Os vilarejos brancos da Andaluzia
A Andaluzia é uma das regiões mais fascinantes da Espanha. Rica em cultura, natureza e gastronomia. É a terra do flamenco, da tourada, do xerez (vinho fortificado), do cavalo andaluz, do carnaval de Cádiz, da Alhambra, da grande mesquita-catedral, da arquitetura mudéjar com forte influência islâmica. Das cidades de Sevilha, Granada, Córdoba e Málaga, dos vilarejos brancos. E, ainda, de grandes nomes como Sêneca, Maimônides, Velasquez, Picasso, Lola Flores, Paco de Lúcia e Rocío Jurado.
Certamente, uma das regiões que mais contribuem com referências culturais na construção da imagem da Espanha como país para o exterior.
Rua em Grazalema, um dos mais bonitos povoados em meio à serra. É dessa região da Serra da Grazalema que um tipo particular de cabra é usada na produção do queijo local, o queijo da cabra payoya. Quem visita Grazalema certamente prova o queso payoyo. (Foto: Alexandre Disaro)
A lista é longa e, por isso, nesta coluna foco apenas nos vilarejos brancos, ou pueblos blancos, em espanhol. Povoados com casas brancas que abraçam montanhas, adentram vales e são até construídos debaixo de pedras, de forma semi-troglodita. Mas afinal, por que esses vilarejos são brancos? Por que visitá-los? Quais vilarejos visitar?
O que são os pueblos blancos
Os pueblos blancos, ou vilarejos brancos, em português, são pequenas cidades espalhadas por diversas províncias da Andaluzia e são uma marca identitária por si só.
A cor branca vem do revestimento das fachadas com cal. Em espanhol, existe até o verbo encalar para se referir ao ato de cobrir de cal, e, consequentemente, os adjetivos encalada e encalado. A origem dos vilarejos inteiramente brancos como vemos hoje é imprecisa, porém a soma de diversos eventos com o decorrer da história é aceita como construção dessa uniformidade visual.
Uma das origens remete à época do Império Romano na Península Ibérica, quando a pintura com cal foi introduzida. Outros acontecimentos históricos importantes foram as sucessivas ondas de epidemias de peste, febre amarela e febre tifóide entre os séculos 14 e 19, que introduziram também a cobertura no interior das casas e igrejas de forma mais incisiva e de ampla adoção - o cal contém propriedades antissépticas e antibacterianas e acreditava-se que, ao pintar com cal, diminuiria-se o contágio.
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Ainda, apesar da arquitetura local incorporar algumas cores, principalmente nos batentes de portas e janelas, com o passar dos séculos se consolidou o uso do branco, que confere um maior conforto térmico para os tórridos dias de verão.
O turismo é o fator mais atual e que também demanda pela continuidade na manutenção dos vilarejos nessa estética.
Fato é que essa equação criou a padronização dos vilarejos como conhecemos hoje e uma das identidades visuais do interior da Andaluzia.
Por que visitar os vilarejos brancos
Muitos povoados são cênicos. Não faltam locais para boas fotos e boa comida.
Além de relaxar, é possível entrar em contato com uma parte importante da história da Espanha. De 711 a 1492, os muçulmanos estiveram presentes na Península Ibérica e a Andaluzia foi a região onde eles permaneceram por mais tempo. A Reconquista, termo histórico que se refere às sucessivas conquistas católicas sob os muçulmanos, que culminou com a queda de Granada em 1492, passou por esta região. Há muitos resquícios que contam essa história. Ruínas de antigos palácios nazaries, arquitetura andaluz, mesquitas que foram destruídas e em cima se ergueram igrejas, medinas que mantiveram seu urbanismo, restos de muralhas que cercavam a cidadela e alcazares (fortalezas) nas partes mais altas dos vilarejos. Uma oportunidade de conferir de perto esse legado arquitetônico e cultural.
Esse passeio pode e deve ser feito com algumas outras cidades maiores como base: Sevilha, Córdoba, Ronda e Granada. Excelentes sugestões que se complementam perfeitamente e dão ainda mais corpo à viagem.
Nos vilarejos, é possível se hospedar em pousadas de charme, comer e beber produtos locais e sazonais, fazer trilhas pelas imediações e visitar monumentos históricos.
