificações em períodos de inverno.
- BARREIRA ACÚSTICA VEGETAL
A vegetação em geral, se especificada de maneira a criar uma densa camada, ajuda a diminuir os ruídos do entorno, absorvendo, desviando ou refletindo o som indesejado. O mais eficiente é criar uma barreira com diferentes formatos e tamanhos, ou seja, abusar de arbustos e árvores de médio e grande porte no entorno da edificação. Além disso, a barreira vegetal oferece um conforto visual, já que também oculta o gerador de ruídos.
Imagem retirada do livro Vegetação Urbana. Lucia Mascaró (2010, p. 60)
- BARREIRA VEGETAL PARA CONTROLE DA VENTILAÇÃO
Muito cuidado no uso da vegetação para essa situação, já que a implantação inadequada pode gerar uma canalização intensa de ventos ou um fluxo de poeira, por exemplo. O uso da ventilação em conjunto com a vegetação ajuda a controlar a temperatura, entretanto, deve-se levar em consideração as condições climáticas do local (direção dos ventos, umidade e temperatura).
Imagem retirada do livro Manual do Arquiteto Descalço.Johan Van Lengen (2014, p. 135)
Imagem retirada do livro Manual do Arquiteto Descalço.Johan Van Lengen (2014, p. 135)
Imagem retirada do livro Manual do Arquiteto Descalço.Johan Van Lengen (2014, p. 135)
Um conjunto de vegetação de mesmo porte instalado de maneira contínua ao longo de uma avenida, por exemplo, atua na direção e velocidade do ar e, em locais muito frios, essa sensação pode ser extremamente desconfortável. Em áreas muito abertas o uso da vegetação próximo às aberturas da edificação contribuem para canalizar o vento: reforça (diminuição da temperatura) ou ameniza (aumento da temperatura) sua velocidade.
- RESFRIAMENTO EVAPORATIVO
Você já notou uma drástica diminuição de temperatura ao transitar de uma grande área asfaltada para um jardim ou praça? É o que acontece em locais onde existe uma quantidade significativa de vegetação, pois parte do calor é retirado pelas plantas para evapotranspiração, que nada mais é do que um processo de transferência de água para a atmosfera, tanto pela evaporação da água do solo quanto pela transpiração dos vegetais.
Ao implantar jardins verticais em fachadas o processo de evapotranspiração reduz a temperatura que é absorvida pela parede e, consequentemente, ameniza a temperatura interna do ambiente. Outra estratégia é o telhado verde que, com o mesmo processo, retira o calor da cobertura e resfria a superfície da edificação. No inverno, quando a vegetação do tipo caducifolia começa a perder suas folhas, esse sistema permite a passagem de raios solares para aquecer as edificações.
SOMBREAMENTO:
Por último e não menos importante, o sombreamento, onde grandes maciços de vegetação contribuem para criar pequenos microclimas em áreas muito pavimentadas. Além de amenizar a temperatura embaixo da copa das árvores, controla a incidência de raios solares e a iluminação.
Se nas outras opções era possível mesclar o uso de vegetação de diferentes tamanhos, aqui é importante considerar espécies arbóreas de folhagens mais densas. Árvores de folhas caducas, por exemplo, funcionam melhor quando se tem períodos de calor e frio bem definidos, proporcionando sombreamento no verão e permitindo que o sol entre durante o inverno.
Em uma situação mais favorável, a associação do conjunto de árvores com a escolha de uma pavimentação permeável é ainda melhor, garantindo que as temperaturas sejam um pouco mais amenas além das áreas sombreadas.
Imagem retirada do livro Vegetação Urbana. Lucia Mascaró (2010, p. 45-48)
O uso maçante dos termos “sustentabilidade” e “eco” com o objetivo único de marketing agora parecem distantes do seu real fundamento. As estratégias bioclimáticas são a prova de que é possível uma abordagem muito mais realista e eficiente do tema.
A pavimentação de áreas urbanas para ampliação de vias, inserção de áreas de estacionamento e edificações tem como consequência a diminuição das áreas de vegetação, o que contribui de maneira significativa para variação climática das nossas cidades: alterações drásticas na temperatura, com calor ou frio extremos, chuvas desenfreadas, alagamentos e vendavais.
Agora que trouxemos algumas dessas soluções, que tal contribuirmos para que esses termos sejam realmente colocados em prática, com cidades muito mais saudáveis e confortáveis?