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Pavilhão do Brasil revela ancestralidade por meio da Terra (Foto: Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)

Por dentro do Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2023

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24.04.2023
Com curadoria de Gabriela de Matos e Paulo Tavares, Pavilhão do Brasil tem a Terra como central na Bienal de Veneza 2023. Saiba como serão as galerias
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Um dos maiores eventos de design e arquitetura do mundo, a Bienal de Veneza 2023 vai receber um pavilhão do Brasil, assinado por Gabriela de Matos e Paulo Tavares.

Também conhecida como La Biennale di Venezia, essa é a 18ª Mostra de Arquitetura. Nesta edição, o tema “O Laboratório do Futuro” revela o passado em busca de um futuro mais igualitário.

O Pavilhão do Brasil traz como mote a Terra. A ideia é levar para o centro os agentes esquecidos pela arquitetura tradicional.

Para José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, a mostra é um espaço de debate para questões urgentes em arquitetura e urbanismo. Afinal, são campos que refletem a vida.

“Em um momento de grandes desafios enfrentados pela humanidade, realizar a exposição proposta pelos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares é uma maneira de dar visibilidade a pesquisas e práticas que podem contribuir para a elaboração coletiva de nosso futuro”, explica.

Saiba mais!

Pavilhão do Brasil é imersão nas nossas raízes

Cachoeira Iauaretê
Cachoeira Iauaretê é uma das inspirações para o Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2023
(Foto: Vincent Carelli)

Seguindo o tema central da Bienal de Veneza 2023, o Pavilhão do Brasil busca inspiração no passado e no presente do país para projetar o futuro.

O centro do debate é a terra. E esse elemento aparece não só de maneira poética — mas, literalmente, em todo o espaço.

Para mostrar a ancestralidade presente na cultura brasileira, o local foi aterrado. Assim, o público poderá ter contato com as tradicionais moradias indígenas, além das quilombolas e sertanejas. Terreiros de candomblé também foram contemplados.

Logo na entrada do Pavilhão do Brasil, elementos que remetem às habitações populares brasileiras poderão ser vistos.

O impacto será ainda maior por causa do contraste com os traços do prédio moderno onde fica a mostra na Bienal de Veneza 2023.

Um dos exemplos é o símbolo chamado de sankofa. Ele faz parte de um sistema de escrita africano conhecido como Adinkra e vem dos povos acã, da África Ocidental. Como foi muito usado em desenhos de gradis, é visto em várias cidades brasileiras.

Além disso, uma bandeira nas cores verde e rosa compõe a entrada do Pavilhão do Brasil, fazendo um contraponto ao símbolo nacional.

A peça de Leandro Vieira traz os dizeres “índios, negros e pobres” no lugar de “ordem e progresso”. A mudança é um convite à reflexão, uma vez que esses são os sujeitos que evocam pela terra, usada pelos curadores como pano de fundo para a mostra.

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Detalhes do Pavilhão do Brasil

Ruínas das missões jesuítas
Ruínas das missões jesuítas, no Rio Grande do Sul, estão entre as referências para o Pavilhão do Brasil (Foto: Vincent Carelli)

Para os curadores do pavilhão na Bienal de Veneza 2023, a proposta de pensar no Brasil enquanto terra é o fio condutor para uma reflexão mais profunda.

“Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas”, revelam Gabriela de Matos e Paulo Tavares.

Tudo isso se reflete pelas galerias do Pavilhão do Brasil, como você confere em detalhes a seguir.

Primeira galeria

Terras habitadas por povos indígenas ou quilombolas
Terras habitadas por povos indígenas ou quilombolas são as mais preservadas do Brasil
(Foto: Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)

No edifício modernista, a primeira galeria leva o nome de “Brasília Território Quilombola”. A ideia é propor uma reflexão sobre o planejamento e a construção da capital brasileira.

Para ela existir, indígenas e quilombolas precisaram ser retirados, o que acontecia desde o período das Bandeiras. Contudo, para dar espaço à cidade moderna, esses povos foram empurrados para periferias.

