Tom Dixon cria cadeira que regenera corais
Qual o futuro do design? Essa é uma pergunta que preocupa muitos profissionais - alguns dirão que será pautado pela inteligência artificial, outros lembrarão da tão falada impressão 3D. Para Tom Dixon, a resposta está longe de produzir novos materiais à base de petróleo, e sim criar outros com o apoio da bioengenharia. O designer esteve no Archtrends Summit 2023, fórum de criatividade organizado pela Portobello e POLI.DESIGN na última terça-feira, 5 de setembro, em São Paulo, e contou destaques de sua trajetória e da mais recente e inovadora empreitada: criar móveis debaixo d'água.
Tom Dixon comemorou os 20 anos da criação de sua marca homônima em 2022, colecionando diversos prêmios - entre eles, o título de membro da Ordem do Império Britânico, honraria cedida pela rainha Elizabeth.
Embora tenha completado duas décadas de marca, sua carreira começou bem antes e não foi nada planejada. Filho de mãe francesa e pai britânico, ele nasceu na Tunísia e se estabeleceu em Londres aos 4 anos de idade. Chegou a estudar seis meses numa escola de artes, mas o apreço pelo design só se intensificou depois de quebrar a perna e ser obrigado a parar de tocar numa banda de funk-disco que já estava ficando famosa no país.
Na folga dos shows, ele aproveitava para se aperfeiçoar na soldagem de objetos usando restos de carrocerias e outros itens em metal que encontrava pelas ruas de Londres. Viu um potencial de negócio no projeto e começou a vender tais itens para pessoas importantes que frequentavam a cena musical. Foi descoberto por Giulio Cappellini, um dos mestres do design italiano, que o convidou para integrar o time. Depois, Dixon ainda passou uma temporada como diretor criativo da Habitat, marca da gigante Ikea, e foi se estabelecendo gradativamente no mercado autoral.
Suas criações foram parar no acervo permanente de museus como o Museu Victoria & Albert, o Museu de Arte Moderna de Nova York e o Centro Georges Pompidou em Paris. A cadeira S é uma de suas peças mais famosas no design de móveis. Na iluminação, segmento bastante forte do estúdio, a luminária Mirror Ball lidera o ranking de peças mais conhecidas e até mesmo replicadas mundo afora.
Em fases mais recentes, o designer tunisiano-britânico vem experimentando novos materiais. Na Semana de Design de Milão de 2022, ele apresentou releituras dos próprios clássicos e esculturas feitas de micélio de cogumelos. Aproveitou a ocasião, sem dar muito destaque, para mostrar uma cadeira que passou uma temporada no oceano.
Dixon se baseou nas pesquisas de Wolf Hartmut Hilbertz, um arquiteto e cientista que descobriu como o aço, ao ser colocado no oceano após uma certa carga elétrica, começa a gerar uma espécie de cimento do mar com o passar dos meses. Esse material vai engrossando cada vez mais, dando lugar a recifes de coral e resgatando a flora e a fauna marinha.
Nesta edição do Archtrends Summit, Dixon contou que deixou uma cadeira de metal por um ano nas Bahamas e já colheu ótimos resultados. Também confessou que no próximo ano promete trazer mais novidades, já que, além das Bahamas, a Austrália também terá um novo local para o experimento.
"Quando um coral recebe uma baixa tensão de eletricidade, cresce muito mais rápido do que em condições normais. Minha intenção é fazer uma instalação muito maior, criar a minha fábrica no fundo do mar ou uma instalação permanente que estará regenerando um grande recife", revelou Dixon.
Agora nos resta aguardar ansiosos pelos próximos passos - e torcer para, quem sabe, ele teste algo semelhante em águas brasileiras.