Passear pelos pueblos blancos é uma maneira muito gostosa de vivenciar a Andaluzia.
Ah, e prepare-se! O sotaque gaditano (da província de Cádiz) é desafiador para entender!
Quais vilarejos brancos visitar?
Apesar de existir uma rota sugerida com 19 vilarejos, há muitos outros por toda a região. A ruta de los pueblos blancos é o percurso mais percorrido. Essa rota é uma das mais bonitas da Andaluzia e passa por vilarejos de serra compondo uma paisagem linda, principalmente pela belíssima Serra de Grazalema.
Por curiosidade, os 19 vilarejos são: Arcos de la Frontera, Bornos, Espera, Villamartín, Algodonales, El Gastor, Olvera, Torre-Alháquime, Setenil de las Bodegas, Alcalá del Valle, Prado del Rey, El Bosque, Ubrique, Benaocaz, Villaluenga del Rosario, Grazalema, Benamahoma, Zahara de la Sierra e Algar.
Estive em cinco dos mais cênicos (Arcos de la Frontera, Setenil de las Bodegas, Olvera, Grazalema e Zahara de la Sierra), incrementei com outros vilarejos, cidades e parques pelos entornos.
Sendo assim, escolher bem os pueblos a serem visitados é fundamental para um bom proveito. Minha sugestão é selecionar os mais cênicos, levar em conta os dias disponíveis para ficar na região e as cidades onde se pega e devolve o carro. Tendo isso em mente fica fácil traçar um roteiro personalizado.
Importante mencionar que a estética se mantém parecida e os vilarejos são pequenos. É possível visitar de um a dois vilarejos próximos por dia. Se dedicar muito tempo a esse roteiro o passeio pode ficar repetitivo. Sugiro algo em torno de três a oito dias bem selecionados e dinâmicos.
Que surreal ver estas casas trogloditas, é além do imaginário!
Obrigada por compartilhar Alexandre! Você é TOP!
Obrigado pelo carinho Luiza. Incrível, né? Ficamos impressionados em encontrar esse tipo de casa também na Espanha. Ainda mais vindo do sul da Tunísia e tendo visto esse tipo de casa por lá.
Cara Luiza Johnson, troglodita?... de caverna? Putz grila, o dicionário não tinha mais folhas?
Desculpe Pedro Farinha, não quis ofender, e muito menos ser desrespeitosa para ter este estranhamento sendo acusada de não ter um “dicionário com mais páginas”, como Mencionado por você.
Só foi uma uma referência as cavernas, e um termo usado pelo próprio Lufe , que também esteve na viagem e compartilhou conteúdos a respeito usando este termo!
Que olhar, singularidade na percepção maravilhoso.... parabéns.
Sensacional mesmo Yuki! Fiquei impressionada também amigo!
Sensacional mesmo Yuki! Fiquei impressionada também amigo!
Abraço!
Obrigado Yuki. ❤️
Sua descrição nos leva a passear com você por lugares desconhecidos, gracias.
Muito boa matéria, amei.
Seu olhar atento nos leva a passear com você. Parabéns!
Passear pelo olhar do Alexandre é um privilégio. Ele percebe as nuancias de cada lugar , nos transportando assim para dentro da viagem .
É ótimo ter alguém da nossa cultura como guia. Faz repensar roteiros fora dos pacotes padrões, ter ideia de tempo para conhecer, explorar sem enjoar do mais do mesmo. Dicas são muito bem vindas. Com certeza todo aprendizado faz com que abramos a mente e o coração para futuras oportunidades de viagens, e o show em arquitetura, técnicas, projetos, plantas, ornamentos, tradições de culturas numa mistura com o contemporâneo, ou não. Parabéns Alexandre por conseguir transcrever tantos olhares e experiências maravilhosas! Agradecida por mais um artigo show Archtrends.
Amei a reportagem e as fotos são lindissimas
Ola Alexandre, obrigada por compartilhar esses momentos e fatos de viagem! Obrigada
Ĺer os artigos de Alexandre Disaro é se envolver a cada frase, é se encantar a cada foto, é se enriquecer a cada informação. Um cabedal de conteúdo incrível! Parabéns Archtrends por ter Alexandre Disaro em seu time!