Oswaldo Bratke: fachadas modernas para projetos residenciais
Entre os principais nomes da arquitetura brasileira, com certeza está o de Oswaldo Bratke. O paulista é reconhecido por seus inúmeros projetos residenciais, buscando alternativas modernas e criando fachadas impressionantes.
Por meio de inúmeras pesquisas sobre novos tipos de cobertura, esquadria, material e técnica não convencional, Bratke trouxe uma série de soluções urbanas e construtivas, marcando o seu nome na arquitetura nacional.
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Biografia de Oswaldo Bratke
Nascido em Botucatu, no interior de São Paulo, Oswaldo Bratke ingressou no curso de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1926 e, ainda estudante, abriu o seu primeiro escritório com outros colegas de turma.
Em 1930, conquistou o seu primeiro prêmio: a medalha de ouro na Seção Universitária do 4º Congresso Pan-americano de Arquitetura do Rio de Janeiro, além do concurso para o Viaduto Boa Vista, em São Paulo.
Bratke se formou em 1931 como arquiteto-engenheiro e, dois anos depois, começou uma sociedade com Carlos Botti, com quem realizou uma série de projetos residenciais, principalmente em São Paulo.
Em 1938, ele se tornou o responsável pelo projeto de reforma e ampliação do Parque Balneário de Santos e do Grande Hotel de Campos do Jordão.
Reconhecimento internacional e urbanismo
No ano de 1942, Carlos Botti faleceu e Oswaldo Bratke passou a ter uma carreira solitária, mas continuou a desenvolver projetos residenciais e iniciou trabalhos na área de planejamento urbanístico.
Em 1947, Bratke teve a sua casa-ateliê, situada na rua Avanhandava, publicada no periódico californiano Arts & Architecture, voltado à promoção da arquitetura internacional.
No ano seguinte, durante uma viagem aos Estados Unidos, o arquiteto conheceu as obras de Richard Neutra e Frank Lloyd Wright, trazendo para os seus projetos conceitos ainda mais modernos.
Em 1950, Bratke começou a trabalhar na urbanização do bairro Paineiras, no Morumbi, projetando inúmeras residências, entre as quais a sua — que recebeu uma menção especial na Exposição Internacional de Arquitetura da 1ª Bienal Internacional de São Paulo — e a do amigo Oscar Americano.
Ambas as residências se tornaram famosas pelo uso de coberturas planas e pela incorporação da paisagem na construção por meio de vazios, elementos vazados e pérgulas.
Entre 1951 e 1954, Oswaldo Bratke foi eleito presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil de São Paulo e, também em 1954, ele participou do júri de arquitetura da 2ª Bienal Internacional de São Paulo e do 4º Congresso Brasileiro de Arquitetos. Ainda integrou a comissão do 4º Centenário de São Paulo.
Experiência no norte
Em 1955, teve início uma nova fase na sua vida profissional. Neste ano, Bratke foi contratado pela Indústria e Comércio de Minérios S.A. (Icomi) para projetar dois núcleos urbanos no Amapá.
Esse trabalho teve duração de cinco anos, nos quais o arquiteto foi responsável por projetar os planos urbanos, as residências e todos os equipamentos das vilas de Serra do Navio e Amazonas.
Para isso, ele se dedicou a estudar os costumes locais, estabelecendo pequenas oficinas de elementos construtivos e desenhando mobiliários e objetos.
Homenagens e legado
Ao fim do contrato, Bratke continuou a atuar no seu escritório e participou de inúmeras comissões julgadoras de concursos, como o Paço de Santo André, em 1965. Foi nesse ano também que o arquiteto ganhou uma sala especial na 8ª Bienal Internacional de São Paulo.
Em 1987, ele foi homenageado com uma exposição da sua obra no IAB/SP pelos seus 80 anos de vida. Aos 89 anos, também foi homenageado na 2ª Bienal Internacional de Arquitetura do Brasil, ocorrida em Salvador, em 1996.
O filho dele, Carlos Bratke, também se formou arquiteto pela mesma universidade e foi reconhecido por vários projetos na Avenida Berrini, em São Paulo, e por projetar relógios públicos, também na capital paulista.
Principais obras e projetos
Ainda que Oswaldo Bratke não seja amplamente conhecido pelos brasileiros, a exemplo de outros arquitetos modernistas, o seu legado é extremamente importante, sobretudo os seus projetos residenciais, que se tornaram exemplos máximos na área, graças às inúmeras pesquisas que ele realizava sobre técnicas construtivas e materiais não convencionais.
A sociedade com o amigo Carlos Botti foi muito frutífera, rendendo mais de 500 projetos de casas nos bairros-jardim de São Paulo. Porém, foi só a partir de 1940 que Bratke começou a desenvolver a sua linguagem moderna, especialmente com o envolvimento em projetos urbanísticos nas cidades de Campos do Jordão e São Vicente.
Contudo, foi apenas depois da visita aos Estados Unidos, em 1948, que a sua maestria modernista foi apresentada.
Alguns exemplos desse período são: os prédios apartamentos das ruas General Jardim e Avanhandava; o Edifício ABC; e a sua casa-ateliê, com cobertura em telhas de papelão revestidas com asfalto e película de cobre, permitindo um caimento pequeno.
