Natássia Cruz: arquiteta compartilha experiências no podcast Archtrends
A arquiteta Natássia Cruz é um dos grandes nomes da arquitetura do Norte do país. Nascida em Manaus, atualmente ela mora e trabalha no estado de Roraima, onde está à frente do escritório Modullos há quase 20 anos.
A partir das influências nortistas e das referências colhidas em dezenas de viagens pelo mundo, Natássia construiu uma arquitetura que acolhe e conversa com diversos tipos de público.
Em entrevista para o Archtrends Podcast, ela conta mais sobre carreira, a parceria de longa data com a Portobello e a importância de conciliar a vida pessoal com a vida profissional.
Natássia Cruz: carreira e vida pessoal
O incentivo para que Natássia Cruz se tornasse arquiteta começou já dentro de casa. “Quando eu penso na minha vida, dá para notar que a arquitetura sempre esteve presente, desde muito pequena. Esse incentivo começou com meu pai, que é engenheiro civil e também é minha inspiração até hoje”.
Para Cruz, é quase improvável falar de inspiração sem falar sobre as relações com as pessoas. Segundo ela, a inspiração vem do entendimento da história de cada um. “A arquitetura precisa ser humanizada. Ela tem que ser o espelho dessas relações que a gente tem no dia a dia, com a família, com o cliente etc”.
Aliás, família é um assunto muito querido pela arquiteta. Mãe de três filhos, sendo o mais velho com 23 anos, ela garante que, se tem referências para compartilhar, é graças ao dia a dia vivido em casa.
“Família é tudo, é motivadora, inspiradora, nossa base e nosso equilíbrio”. A rotina agitada em casa rendeu até um paralelo divertido com a profissão. “Minha vida é cheia de movimento. Não dizem que arquitetura tem que estar em movimento? Pois é, apliquei muito isso lá em casa”, diz entre risos.
A localização de sua casa também foi uma pauta da conversa. Longe do eixo Sudeste/Centro-Oeste da arquitetura, Natássia frisa que uma das maiores complicações de estar distante é a dificuldade de se locomover para outros estados.
Entretanto, isso não a impede de sempre sair da sua base, em Roraima, para transportar a arquitetura do norte para outros locais - principalmente por causa das particularidades das soluções.
”O clima do Norte é atípico porque não temos as quatro estações definidas. Isso faz com que a gente procure alguns recursos para acabamento que nos dão maior conforto térmico”.
Arquitetura durante a pandemia de COVID-19
Para alguém tão ligada às relações humanas, a pandemia do COVID-19 mostrou para Natássia Cruz um outro lado da profissão. “A gente se alimentava de internet para tudo, né? Foi difícil, eu ainda sou do tipo que gosto de sentar com o cliente, dar uma brifada pessoalmente. Esse contato físico é super importante”.
Além disso, houve o medo de não conseguir manter o escritório, bem como a equipe motivada em uma época de muitas perdas.
Sua origem manauara também a colocou próxima da situação de calamidade pública que o estado viveu durante a pandemia. “Todo mundo sabe o que aconteceu em Manaus [a crise do oxigênio] e como o estado apareceu para o mundo de forma caótica devido à pandemia. Eu sofri muito e tive algumas perdas”.
Com todas essas mudanças dos últimos anos, Natássia percebeu que clientes e profissionais estão mais ansiosos. Para driblar esses momentos, ela diz que é preciso exercitar a “psicologia atrelada à arquitetura”, entendendo as mudanças que acontecem ao nosso redor em relação ao mundo.
Parceria com o Coletivo Criativo e viagens mundo afora
O Coletivo Criativo é uma iniciativa da Portobello que leva profissionais de renome para outros países a fim de desenvolverem novos produtos em parceria com a empresa.
Para Natássia, que já participou de dois coletivos, essa é uma experiência única que une sua paixão por viagens com a criação de novos produtos. “Participar do coletivo é uma experiência incrível. E ainda será porque tenho certeza que tem muita coisa boa pela frente”, brincou.
No primeiro ano, o destino do Coletivo Criativo coincidiu com um país muito desejado pela arquiteta: a Dinamarca. A possibilidade de imergir na cultura local e ter uma troca profunda com arquitetos de todos os cantos do Brasil para discutir o conceito de novos produtos encantou tanto Natássia Cruz que, quando teve a oportunidade de voltar no ano seguinte, não pensou duas vezes.
No outro ano a viagem foi para a Islândia, um destino inusitado para ela. “Eu saí de um mundo verde e fui para um local onde a paisagem é completamente diferente. Com os dias passando eu percebi que meu olhar analista sobre essa paisagem diferente do que eu estava acostumada é que teria relevância na hora de criar um piso ou revestimento”.
A partir dessa vivência profunda - dela e de outros arquitetos - em uma outra cultura, foram extraídas inspirações que resultaram na Mesa Harpa, um sucesso da Portobello.
Para Natássia, estar em contato com outras culturas é uma das suas principais fontes de inspiração. Por isso, ela viaja muito - tanto a trabalho quanto a lazer, e já está confirmada para as duas próximas viagens do Coletivo Criativo, com destino a Doha e Tel Aviv.
Entre os destinos mais queridos está a já citada Dinamarca e a Austrália. “É um país com uma arquitetura linda e exuberante, além de ser um local riquíssimo no sentido de informações e acervos de arquitetura e, principalmente, urbanismo”.
Já na sua wishlist (lista dos desejos) o primeiro lugar ficou com o Japão. “É um local que me chama muita atenção pelo sistema de organização, por isso tenho muita curiosidade”.
Inovação e futuro
Depois de tanto tempo à frente de um escritório, é preciso estar em constante inovação. Para se manter sempre atual, Natássia Cruz viaja, como já foi dito, e nunca parou de estudar - mas isso não significa que seja da maneira convencional.
“Pode ser assistir um podcast, ler um livro, exercitar o poder da observação ao redor. Tudo é estudo!”. Além disso, ela está sempre cercada de jovens profissionais que trazem outro tipo de olhar.
Por fim, a arquiteta foi questionada qual projeto ela ainda quer realizar. “Acho que já realizei tanto na minha vida… Se eu disser que não tenho um projeto em mente, vocês vão acreditar em mim?”
Mas depois de pensar um pouco, ela dá um spolier sobre o seu novo projeto: um hotel ecológico na serra de Roraima. “Foi um projeto que eu almejei muito. O processo de construção, mão de obra, levar material, entender o solo - que é uma região difícil porque teve exploração de garimpo”.
Além de ser uma construção com todas as premissas importantes no universo da arquitetura, também vai ser fundamental para projetar a região para o turismo internacional.
Aproveite e acompanhe também o episódio do podcast Archtrends em que Pedro Andrade fala sobre trabalho, viagens e a relação com a Portobello.