Sendo assim, o Pavilhão do Brasil busca expor a imagem territorial, arquitetônica e patrimonial da formação da modernidade no Brasil. Tudo isso transparecendo a complexidade e a pluralidade nacionais.

O contraste fica claro ao olharmos para as arquiteturas e paisagens negligenciadas pelos projetos urbanistas.

Ao percorrer esta galeria, os visitantes do Pavilhão do Brasil poderão contemplar obras de diferentes formatos.

Elas preenchem os espaços, indo desde uma obra audiovisual da cineasta Juliana Vicente, em conjunto com a curadoria, até uma seleção de fotografias de arquivo, organizada pela pesquisadora Ana Flávia Magalhães Pinto.

Sem deixar de lado, claro, o mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola.

Segunda galeria

Vídeo de Ayrson Heráclito
Vídeo de Ayrson Heráclito faz parte da segunda galeria no Pavilhão do Brasil
(Foto: O Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée/Reprodução)

Chamada de “Lugares de Origem, Arqueologias do Futuro”, a segunda galeria do Pavilhão do Brasil começa com a projeção de dois vídeos.

De 2015, eles são de Ayrson Heráclito e levam os títulos de O Sacudimento da Casa da Torre e O Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée.

Na sequência, é possível passar para as memórias e a arqueologia da ancestralidade. Então, a galeria é tomada por projetos e práticas socioespaciais que revelam saberes indígenas e afro-brasileiros sobre terra e território.

Para isso, a curadoria parte das seguintes referências:

  • Casa da Tia Ciata, que traz o contexto urbano da Pequena África, no Rio de Janeiro;
  • Tava, que era como os índigenas Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas, no Rio Grande do Sul;
  • Complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador;
  • Sistemas Agroflorestais do Rio Negro, na Amazônia;
  • Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Aruak e Maku.

O objetivo é mostrar, na prática, o que pesquisas científicas já comprovaram. Ou seja, que terras indígenas e quilombolas são as mais preservadas no Brasil.

Contudo, o mote dessa parte da Bienal de Veneza 2023 se fecha com a conclusão de que isso só é possível graças à própria terra.

Em todos os âmbitos, ela se faz presente e é peça central. Seja em práticas, tecnologias, costumes ligados ao manejo ou à produção, além de diferentes formas de fazer e compreender a arquitetura.

E é através desse olhar para o conhecimento ancestral que se pode ressignificar o presente para, enfim, desenhar outros futuros.

Brasileiros na Bienal de Veneza 2023

Gabriela de Matos e Paulo Tavares
Arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares assinam a curadoria do Pavilhão do Brasil
(Foto: Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)

Arquiteta e urbanista, Gabriela de Matos é um dos principais nomes brasileiros na Bienal de Veneza 2023. A mineira tem projetos multidisciplinares com o objetivo de promover a cultura arquitetônica e urbanística brasileira a partir das lentes de raça e gênero.

Outro destaque é Paulo Tavares. Ele explora as interfaces entre arquitetura, culturas visuais, curadoria, teoria e advocacia. Para isso, emprega diferentes mídias e meios, com um trabalho colaborativo que envolve justiça ambiental e narrativas contra-hegemônicas.

Além desses dois grandes nomes, participam da criação do Pavilhão do Brasil Ana Flávia Magalhães Pinto, Ayrson Heráclito e Day Rodrigues. Há ainda a colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA), do coletivo Fissura e de Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho).

Também entram para a lista Juliana Vicente, Leandro Vieira, os povos indígenas Mbya-Guarani, povos indígenas Tukano, Arawak e Maku, as Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá) e Thierry Oussou, além de Vídeo nas Aldeias.

O Pavilhão do Brasil faz parte da Bienal de Veneza 2023, aberta ao público entre 20 de maio e 26 de novembro, em Veneza, na Itália.

Quer saber mais sobre o trabalho dos curadores? Confira tudo o que rolou no Archtrends Podcast com Gabriela de Matos!

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