Norman Foster: a história e o estilo do premiado arquiteto
Reverenciado como um dos principais nomes da arquitetura high-tech, o britânico Norman Foster construiu sua reputação ao longo de mais de 4 décadas de trabalhos.
Ele utiliza o aço e o vidro em construções contemporâneas e aproveita a iluminação natural de forma criativa e ousada.
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Também conhecido como o Barão do Rio Tâmisa — graças ao título concedido pela coroa britânica —, Foster é o fundador do escritório de arquitetura Foster + Partners e tem projetos de sua autoria espalhados por todo o mundo.
Foi reconhecido por dezenas de prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o Pritzker, em 1999, considerado o Oscar da arquitetura.
Neste artigo, vamos contar um pouco mais sobre a carreira, vida, estilo e obras de Norman Foster. Você vai entender ainda a importância do arquiteto como referência para outros profissionais da área.
Origens de Norman Foster
Nascido em 1935 na região de Reddish, distrito da cidade de Stockport, Norman Foster é filho único de Robert e Lilian Foster, casal da classe trabalhadora inglesa com raízes modestas que vivia em relativa pobreza.
Pouco depois da chegada da criança, eles se mudaram para Levenshulme, cidade próxima à metrópole de Manchester, onde Foster passou sua infância e adolescência.
Enquanto seu pai trabalhava por longos turnos em uma fábrica de equipamentos elétricos industriais e sua mãe era empregada em uma padaria, o jovem Norman vivia mais sob cuidados de vizinhos e parentes do que pelos próprios pais.
Aos 16 anos, ele largou os estudos e foi aprovado em uma vaga para a prefeitura da cidade de Manchester. Lá, teve seu primeiro emprego como escrivão no setor financeiro da administração pública local.
Pouco depois, serviu na RAF (Royal Air Force), a força aérea britânica, onde permaneceu até completar 18 anos, em 1953.
Ao retornar para Manchester, buscou por trabalho em diferentes empresas e funções. Acabou admitido como assistente administrativo de contratos em um escritório local de arquitetura, o John E. Beardshaw and Partners.
Apesar de sempre ter demonstrado talento e interesse na área, foi lá que Foster deu seus primeiros passos como profissional. Ele elaborou um portfólio de projetos que impressionou Beardshaw e foi promovido para a função de desenhista.
Em 1956, ingressou no curso de arquitetura da Faculdade de Manchester. Para pagar seus estudos, acumulou trabalhos em sorveterias, padarias e até como segurança de boates.
Graduou-se em 1961 e conseguiu uma bolsa para a Faculdade de Yale (EUA). Por lá, conheceu seus futuros parceiros Richard Rogers e Su (Susan) Brumwell, que eram casados.
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Começo de carreira
Norman Foster voltou dos Estados Unidos em 1963 e fundou seu próprio escritório de arquitetura, o Team 4, que também tinha como sócios os amigos Richard Rogers, Su Brumwell e Wendy Cheesman, ex-namorada de Rogers.
Inicialmente, a irmã de Wendy, Georgie Walton, também participou da empreitada. Ela era a única arquiteta licenciada no grupo, mas saiu após alguns meses e construiu uma carreira sólida por conta própria.
Wendy se casou com Norman Foster em 1964. Após a dissolução da Team 4. em 1967, continuou como sócia e parceira na Foster Associates (renomeado como Foster + Partners em 1999), até falecer em decorrência de um câncer, em 1989.
No período da Team 4, Norman se dedicou a projetos industriais e participou da concepção de algumas residências com Su e Richard Rogers.
A ascensão de sua carreira, porém, só aconteceria de fato com o projeto do Centro de Artes Visuais de Sainsbury's. O trabalho foi realizado em parceria com Wendy. Começou em 1974 e foi concluído em 1978.
Com paredes envidraçadas, uma estrutura de aço aparente e uma área interna ampla e naturalmente iluminada, o Centro de Artes Visuais de Sainsbury's já tinha as características que predominariam por toda a carreira de Foster.
Na sequência, ele emplacou projetos importantes. Foi o caso do imponente prédio do banco HSBC em Hong Kong e o terminal de passageiros do Aeroporto Stansted de Londres, que se destaca pelo teto “flutuante”, que remete ao voo de um cisne.
Reconhecimento global
Já estabelecido como vanguarda e um dos principais nomes da arquitetura high-tech, Foster passou a assinar diversos projetos de relevância internacional, como a simbólica restauração do Reichstag, o prédio do parlamento alemão, após a reunificação do país em 1992.
