Museu do Ipiranga: arquitetura monumental premiada
Quem conhece São Paulo sabe que a cidade conta com inúmeros espaços de cultura e arte, e os museus são pontos altos nesse cenário. Entre tantas opções, o Museu do Ipiranga se destaca.
Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:
Reinaugurado em 2022, ele abriga muitas peças relacionadas à Independência do Brasil — momento que impulsionou o nascimento desse espaço cultural e educacional tão valioso.
Continue lendo para saber mais sobre o museu, sua arquitetura, seu acervo e muito mais!
Conheça o Museu do Ipiranga
O Museu do Ipiranga é o museu público mais antigo e um dos espaços culturais mais importantes da cidade de São Paulo.
Nomeado Museu Paulista da Universidade de São Paulo, o espaço está localizado no bairro do Ipiranga e faz parte do conjunto arquitetônico do Parque da Independência.
Sua arquitetura monumental é uma das características que mais atraem a atenção dos visitantes — além, claro, de seu acervo com importantes obras de arte, mobiliário e diversos objetos historicamente relevantes.
Leia também:
- Museu Catavento: interatividade e ciência no Palácio das Indústrias
- Arquitetura maia: a dramaticidade das pirâmides escalonadas
- Monumento: uma estrutura arquitetônica comemorativa
História
A inauguração do Museu do Ipiranga aconteceu em 7 de setembro de 1895. A intenção era de que fosse um Museu de História Natural e, de certa forma, demarcasse a proclamação da Independência do Brasil, episódio nebuloso no imaginário popular.
A coleção particular do Coronel Joaquim Sertório formou o primeiro núcleo de seu acervo.
Foi em 1922, época do Centenário da Independência, que a instituição reforçou seu papel histórico, criando novos acervos. A parte interna do edifício foi decorada com pinturas e esculturas que narram a história do Brasil.
O museu funciona como um órgão da Universidade de São Paulo desde 1963. Por isso, além de exposições, realiza diversas atividades de pesquisa, ensino e extensão.
Até ser fechado para reformas, em 2013, o Museu do Ipiranga abrigava mais de 125 mil itens — incluindo objetos, iconografia e documentos — que ajudam a compreender a história paulista e de toda a sociedade brasileira.
Arquitetura monumental do século XIX
A ideia de construir um edifício no local onde ocorreu o evento da Independência do Brasil existia desde seu acontecimento.
Porém, o projeto só começou a ser desenvolvido em 1884, com a contratação do arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi. Um ano depois, a construção começou em conjunto com diversos elementos decorativos.
Apesar da inspiração renascentista, o estilo arquitetônico do Museu do Ipiranga é considerado eclético tanto pela configuração arquitetônica quanto pelas técnicas construtivas.
O uso da alvenaria, com tijolos cerâmicos, se destacou em uma época em que as construções eram de taipa de pilão.
As técnicas coloniais tradicionais, porém, foram utilizadas nas estruturas de madeira, pedra argamassada e paredes de tabique. Grandes arcos, pé-direito de seis metros e abóbadas de tijolos de barro marcam a estética do Museu.
Essa arquitetura eclética também está presente na integração com o conjunto do Parque da Independência. O Salão Nobre, que marca o centro do edifício, está em simetria com o Monumento da Independência e a avenida Dom Pedro I.
A configuração é reflexo dos modelos urbanísticos criados em Paris no século XVIII e levados para outras partes do mundo nos séculos seguintes.
A obra do Museu do Ipiranga foi uma verdadeira escola de arquitetura, que depois forneceu mão de obra para diversos projetos na cidade. O resultado disso foi uma construção que passou a ser vista como monumento.
Além dos arcos e colunas cheias de ornamento, o interior se destaca pela elegância das escadarias de mármore, piso de cerâmica, esculturas, grandes pinturas e galerias abertas.
Obras sobre a história de São Paulo
A escadaria do Museu do Ipiranga representa o rio Tietê, de onde partiram os bandeirantes em direção ao interior do país. Ainda é possível observar outros importantes rios representados no corrimão por esferas com águas.
O Museu também conta com estátuas de bandeirantes mostrando as regiões por onde eles passaram. Isso sem falar nas pinturas que narram outros acontecimentos ligados ao ciclo do ouro, à caça aos indígenas e à conquista de outros locais.
No centro do salão principal está a estátua de Dom Pedro I, representado como o herói da Independência do Brasil.
Reabertura em 2022
Mesmo tendo o status de monumento, a estrutura do Museu do Ipiranga foi afetada por infiltrações, que levaram ao seu fechamento em 2013.
As obras de restauração e modernização, porém, só começaram em 2019 — e não foi nada simples. Pelo menos 300 profissionais se uniram para deixar o edifício pronto até o bicentenário da Independência, em setembro de 2022.
Só para reduzir a passagem de calor nas áreas internas, mais de 450 janelas e portas tiveram que ser restauradas e receber vidros especiais.
O projeto foi dividido em diversas etapas:
- Elaboração de Programa de Necessidades;
- Diagnóstico estrutural e das fachadas;
- Concurso público para seleção do projeto arquitetônico e de restauro;
- Estudo preliminar;
- Projetos básico e executivo;
- Licitação e execução da obra;
- Implantação de novas exposições e áreas técnicas.
A obra do Museu também foi pioneira: é o primeiro caso de restauração de patrimônio tombado que inclui uma ampliação. Além de aumentar a parte destinada à visitação, passando de 7 mil para 14 mil m², a obra trouxe:
- Auditório com capacidade para receber 200 pessoas;
- Sala para atendimento do programa educativo;
- Salas de exposições temporárias;
- Loja e café.
