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Praticidade e consciência ambiental ditarão os novos projetos pós-Covid-19

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27.05.2020
O momento que vivemos demanda muita reflexão e troca de ideias, para tentarmos clarear o horizonte e vislumbrarmos, juntos, os caminhos e respostas trazidas pela pandemia causada pelo covid-19.
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Esta semana completamos exatos dois meses de quarentena no Brasil. São dois meses de isolamento social, dois meses de home office,  dois meses de uma nova relação com a própria casa e uma oportunidade única de questionarmos nosso modo de viver, trabalhar, de estar neste mundo.

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Várias cabeças pensam bem melhor que uma.  Por essa razão, resolvi contatar alguns amigos arquitetos com vasta experiência no Brasil e fora daqui, para entender quais insights eles tiveram, o que perceberam de novo na relação com a casa, como imaginam as futuras demandas dos clientes e, especialmente, como entendem a responsabilidade de sua profissão no mundo pós covid-19.

HOME OFFICE E PRIVACIDADE

Que o home office veio para ficar, não é uma descoberta, mas uma constatação unânime. Este espaço certamente passará a fazer parte dos programas de projetos residenciais.

A questão é que, mesmo nos projetos mais sofisticados, nem todos previam ambientes da casa com a iluminação, tranquilidade e, especialmente, a privacidade necessária para trabalhar. “O home office passará a ser um ambiente a ser dedicado tal qual a sala de estar, com arte e luz natural, um espaço que inspire e acolha, e com o conforto acústico e a privacidade do home theatre, com possibilidade — ou não — de integração com outros cômodos da casa”, declarou Guilherme Torres.

Home office com vista para a mata, projeto de Guilherme Torres

Mas a preocupação com privacidade vai muito além. Fernanda Marques  enfatiza: “nos últimos tempos as áreas sociais se ampliaram e se integraram para agregar os membros da família e amigos. Os clientes não estavam tão preocupados com as áreas intimas, mas sim com as áreas de socialização. Agora, as famílias, especialmente as mais numerosas, vão precisar de mais espaço e privacidade nas áreas intimas, não só para trabalhar, mas estudar, se exercitar e até para relaxar em casa, sem incomodar ou ser incomodado pelos demais moradores ”, reflete.

“As pessoas estão entendendo a casa como um local de maior permanência e isso, certamente, criará novas necessidades, novas demandas”, complementa Arthur Casas.

Sauna úmida privativa , projeto de Fernanda Marques
Sala de jogos, projeto de Leo Shehtman

Na busca da privacidade, Mauricio Arruda alertou que não necessariamente vamos voltar à redivisão dos cômodos da casa como antigamente, com salas de jantar separadas do estar ou da cozinha. “Hoje podemos dividir espaços com materiais que promovem isolamento acústico, como biombos ou nichos, sem precisar criar paredes”, complementa.

Sofá embutido em nicho na parede, promove conforto acústico para se trabalhar na sala – projeto de Fernanda Marques

MINIMALISMO E PRATICIDADE

Outra palavra forte que se mostrou unânime na minha pesquisa foi “praticidade”. A casa pós covid terá que ser prática de limpar e de manter, para facilitar a vida do morador.  Assim, revestimentos como pedras naturais ou porcelanatos, azulejos ou ladrilhos hidráulicos, terão ainda mais força nos interiores.

Guilherme Torres reflete que, mesmo sem se pautar sobre a praticidade em si, seus projetos já previam pisos frios. “Sempre gostei de um único piso na casa toda, e os pisos frios são os únicos que podem estar em todos os ambientes.”

Neste projeto de Guilherme Torres, o mesmo material da piscina reveste o piso das áreas internas
Piso frio na sala intima deste projeto de Leo Shehtman

O minimalismo na decoração é outra tendência que, definitivamente, facilita muito a limpeza. Quanto menos móveis, menos tempo será necessário para a faxina.  “Tenho uma cliente que, para ajudar na limpeza da casa durante a quarentena, comprou um robô que aspira o chão. O robô virou seu melhor amigo!”, brinca Guilherme.

Nessa linha, Arthur Casas é enfático em dizer que “tudo o que é obsoleto ou que não tenha uma funcionalidade clara na casa deve ser eliminado. Precisamos de mais espaço e de mais funcionalidade no dia-a-dia”.

Arthur acredita também que novos espaços e soluções serão implementados para não trazer a sujeira para dentro de casa. “Exemplo disso é o mudroom (ainda não muito popular no Brasil, mas comum na Europa e Estados Unidos). É um lugar separado, projetado na entrada da casa, para acomodar sapatos, mochilas e, eventualmente, casacos, de modo que a parte suja da rua não adentre” explica.

Render de um mudroom, ambiente que passara’ a fazer parte dos projetos de Arthur Casas

DESIGN AUTORAL – E BRASILEIRO

E, se o decor terá menos móveis, indispensável que eles tenham design autoral. Especialmente made in Brasil. São unânimes nessa preocupação  Mauricio, Guilherme, Fernanda e Arthur, todos arquitetos que tem investido em desenhar móveis, complementos e revestimentos para marcas brasileiras, alavancando a qualidade de nossa indústria e abrindo o leque de oportunidades para os consumidores do nosso país.