Na mesma época, Foster também assinou o projeto do Aeroporto Internacional de Hong Kong, que ainda hoje é um dos mais movimentados da Ásia.
Inaugurada no mesmo ano do Apple Park, a estação de Metrô da Universidade de York, no Canadá, é outro projeto recente da Foster + Partners.
A construção em formato de bumerangue tem janelas imensas de vidro que aproveitam a iluminação do sol ao mesmo tempo em que os seus ocupantes se protegem do frio e da neve no exterior.
Ao longo dos anos, Foster foi reconhecido em diversas premiações, como a medalha de ouro do Instituto Americano de Arquitetos (AIA), o Prêmio Stirling de 1998 pelo Museu Imperial de Guerra na Inglaterra, o desejado Pritzker em 1999, o Aga Khan de arquitetura na Malásia e o prêmio de arte Princesa das Astúrias em 2007 na Espanha, entre outros.
Norman Foster Foundation
Em 1999, o arquiteto criou a Norman Foster Foundation, instituição voltada para ajudar novos arquitetos, designers e urbanistas a "antecipar o futuro". Sediada em Madri, ela opera globalmente.
Além de masterclasses, oficinas, debates e think thanks, a Norman Foster Foundation também oferece bolsas de viagem por meio do Royal Institute of British Architects (RIBA), de Londres.
O objetivo é de incentivar estudantes e acadêmicos de arquitetura a viajar para qualquer lugar do mundo para pesquisar sobre a sobrevivência futura de cidades e comunidades.
A instituição também mantém o Norman Foster Archive and Library, que fornece uma janela para a história do nosso ambiente construído por meio do trabalho de Norman Foster.
Principais projetos de Norma Foster
Conheça os trabalhos mais famosos do renomado arquiteto.
30 St Mary Axe
Conhecido informalmente como Gherkin ("pepino"), o 30 St Mary Axe é um arranha-céu localizado no distrito financeiro de Londres.
Apesar de estar em um ponto de grande movimentação, ele consegue se destacar em meio à paisagem. Isso graças à sua fachada de vidro cortada por linhas de aço e o formato peculiar, que lhe rendeu o curioso apelido.
Inaugurado em 2004, o 30 St Mary Axe é o primeiro edifício sustentável de Londres. Seu formato é aerodinâmico, com grandes cavidades em espiral que utilizam ventilação natural para refrescar os escritórios. para maximizar a entrada de ar e iluminação natural no ambiente interno.
Além disso, seu formato reduz as alterações de direção do vento em comparação com uma torre retilínea de tamanho semelhante.
Aliada a outras estratégias sustentáveis, a estrutura consegue economizar 50% no consumo de energia elétrica em comparação a outras torres climatizadas.
Antes do Gherkin, houve uma série de projetos de edifícios que poderiam ser construídos naquele espaço.
No local, havia as sedes do Baltic Exchange (associação para a indústria marítima) e do UK Chamber of Shipping (Câmara de Navegação do Reino Unido), que foram destruídas por uma bomba do IRA Provisório, em abril de 1992.
Um desses projetos foi a London Millennium Tower. Assim como o 30 St Mary Axe, essa torre foi idealizada por Foster + Partners.
O objetivo era o de construir o maior edifício da Europa e o sexto maior do mundo na época. Porém, foi cancelado, pois sua altura atrapalharia as rotas de voo para o Aeroporto de Heathrow.
Reichstag
Um dos pontos turísticos mais visitados de Berlim, o Reichstag é o prédio onde o parlamento federal da Alemanha (Bundestag) exerce suas funções.
Projetada por Paul Wallot, a construção é bem antiga: começou em 1884 e terminou dez anos depois. Já para sua reforma, em 1992, o parlamento escolheu o projeto de Norman Foster, de reconstrução da cúpula do Reichstag.
Iniciada em 1995 e concluída em 1998, a restauração também marcou a volta do governo e do parlamento para Berlim.
Por ter passado por grandes mudanças da história alemã, como as duas guerras mundiais e a divisão entre Alemanha Ocidental e Oriental, o Reichstag teve sua arquitetura, de certa forma, "mutilada", sem levar em consideração suas características.
Ao redesenhar a cúpula — danificada pela guerra e retirada na reforma entre 1961 e 1971 — Foster devolve as características do século XIX. Foi um projeto de retrofit, ou seja, de modernização de um edifício considerado ultrapassado.
