Novos hábitos: como a pandemia mudou e mudará as casas
"Algumas pessoas tinham uma ideia equivocada de que as casas eram para receber, e não para viver". Essa constatação é feita pelo arquiteto Gabriel Magalhães, ao ser questionado sobre os novos hábitos que a pandemia de Covid-19 trouxe para os lares.
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Ficar mais em casa se tornou uma necessidade para que o novo coronavírus possa ser controlado pelas autoridades de saúde. Isso faz com que vários comportamentos sejam modificados, com as pessoas adquirindo novas formas de pensar e agir.
Entre os novos hábitos está a mudança nas casas. Para falar sobre esse assunto, convidamos alguns de nossos arquitetos parceiros, que trouxeram as suas opiniões sobre transformações que devem ser observadas nos projetos arquitetônicos em curto e médio prazo.
Também questionamos como eles lidam com a pandemia e os novos hábitos que adquiriram. Acompanhe tudo isso a seguir!
Transformações percebidas pelos arquitetos no desenvolvimento de projetos
É unanimidade entre os arquitetos entrevistados a ideia de que os novos hábitos trazidos pela pandemia fazem com que as pessoas mudem a relação com as suas casas.
Entre as principais solicitações estão melhorias para que os ambientes tragam mais conforto e segurança. Veja, na sequência, as tendências que os profissionais observam.
Criação de chapelarias e cantinhos de higienização no hall de entrada
De acordo com a arquiteta Luisa Correia, "as pessoas estão tendo muito cuidado na questão da entrada, reservando um espacinho para deixar sapatos, roupas mais pesadas, bolsas”. Ter uma chapelaria, portanto, virou uma necessidade.
Esses espaços também podem ter displays com álcool gel 70%. O arquiteto Victor Romansini, por exemplo, transformou o espaço gourmet da sua residência em um local no qual todos que chegam podem fazer a higienização antes de passarem para os outros cômodos do lar.
Mudanças em detalhes da decoração
Com as pessoas passando mais tempo em casa, detalhes que antes passavam despercebidos agora começam a incomodar. Uma decoração antiga, por exemplo, pode não fazer mais sentido hoje e, assim, as pessoas desejam fazer mudanças.
Luisa exemplifica contando o caso de um cliente que tinha um papel de parede em um cômodo de sua casa. Ele enjoou da estampa, e ficar olhando para o desenho por mais tempo fez com que uma mudança fosse solicitada.
Nesse sentido, Victor explica que "a casa, de uma forma geral, precisa se adaptar a quem vive nela. Então, para novos projetos, a mudança vem desde o primeiro pensamento. Nos adaptar a bons hábitos sempre é uma boa escolha, mesmo que tenhamos tido essa experiência em uma época como a de agora".
Ampliação ou criação de um home office
Por estarem passando mais tempo em casa, as pessoas pensam em mudanças que já tinham vontade de fazer antes, mas que não planejavam por falta de tempo.
Luisa, por exemplo, explica que tem muitos clientes fazendo solicitações para a criação ou ampliação de home office, já que foram comunicados pelas empresas que vão passar mais tempo trabalhando em casa.
Até mesmo quem já trabalhava em casa percebe mudanças. É o caso do Victor, que atuava em home office antes da pandemia, mas sentiu que precisava ser mais maleável com os clientes, que ainda não estavam acostumados com essa modalidade.
Já Gabriel não tinha o hábito de trabalhar em casa, tendo, assim, a necessidade de adaptar um espaço que já era um home office, porém oferecia pouca funcionalidade.
“Era uma coisa que eu não tinha o hábito de fazer. Sempre trabalhei no escritório, e ficava até muito tarde lá, dificilmente trazendo trabalho para casa”, comenta ele. Entre as mudanças feitas estão a troca da cadeira e algumas melhorias na iluminação.
Criação de espaços em varandas
As mudanças nas varandas também são mais frequentes, já que esse cômodo serve como espaço de lazer, descanso e contato com a natureza, em épocas em que se precisa passar mais tempo em casa.
Luisa já recebeu solicitações de clientes querendo fazer modificações em suas sacadas, já que passam mais tempo nesse ambiente agora.
"Uma cliente fica muito tempo na varanda e queria trocar o piso, mas sempre deixava para depois. Agora ela pediu para reformar o espaço, que ela gosta muito e nunca priorizou", comenta a arquiteta.