Estante desenhada por Arthur Casas, poltrona de palha e mesa de madeira maciça de design nacional
Sala de estar de Mauricio Arruda, com sofa vintage de Jean Gillon, poltronas de Willy Guhl, e  mesa  branca e poltrona preta design Mauricio Arruda @lufegomes / @casavoguebrasil)

Leo Shehtman, fã declarado do design nacional, ressalta ainda a importância do conforto das peças de design, para acolher e embelezar a casa: “mais de que nunca será importante focar o investimento dos móveis com formas aconchegantes e tecidos macios e acolhedores. Se vamos ficar mais tempo em casa, que nossos sofás, cadeiras, mesas, escrivaninhas, sejam o mais confortável possível”. Leo acredita que conforto são aspectos que serão tão ou importantes que a estética.

Mas arte e beleza não poderá faltar, jamais.

LUZ NATURAL E INTEGRAÇÃO COM O VERDE

Mauricio Arruda conta que, como quase não parava em casa durante o dia, nunca havia aproveitado o sol que entra pela manhã em sua sala. Mas agora e’ seu lugar preferido.

novos projetos pós-Covid-19
Canto preferido do estar de Mauricio Arruda, onde bate sol pela manhã, foto @lufegome/@casavoguebrasil)

Mais do que nunca, o fator de incidência solar sobre o projeto será decisivo para a definição do programa da casa. Para Guilherme Torres, a luz natural é fundamental não apenas para as áreas sociais, como living, mas também para o espaço de trabalho, seja pelo conforto luminotécnico, seja pela possibilidade de trazer o verde para este ambiente. “ Colocar plantas dentro de casa e no ambiente de trabalho, ou ter vista para a natureza é um dos luxos que busco oferecer a meus clientes”, completa Guilherme.

A mesa de jantar se transformou no home office de  Guilherme Torres, com ampla luz zenital
novos projetos pós-Covid-19
Home office com vista para a mata, projeto de Guilherme Torres

Arthur Casas menciona, ainda, a contratação de um novo especialista em sua equipe, como resultado de suas reflexões durante a pandemia: “deste momento em diante, teremos um consultor de conforto ambiental para todos os nossos projetos, não importa qual seja a escala. Continuarei buscando transformar a casa num local verde, ventilado, confortável e afetivo. Os ambientes precisam ter a função de regenerar nossa alma e também o nosso organismo”.

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Para Carol Bueno, uma das sócias fundadoras do escritório franco-brasileiro Tryptique, as reflexões proporcionadas pelo covid-19 vão além das necessárias escolhas para uma casa mais prática, com mais espaço, mais verde ou mais privacidade.
“Essa pandemia veio gritar na cara de todos os profissionais que também temos que ter mais consciência ambiental em nossos ofícios. E nós, arquitetos, temos grande responsabilidade na cadeia da construção civil”, alerta Carol.

A preocupação com o uso de materiais nacionais e peças fabricadas no Brasil, visando o estímulo da economia local, foi mencionada por todos os entrevistados.

Mas tão importante quanto estimular a indústria brasileira é trabalhar na redução e reciclagem de seus resíduos, na diminuição da pegada de carbono e nas alternativas para  viabilizar uma economia circular.

Tryptique sempre buscou minimizar o impacto ambiental de seus projetos, seja na estrutura, seja nos interiores.  Carol conta sua mais recente experiência com o uso do CLT – cross laminated timber (madeira laminada cruzada), material renovável que substitui o concreto armado na construção de vigas e lajes. “O uso de CLT na Europa tem evoluído muito, já foram concluídos prédios de 8, 12, até 14 andares, inteiramente feitos de madeira. Aqui no Brasil estamos projetando um prédio na Vila Madalena, em São Paulo, que atravessa um quarteirão e tem 7 andares pela entrada da rua de cima e 6 andares pela rua de baixo, totalizando 13 andares,  todo em CLT. Também estamos trabalhando em um projeto misto de CLT com concreto, no bairro Primavera, em Florianópolis”. “O mais interessante do uso do CLT na substituição do concreto é que, além da madeira ser um material renovável, originário de manejo sustentável, ela retém o CO2 no processo de fotossíntese. Portanto, seu uso contribui na diminuição da pegada de carbono da construção civil”, completa Carol.

novos projetos pós-Covid-19
Projeto Floresta Urbana: com colunas e lajes em CLT (madeira laminada cruzada), o prédio atravessa um quarteirão na Vila Madalena, em São Paulo, com um total de 13 andares – projeto assinado  pelo escritório  Tryptique
novos projetos pós-Covid-19
Projeto de prédio com estrutura mista – de CLT e concreto – para o bairro Primavera em Florianópolis – projeto do escritório Tryptique

Fotos de destaque (esquerda para direita): Leo Shehtman;  Guilherme Torres; Fernanda Marques; Carol Bueno; Arthur Casas (Foto: @filippobamberghi); e Mauricio Arruda (Foto: @lufegomes / @casavoguebrasil)

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