Reciclagem dos revestimentos cerâmicos: economia circular na prática
A construção civil é a responsável por 50% dos resíduos gerados no Brasil. Atualmente, só conseguimos reciclar 21% de todo o volume, sendo que o número poderia ser muito maior. Esses resíduos são bem específicos e têm uma classificação especial conforme resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA 307 Art. 3°). Eles podem ser classe A, B, C e D, e cada classe tem uma destinação adequada: reutilizáveis ou recicláveis (A), recicláveis com fins diferentes (B), não recicláveis (C) e resíduos perigosos (D).
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Reparou que as duas primeiras classificações correspondem aos materiais que podem ser reciclados ou reutilizados? Dentro das classes A e B estão tijolos, telhas, revestimentos cerâmicos, madeira, plástico, argamassa e seus componentes, e nada disso precisa ir pro lixo. Esses itens representam até 90% de todos os resíduos gerados em obras, então as perspectivas de reaproveitamento são enormes!
Isso quer dizer que boa parte do resíduo que é gerado em uma obra tem potencial pra voltar a fazer parte do ciclo produtivo em uma lógica lixo zero. Lembra quando falamos da economia circular? A reciclagem do revestimento cerâmico, por exemplo, é uma aplicação prática da circularidade, mantendo o material dentro da produção, na qual nada se perde e não é preciso extrair mais matéria-prima para fazer produtos novos.
O revestimento cerâmico é um ótimo exemplo pra mostrar como a circularidade funciona: no início de tudo, ele é produzido com uma mistura de argila e outras matérias-primas inorgânicas retiradas de camadas mais superficiais do solo que os outros materiais naturais, e isso caracteriza uma extração regenerativa, porque as jazidas se recuperam naturalmente. Depois de ser transformado em produto e chegar ao fim do ciclo de uso, o revestimento cerâmico pode ser quebrado, transformado em pó e 100% reincorporado à produção para virar produtos similares ou insumos para outros materiais da construção civil.
Esse ciclo virtuoso onde nada vai “fora” e tudo serve como material para um produto novo é a base da economia circular, que se inspira na natureza para eliminar o conceito de lixo. Nesse vídeo da série Mares Limpos a Fe Cortez, ativista ambiental e criadora da Menos1Lixo, fala um pouco mais desse conceito que é tão inspirador!
A Portobello tem o exemplo na prática de como funciona esse sistema de reaproveitamento e reciclagem da cerâmica. A empresa ainda usa a tecnologia para dar uma turbinada na sustentabilidade: o revestimento cerâmico é produzido com energia limpa e circuito fechado de água.
Estamos acostumados a pensar em momentos do dia a dia quando o assunto é redução de lixo e reaproveitamento integral dos resíduos, mas na verdade, essa lente precisa ser usada para qualquer área. Pensa com a gente: se a construção, que é uma indústria tão geradora de lixo, olhasse com cuidado pro potencial circular de boa parte do resíduo, o tamanho da mudança e do impacto positivo seria imenso.
Então fica nossa dica: seja no cotidiano, seja na hora de fazer uma reforma em casa, seja na hora de pensar num projeto, lembre-se de fazer esse exercício de colocar a circularidade em pauta sempre que possível.
Por Luísa Saldanha - @saldanhitos