A transformação do prédio do parlamento foi enraizada em quatro questões-chave:
- A importância do Bundestag como um fórum democrático;
- A compreensão da história alemã;
- O compromisso com a acessibilidade;
- Uma agenda ambiental vigorosa.
A cúpula do Reichstag é aberta à visitação pública e oferece uma vista panorâmica de Berlim. É uma forma de, simbolicamente, o povo estar acima dos governantes
A reforma do Reichstag foi tão importante para a carreira de Foster que, em 2011, ele e Chris Abel lançaram "The Reichstag: Foster + Partners". Ricamente ilustrado, o livro conta a história da transformação do edifício. A sinopse da publicação diz:
Millennium Bridge
Inaugurada em junho de 2000, a Ponte do Milênio (Millennium Bridge, no inglês) marca a virada milenar ocorrida no início daquele ano. Feita de aço, é a primeira ponte construída para pedestres em Londres depois de mais de um século.
Atravessando o Rio Tâmisa, a Ponte do Milênio une a Tate Modern Art Gallery, no distrito de Bankside, com a Catedral de St. Paul, na Cidade de Londres/The City (centro financeiro e histórico da capital inglesa).
O projeto escolhido foi uma parceria entre três segmentos:
- O projeto arquitetônico de Foster + Partners;
- A arte do renomado escultor Sir Anthony Caro;
- A engenharia da multinacional Arup.
O resultado foi uma ponte de 320 metros e de perfil fino, que forma uma espécie de arco em cima do Rio Tâmisa.
Duas armaduras em forma de Y suportam oito cabos que correm ao longo das laterais do deck de 4 metros de largura. Para suportar o próprio deck, braços transversais de aço prendem esses cabos em intervalos de 8 metros.
Os cabos nunca sobem mais do que 2,3 m. Dessa forma, todos os visitantes podem ter uma vista panorâmica da paisagem londrina.
Com a construção iniciada em 1998, a Millennium Bridge só foi inaugurada em junho de 2000. O problema é que, no dia de sua inauguração, 100 mil pessoas passaram pela estrutura, o que fez com que a ponte balançasse — e os visitantes percebessem.
A movimentação da estrutura foi tão intensa que recebeu o apelido de The Wibbly Wobbly Bridge ("wibbly-wobbly" é uma expressão para algo trêmulo ou instável).
Depois de três dias, a ponte foi fechada e reaberta apenas em fevereiro de 2002, quando reparos foram feitos para mantê-la mais estável.
Após estudos, descobriram que a movimentação foi causada por passos sincronizados dos pedestres. A solução foi instalar amortecedores discretamente sob o deck para mitigar o movimento.
Torre de Collserola
Localizada na montanha Tibidabo, a Torre de Collserola é um trabalho conjunto de Norman Foster com os engenheiros civis espanhóis Julio Martínez Calzón e Manuel Julià Vilardell.
Usada principalmente como um transmissor de TV e rádio, a Torre de Collserola oferece uma vista do alto de Barcelona.
Antes dos Jogos Olímpicos de 1992, Barcelona sofria com a explosão de torres de comunicação próximas a Tibidabo. Portanto, seria necessário fazer uma reforma e garantir a segurança de toda a cidade e evitar um impacto ambiental mais intenso.
Pasqual Maragall, prefeito de Barcelona na época, convocou a rede de televisão nacional, a rede de televisão catalã e a rede telefônica a construir uma torre de telecomunicações compartilhada.
Para erguer uma ponte convencional de concreto armado com o tamanho desejado (288 metros), seria necessário criar uma base de 25 m de diâmetro, que traria impactos negativos à montanha.
Porém, os profissionais criaram uma estrutura totalmente nova: um tubo de concreto e aço reforçado, com um diâmetro de base de apenas 4,5 m.
Como a construção deveria ser feita em apenas 24 meses, a construção do eixo, mastro e decks de equipamentos foi feita simultaneamente.
Com o eixo era vazado, os decks com estrutura de aço e a plataforma de observação pública foram montados no solo e, depois, içados. Já o mastro de aço foi encaixado dentro do eixo oco.
Para que a torre fique em pé, ela é sustentada por uma série de cabos:
- Os inferiores são compostos por três séries de 180 cabos paralelos com 15 mm de diâmetro cada, São feitos de aço de alta resistência e revestidos de polietileno;
- Já os superiores são compostos por três séries de 7 cabos de fibra de aramida em paralelo (56 mm de diâmetro), cada um com um soquete de resina na ponta.
