Vegetação e conforto ambiental
Já mencionamos por aqui a importância da arquitetura na qualidade de vida do ser humano, onde espaços mais saudáveis contribuem para o bem estar físico e emocional. Como parte do meio construído, o paisagismo também traz uma série de benefícios ao nosso dia-a-dia. Nesse texto ampliamos o olhar para a relação entre a edificação e o seu entorno, no contexto urbano. Quando implantados adequadamente, árvores, arbustos e forrações são recursos eficazes para transformar a paisagem, muito além do aspecto visual, promovendo melhora do conforto térmico e da umidade, além de reduzir a poluição sonora e do ar.
O uso de vegetação é uma das estratégias da Arquitetura Bioclimática que parte de um entendimento correto das condições climáticas do local e busca, desde as etapas iniciais do projeto, soluções para o aproveitamento dos recursos naturais e a proteção contra condições desfavoráveis. Somados, arquitetura e paisagismo são capazes de criar um microclima, uma pequena área onde as condições de ventilação, insolação, temperatura e umidade diferem das condições do clima da região.
A vegetação pensada como estratégia bioclimática é muito vantajosa por se tratar de uma técnica de climatização passiva, o que significa que com pouco ou nenhum consumo energético consegue proporcionar condições de temperatura, umidade e qualidade do ar adequadas ao conforto ambiental.
Ventilação natural, sombreamento, inércia térmica, resfriamento evaporativo e aquecimento solar passivo, são algumas das estratégias bioclimáticas que melhoram o conforto ambiental e reduzem o consumo energético da edificação a medida em que diminuem a necessidade de equipamentos mecânicos para garantir o conforto como: ar condicionado, aquecedores, umidificadores, etc.
Trouxemos algumas soluções projetuais que podem proporcionar conforto térmico e acústico, mesmo em áreas muito abertas, compreendendo a vegetação como um conjunto da edificação. Usando as estratégias adequadas é possível alcançar temperaturas mais amenas em dias mais quentes ou manter o calor das edificações em períodos de inverno.
- BARREIRA ACÚSTICA VEGETAL
A vegetação em geral, se especificada de maneira a criar uma densa camada, ajuda a diminuir os ruídos do entorno, absorvendo, desviando ou refletindo o som indesejado. O mais eficiente é criar uma barreira com diferentes formatos e tamanhos, ou seja, abusar de arbustos e árvores de médio e grande porte no entorno da edificação. Além disso, a barreira vegetal oferece um conforto visual, já que também oculta o gerador de ruídos.
- BARREIRA VEGETAL PARA CONTROLE DA VENTILAÇÃO
Muito cuidado no uso da vegetação para essa situação, já que a implantação inadequada pode gerar uma canalização intensa de ventos ou um fluxo de poeira, por exemplo. O uso da ventilação em conjunto com a vegetação ajuda a controlar a temperatura, entretanto, deve-se levar em consideração as condições climáticas do local (direção dos ventos, umidade e temperatura).
Um conjunto de vegetação de mesmo porte instalado de maneira contínua ao longo de uma avenida, por exemplo, atua na direção e velocidade do ar e, em locais muito frios, essa sensação pode ser extremamente desconfortável. Em áreas muito abertas o uso da vegetação próximo às aberturas da edificação contribuem para canalizar o vento: reforça (diminuição da temperatura) ou ameniza (aumento da temperatura) sua velocidade.
- RESFRIAMENTO EVAPORATIVO
Você já notou uma drástica diminuição de temperatura ao transitar de uma grande área asfaltada para um jardim ou praça? É o que acontece em locais onde existe uma quantidade significativa de vegetação, pois parte do calor é retirado pelas plantas para evapotranspiração, que nada mais é do que um processo de transferência de água para a atmosfera, tanto pela evaporação da água do solo quanto pela transpiração dos vegetais.
Ao implantar jardins verticais em fachadas o processo de evapotranspiração reduz a temperatura que é absorvida pela parede e, consequentemente, ameniza a temperatura interna do ambiente. Outra estratégia é o telhado verde que, com o mesmo processo, retira o calor da cobertura e resfria a superfície da edificação. No inverno, quando a vegetação do tipo caducifolia começa a perder suas folhas, esse sistema permite a passagem de raios solares para aquecer as edificações.
SOMBREAMENTO:
Por último e não menos importante, o sombreamento, onde grandes maciços de vegetação contribuem para criar pequenos microclimas em áreas muito pavimentadas. Além de amenizar a temperatura embaixo da copa das árvores, controla a incidência de raios solares e a iluminação.
Se nas outras opções era possível mesclar o uso de vegetação de diferentes tamanhos, aqui é importante considerar espécies arbóreas de folhagens mais densas. Árvores de folhas caducas, por exemplo, funcionam melhor quando se tem períodos de calor e frio bem definidos, proporcionando sombreamento no verão e permitindo que o sol entre durante o inverno.
Em uma situação mais favorável, a associação do conjunto de árvores com a escolha de uma pavimentação permeável é ainda melhor, garantindo que as temperaturas sejam um pouco mais amenas além das áreas sombreadas.
O uso maçante dos termos “sustentabilidade” e “eco” com o objetivo único de marketing agora parecem distantes do seu real fundamento. As estratégias bioclimáticas são a prova de que é possível uma abordagem muito mais realista e eficiente do tema.
A pavimentação de áreas urbanas para ampliação de vias, inserção de áreas de estacionamento e edificações tem como consequência a diminuição das áreas de vegetação, o que contribui de maneira significativa para variação climática das nossas cidades: alterações drásticas na temperatura, com calor ou frio extremos, chuvas desenfreadas, alagamentos e vendavais.
Agora que trouxemos algumas dessas soluções, que tal contribuirmos para que esses termos sejam realmente colocados em prática, com cidades muito mais saudáveis e confortáveis?