Cidade-esponja: conheça o conceito e entenda o funcionamento
O conceito de cidade-esponja surge como uma solução baseada na natureza e mostra como podemos parar de lutar com a água nos ambientes urbanos.
Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:
Em vez de investir em grandes barragens e estruturas impermeáveis, a ideia é reservar áreas da cidade para serem inundadas de forma segura, sobretudo durante eventos climáticos extremos.
Com chuvas cada vez mais intensas, vemos o nível da água dos rios e mares subirem em vários países, inclusive no Brasil.
E as consequências são catastróficas, porque as cidades não estão preparadas para lidar com os efeitos das mudanças climáticas.
Continue a leitura deste artigo e descubra por que o conceito de cidade-esponja é uma das melhores saídas para a gestão da água!
O que é uma cidade-esponja?
A cidade-esponja é uma infraestrutura alternativa que emprega um conjunto de estratégias para deixar a cidade mais “esponjosa”.
Ou seja, fazer com que ela se torne capaz de absorver, reter e liberar a água da chuva.
Para isso, a lógica aplicada consiste em fazer com que a água retorne ao seu ciclo natural sem provocar estragos nas cidades, algo bastante comum não apenas no Brasil.
Entre as medidas que garantem espaço e tempo para a água da chuva ser absorvida pelo solo estão, por exemplo:
- retirada de concreto das margens dos rios e recuperação de mata ciliar;
- criação de áreas úmidas e parques alagáveis para escoamento da água;
- uso de “telhados verdes”, que desaceleram o escoamento da chuva;
- adoção de tecnologias de pavimentos permeáveis.
Como funciona uma cidade-esponja?
O responsável por criar o conceito de cidade-esponja foi o arquiteto chinês Kongjian Yu.
Trata-se de uma solução verde adotada pelas cidades inteligentes. Mais do que apenas evitar inundações, uma cidade-esponja também oferece benefícios para os períodos de seca.
Isso porque a água armazenada pode ajudar a manter a vegetação da cidade em boas condições.
Diante dos efeitos das mudanças climáticas e dos eventos extremos, é preciso pensar não apenas nas fortes chuvas, mas também nos longos períodos de seca.
Para Yu, o funcionamento do conceito de cidade-esponja depende de três estratégias principais, que veremos na sequência.
Reter a água
Uma das estratégias da cidade-esponja é reter a água logo que ela toca o solo. Isso requer trocar a pavimentação por áreas permeáveis.
Assim como os orifícios das esponjas, as cidades precisam de lagos e áreas que retenham a água de forma natural ou canos para escoá-la para os rios.
Nesse sentido, as fachadas e os telhados verdes também devem ser usados.
Apesar de parecer inovadora, a lógica remete às tradições de agricultura chinesas. Em áreas cultiváveis, por exemplo, parte das propriedades pode funcionar como sistema de açude, evitando que o restante do terreno seja inundado.
Além disso, essas áreas podem contribuir para a irrigação das plantações durante os períodos de seca.
Leia também:
- Arquitetura verde: uma tendência sustentável
- Sustentabilidade ambiental: o que é e quais os objetivos
- Racismo ambiental: entenda o conceito e veja alguns exemplos
Reduzir a velocidade da água
Depois de coletar a água, a outra estratégia consiste em desacelerar o fluxo.
Para isso, no lugar de canalizar a água em linhas retas, as cidades-esponja contam com vegetação nas margens de rios tortuosos ou várzeas que diminuem a velocidade de escoamento.
É justamente a alta velocidade da água que gera grandes estragos quando fortes chuvas atingem as áreas urbanas.
Essa estratégia oferece outros benefícios para as cidades, como parques e áreas verdes que funcionam de habitat para os animais.
Além disso, quando a água escoa em superfícies com plantas, os poluentes são removidos.
Criar estruturas para escoar e absorver a água
Por fim, a terceira estratégia da cidade-esponja é adaptar as estruturas para criar áreas verdes alagáveis para onde a água da chuva possa escorrer.
Ainda hoje são comuns as barragens cimentadas para acumular água. Entretanto, o conceito criado pelo arquiteto chinês busca soluções mais próximas do natural.
Quando há estruturas naturais alagáveis, a água pode ser armazenada por um tempo — para, então, ser absorvida pelos lençóis freáticos.
Para isso, essas áreas precisam permanecer desocupadas, sem construções.
Essa estratégia também conta com outras soluções, como os jardins de chuva, que armazenam as águas em túneis e tanques subterrâneos. Quando os níveis baixam, a água é direcionada para os rios.
Outra solução que ajuda a gerenciar o alto volume de chuvas é o uso de plantas com boa capacidade de absorção de água.
Embora o homem possa criar sistemas de adaptação às mudanças climáticas, a cidade-esponja se baseia no princípio de que a própria natureza regula a água.
Onde a cidade-esponja já é realidade?
O arquiteto Kongjian Yu ajudou a implementar diversos “parques-esponja” na China.
Um bom exemplo é o Houtan Park, em Xangai, que conta com uma faixa verde de quase 2 km ao longo do rio Huangpu.
Em 2015, foi inaugurado oficialmente um programa nacional chinês que incentiva as cidades a trocarem as suas infraestruturas comuns de concreto, aço e asfalto por soluções verdes para a contenção da água.
Mas saiba que existem outros exemplos fora da China.
O Parque Florestal Benjakitti, em Bangkok, na Tailândia, foi um projeto supervisionado por Yu que resultou em um labirinto de árvores, lagos e pequenas ilhas. Ele foi construído em um local onde funcionava uma indústria de tabaco.
Nova York, nos Estados Unidos, também substituiu uma antiga área industrial por um parque alagável de frente para o mar, o Hunters Point South Park.
Ainda que a maioria não possa ser chamada de cidade-esponja, existem outros exemplos de cidades mundo afora que estão passando a adotar soluções baseadas na natureza para lidar com as chuvas.
E o melhor: elas podem ser adotadas em qualquer lugar do planeta, pois funcionam em qualquer contexto.
Quando se trata das cidades-esponja, o objetivo não é criar outras cidades, mas aproveitar a capacidade que todas têm de se transformar.
Entretanto, isso demanda muito mais do que a adoção de tecnologias verdes. É preciso unir ações de sustentabilidade individuais e coletivas, integradas com as políticas de desenvolvimento urbano.
Portanto, requer o comprometimento de todos, tanto do poder público quanto das empresas e da sociedade civil.
Pensar no futuro das cidades e do planeta é uma necessidade. Saiba como serão os novos espaços urbanos!