A proposta era elevar o Ipiranga ao nível dos grandes museus internacionais.
Hoje, o Museu do Ipiranga tem capacidade para receber mais de 500 mil pessoas ao ano. Porém, já conseguiu se superar: em abril de 2024, cinco meses antes de completar dois anos de sua reabertura, o edifício chegou ao marco de 1 milhão de visitantes.
A média diária, contabilizada pela emissão de ingressos, foi de aproximadamente 2 mil pessoas.
Os espaços que antes eram usados pela administração, biblioteca, reservas de acervo e laboratórios foram transformados em 49 salas abertas para exposição. São 450 mil unidades expostas, incluindo documentos e objetos dos séculos XVII ao XX.
Localizado em frente ao museu, o jardim no estilo francês é muito procurado pelas famílias para fotos, momentos de lazer e práticas esportivas. O Museu se torna não apenas essencial para a cultura, mas parte intrínseca das memórias afetivas dos paulistanos.
Restauração de obras
Por conta da dimensão, algumas obras do acervo não puderam ser retiradas do Museu. Esse é o caso da famosa tela “Independência ou Morte”, de Pedro Américo.
Com 7 metros de comprimento e 4 metros de altura, a obra não passa pelas portas do edifício. Por conta disso, teve que passar pelo processo de restauro no Salão Nobre, onde já estava exposta.
Além dessa, outras obras estão sendo restauradas pelas equipes, seguindo todos os cuidados que esse tipo de trabalho exige. Enquanto algumas precisam de restauro para retirada de manchas, outras demandam um processo para corrigir o envelhecimento da tinta.
Todas as exposições permanentes serão repaginadas e ampliadas para a reabertura ao público. Iluminação, mobiliários e projetos de multimídia também estão sendo renovados.
Desafios
Após a construção em um período turbulento para o país, o museu passou por outros desafios.
Já que o desejo é de não apenas atrair, mas também de fidelizar os visitantes, o Museu deve apresentar questões históricas sob pontos de vistas distintos e, claro, trazer novidades periodicamente.
Nessa diversidade de olhar, atuam os profissionais da USP. Por ser um museu universitário, os professores e pesquisadores da universidade realizam trabalhos com o acervo do Museu do Ipiranga, que resultam em exposições com curadoria especializada.
Além disso, o local conta com um calendário de eventos educativos e culturais, além de visitas guiadas. Por fim, o planejamento estima pelo menos duas exposições temporárias por ano.
Todos as 11 exposições permanentes atualmente no Museu contam com guias educativos que podem ser gratuitamente baixados no site do Museu.
Os materiais foram elaborados para professores, com o objetivo de proporcionar uma experiência mais imersiva durante uma visita com os alunos.
Acessibilidade
O Museu do Ipiranga é para todos. Por isso, a reforma trouxe uma série de alterações para possibilitar a inclusão de pessoas com diferentes tipos de deficiência.
O prédio conta com uma janela para o jardim com altura acessível, três elevadores e duas escadas rolantes que permitem o acesso a todos os pisos abertos ao público em geral.
O visitante pode acessar o mirante, acima do 3º andar, usando uma escada comum ou plataforma elevatória vertical. Há também uma tela tátil que reproduz a paisagem ao redor.
Por fim, estão disponíveis audioguia, audiodescrição, Libras, piso tátil, plantas táteis, recursos voltados para a exploração sensorial, textos com linguagem acessível e apresentação simplificada.
Prêmios
Em 7 de março de 2023, exatos seis meses após a sua reabertura, o Museu do Ipiranga conquistou o prêmio Inclusão e Diversidade.
A vitória foi concedida na primeira edição do Prêmio Raymundo Magliano Filho, apresentado pelo Instituto Norberto Bobbio.
A premiação reconhece trabalhos acadêmicos na área do Direito e projetos e instituições com Selos de Reconhecimento que contribuem para a democracia e ampliação do diálogo com a sociedade.
No dia 20 do mesmo mês, o Museu do Ipiranga ganhou o Selo de Acessibilidade Arquitetônica da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA).
No dia 6 de setembro de 2024, o Museu do Ipiranga venceu o Prêmio PROJETO de Arquitetura, na categoria Institucionais. H+F Arquitetos foi o escritório responsável pelo restauro, modernização e ampliação do museu.
Como visto, o Museu do Ipiranga não apenas foi reformado, mas renasceu — algo já comum em sua existência. E se você mora ou está visitando São Paulo, não perca esse ponto turístico tão importante para a história do Brasil.
Acesse o site do novo Museu do Ipiranga e acompanhe as novidades!
Gostaria de saber o autor deste artigo, está muito bom e adoraria referenciá-lo em um trabalho para meu curso.
Olá,
Que legal, Annie!
Você pode colocar como autor Archtrends Portobello.
Abraços,
Equipe Archtrends
Gostaria de dar uma sugestão: que coloque exposto uma foto com todos os colaboradores que trabalharam na restauração, eles merecem fazer parte deste momento histórico do museu
Olá. Meu nome é Eruza e sou de Fortaleza. Pretendo visitar São Paulo no próximo ano, se Deus quiser. E com certeza o museu do Ipiranga está na minha lista. Deus abençoe à todos envolvidos na reforma do museu. Amo museu 🙂 Amo história 🙂