Disposição para morar em casas
A arquiteta Fernanda Calazans observa que a pandemia fez com que as pessoas pensassem mais na possibilidade de morar em casas e não em apartamentos. Esse é mais um dos novos hábitos que estão sendo adquiridos.
De acordo com a profissional, "as casas serão mais valorizadas. Ter uma área verde e ambientes com mais privacidade também. Conviver com os outros integrantes da família 24 horas é um exercício diário, e precisamos preservar a individualidade".
Para ela, "apartamentos ultracompactos deixarão de ser uma opção. Deve crescer a procura por casas mais compartimentadas para garantir a privacidade dos moradores, além de áreas de convívio para pequenos grupos. E as casas serão mais práticas! Acho que a funcionalidade estará acima da estética, sem dúvida. Coisas apenas para ornar deixarão de fazer sentido. Acho e espero que os moradores busquem fazer das casas uma extensão deles mesmos".
Criação de espaços para exercícios físicos
Fernanda comentou também que uma tendência para os próximos anos é a criação de espaços para exercícios físicos em casa. A criação de pequenas academias ou áreas em que se possa praticar atividades desse tipo ao ar livre serão mais buscadas.
Sem a possibilidade de sair tanto para ir à academia ou aos parques, se exercitar em casa virou uma necessidade. As pessoas buscam mais por isso, e a tendência é que continue a acontecer, mesmo em um cenário pós-pandemia.
Presença de arte nas residências
Para Gabriel, mais do que nunca, os lares precisam de arte. Em suas palavras: "não entendo como as pessoas conseguem viver sem arte e design em um momento como esse. Não precisa ser nada caro, mas algo que toque e tire da realidade, que é tão difícil; que traga paz e conforto. Isso é muito importante, e eu espero que as pessoas compreendam melhor".
Preocupação maior com as áreas de serviço
"Senti nos projetos que estou desenvolvendo que há uma preocupação com a área de serviço, para que se tenha um local de desinfecção, de armazenamento de roupas sujas, de sapatos… Todo o trânsito e toda a chegada em casa. Mesmo com o fim da pandemia, os cuidados das pessoas mudarão para sempre", comenta Gabriel.
Além desses cuidados, outros, como higienizar mais as maçanetas e locais de contato e lavar mais as mãos, estão sendo incorporados às nossas rotinas. É bem provável que esses novos hábitos adquiridos sigam nos acompanhando, mesmo depois da pandemia terminar.
Novos hábitos para receber pessoas em casa
Luisa afirma que não está recebendo pessoas em casa nesse momento, mas mudou hábitos para atender os seus clientes. "A gente faz ao máximo as reuniões em vídeo e evita os contatos presenciais. Quando é necessário trabalhar com amostras, elas são higienizadas e enviadas", diz a profissional.
Victor também diz que no momento não recebe a visita de amigos. "Recebemos apenas a família, pois sabemos que eles tomam as mesmas precauções que nós", pondera o profissional, que mora no mesmo prédio que os seus pais e irmão.
Por sua vez, Fernanda não recebe ninguém. Ela nem mesmo sai para fazer compras no supermercado, tendo optado por comprar online e receber tudo. "Os entregadores não entram, então é mais tranquilo manter a limpeza interna", explica. Ela também fez um cronograma de obras e isolamento de 15 dias para conseguir visitar a família sem a preocupação de infectar ninguém.
Gabriel explicou que tem um apartamento mais integrado, o que impossibilita a criação de um espaço reservado para receber pessoas nesse momento. Ele está em isolamento total e não recebe ninguém em casa desde março.
A realidade de Gabriel mostra como será necessário planejar os imóveis de maneira mais compartimentada, possibilitando o reforço das etiquetas de higiene para interagir com as pessoas. Inclusive, para oportunizar o cumprimento dos novos hábitos, o afastamento de móveis, como as cadeiras, é algo que deve ser pensado na decoração de interiores.
Não há dúvida que a pandemia trouxe novos hábitos para a forma como nos relacionamos com as nossas casas, não é mesmo? Isso não significa que os projetos do futuro serão piores ou melhores, mas sim diferentes. A sociedade evolui, necessidades surgem e precisamos nos adaptar a elas para vivermos bem e com mais conforto.
Quer continuar a se reinventar nessa quarentena? Que tal então ler agora o nosso artigo que fala sobre planejamento estratégico para arquitetos e designers?