Desses, o destaque fica para o Edifício ABC, um dos primeiros prédios de São Paulo com fachada de vidro — chamadas de courtain wall —, que foi tendência em todo o mundo na época.
Em 1956, Bratke projetou o Edifício Renata Sampaio Ferreira, com um embasamento para comércio e serviços e um volume vertical para escritórios — uma solução difundida desde então —, além da presença de fachadas revestidas com elementos vazados que garantiam a proteção das esquadrias.
A obra foi tão importante que em 1975, junto do ABC e do Jaçatuba, o Edifício Renata Sampaio Ferreira foi selecionado como "bem arquitetônico com interesse de preservação".
Residências
Foi no projeto de residências que Oswaldo Bratke se destacou, com uma produção diferenciada ao lado do amigo Oscar Americano.
A própria residência do arquiteto é um marco importante na sua carreira: uma estrutura simples e modulada de pilares esbeltos coberta por uma laje plana (a primeira usada por Bratke) constitui um volume prismático articulado por cheios e vazios que se alternam nas fachadas por meio de fechamentos, elementos vazados e varandas.
A planta ainda admite diferentes reordenações, pois as paredes internas são resolvidas com armários e fechamentos leves. O resultado foi tão impressionante que ele recebeu menção especial na 1ª Bienal Internacional de São Paulo.
Na sequência, ele projetou a casa do amigo, Oscar Americano, onde hoje funciona a Fundação Maria Luiza e Oscar Americano.
O projeto adota o mesmo estilo da casa de Bratke, porém em proporções maiores, com dois níveis sobrepostos a partir da topografia do terreno, no mesmo jogo entre cheios e vazios que garantem leveza e integração com a paisagem.
Outro exemplo de destaque é a casa na Avenida Morumbi, com um pátio delimitado por um sistema de vigas e pilares de madeira em continuidade às áreas fechadas, desenhando a silhueta da construção.
Durante os anos seguintes, Bratke construiu muitas outras casas na capital paulista e também no litoral, como a Residência Ciccillo Matarazzo, em Ubatuba.
Apesar do destaque dos seus projetos, Bratke não se prendia a soluções consagradas e sempre buscava adequar a forma e os materiais às situações específicas. Isso fica bem claro na residência em Ubatuba, quando ele resgata o telhado de duas águas, obedecendo aos princípios de simplicidade que norteiam a sua produção.
Outras produções
Entre 1951 e 1959, Oswaldo Bratke projetou o Hospital Infantil do Morumbi, as Termas de Lindoia e as Estações da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Em 1960, teve a sua maior experiência urbanística, que, ao lado das residências, marcou de vez o seu nome na história da arquitetura brasileira.
As vilas projetadas por Bratke para a Icomi têm como base a polarização de dois bairros (o operário e o de funcionários de médio e alto padrão), unidos pelo centro cívico (formado por praça, administração e comércio), além da escola de primeiro grau, o hospital (que se tornou referência na região), o posto de saúde e o centro esportivo.
Como os prazos para a construção eram apertados, Bratke racionalizou ao máximo os processos e criou oficinas para fornecer materiais, como esquadrias de madeira, tacos e blocos de concreto, além de organizar polos de fornecimento no Brasil e de fora.
As casas-jardim de São Paulo influenciaram bastante a criação de Bratke no norte, com um desalinhamento dos volumes quebrando a monotonia e evitando uma simetria desagradável. As residências seguiram plantas padrão que variavam de acordo com a atribuição do funcionário.
Elas eram construídas com blocos de concreto e cobertas com telhas de fibrocimento, um material pouco adequado ao calor da região. Por isso, Bratke usou sistemas de ventilação baseados em janelas venezianas com paletas móveis, garantindo, então, o conforto térmico desejado.
A abrangência dos trabalhos de Oswaldo Bratke extrapolou o território nacional. Muitos dos seus projetos foram publicados nas Américas, na Ásia e na Europa. John Peter, em seu livro The Oral History of Modern Architecture, enquadra Bratke como um dos principais arquitetos do século XX.
A importância de Oswaldo Bratke
Oswaldo Bratke ajudou a revolucionar a maneira de morar no Brasil, negando sistematicamente a chamada tradição eclética do passado, uma mistura de estilos artificiais e nem sempre adequados às necessidades do brasileiro.
Bratke ficou conhecido pela disciplina modular — especialmente nos seus projetos produzidos a partir de 1950 —, explicitando, ao longo da sua trajetória, as múltiplas relações harmônicas possíveis de serem estabelecidas entre o sistema estrutural e os demais componentes arquitetônicos, ao considerar a estrutura como uma moldura sempre evidente e normalizadora das proporções.
Para o arquiteto, nada era aleatório e nenhuma inspiração se esgotava em si mesma, não havendo solução baseada simplesmente em estilos ou estética. A sua obra ficou marcada pelo grande rigor geométrico, amenizado pela leveza proporcionada graças ao jogo de cheios e vazios, saliências e reentrâncias, aliado à escolha apurada dos materiais de revestimento e às minúcias dos detalhes.
Assim, as relações entre o projeto e a paisagem circundante eram estabelecidas de forma harmônica e fluida.
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