O equipamento é instalado ou removido por elevador, e um guindaste no topo do mastro iça as antenas no lugar. Essa forma de remoção simplificada garante que a torre seja capaz de se modernizar de acordo com o avanço das telecomunicações.
Além da parte funcional, a torre desenhada por Norman Foster conta com um espaço para organização de eventos, composto por uma sala de recepção e um mirante situado a 560 metros acima do nível do mar.
Essential Homes
Desastres naturais, guerras e crises humanitárias obrigam milhares de pessoas a saírem de suas casas para se refugiar.
Embora os assentamentos sejam vistos como moradias temporárias, a realidade mostra o contrário. Até que possam se reestabelecer, muitas famílias ficam abrigadas por anos.
A ideia é tirar apenas o aspecto funcional do abrigo e pensar em sua arquitetura como uma ferramenta para oferecer qualidade de vida.
Para isso, a Norman Foster Foundation e a Holcim, líder global em soluções de construção sustentável, desenvolvem as Essential Homes — residências com estrutura de mais qualidade e design diferenciado.
Assim, arquitetos, designers e engenheiros usariam seus conhecimentos para oferecer não mais abrigos, e sim lares permanentes, em que os refugiados formariam novas comunidades.
Em 2023, duas intervenções foram realizadas na Bienal de Veneza para mostrar a ideia na prática: construção de uma casa em tamanho real no Giardini Marinaressa e uma exposição no Palazzo Mora para complementar o pavilhão.
Além disso, modelos físicos, renderizações, desenhos e painéis do projeto foram produzidos para ilustrar a maneira como a casa no Giardini poderia gerar comunidades em diversas geografias.
Apple Park
Sim, a sede da Apple também foi idealizada por Norman Foster e por Steve Jobs, que ficou envolvido com o projeto até sua morte, em 2011. Localizado em Cupertino, na Califórnia, o campus só foi inaugurado em 2017.
A Apple está presente na cidade desde 1976, ano de seu nascimento. Por isso mesmo, Jobs não quis sair do local para encontrar um campus ou propriedades mais em conta.
Ao contrário: a empresa adquiriu diferentes edifícios por meio da Hines Interests, sem revelar quem era o comprador por trás.
O campus é um gigantesco círculo meticulosamente redondo em meio a uma paisagem verde, como um disco voador no meio de um campo rural.
As paredes são todas de vidro e o prédio é integrado à vegetação local, com um parque de 12 hectares no seu centro.
Ele segue a ideia original de Jobs, de se parecer mais com um refúgio natural e menos com um prédio comercial.
Os 71 hectares do Apple Park abrigam o edifício em formato circular (Ring Building), um centro de bem-estar de 10 mil m² (Fitness & Wellness Center), um teatro (chamado Steve Jobs Theater), um túnel de entrada de 200 m de comprimento e um grande café.
Com apenas quatro andares acima do solo e três subterrâneos, o Apple Park é um extenso círculo que ocupa uma área de 260 mil m².
Além disso, o campus é alimentado por 100% de energia renovável e é o maior edifício de escritórios com certificação LEED Platinum da América do Norte.
Nos últimos anos, a área verde cresceu de 20% para 80%, com mais de 6 km de trilhas para caminhada e corrida.
A reforma que nunca aconteceu: Camp Nou
Em 2007, havia o interesse de reformar o Camp Nou, casa do Barcelona F.C., para comemorar o 50º aniversário do estádio. Após uma competição internacional, Foster + Parterns teve o projeto vencedor para essa transformação.
A intenção era de ampliar a capacidade do estádio, que atualmente suporta pouco mais de 99 mil pessoas, para 106 mil. Além disso, Norman Foster também aumentaria a cobertura para oferecer mais proteção a todo o público presente.
O detalhe mais marcante dessa quase-reforma era a inserção de uma pele externa de mosaico formada por azulejos translúcidos nas cores do Barcelona. Essa cobertura seria um símbolo da lealdade e devoção dos fãs do FC Barcelona em todo o mundo.
Além disso, permitiria diferentes visuais ao estádio dia e noite, quando houvesse ou não jogos.
Assim como todo trabalho de reestruturação de Norman Foster, o projeto de 2007 respeita as características do estádio de 1957, de Francesc Mitjans-Miró, García Barbon e Soteras Mauri.
Infelizmente, uma série de infortúnios impediu que a reforma acontecesse, como a crise econômica de 2008 e a desistência em vender o Mini Estadi (hoje demolido).
Atualmente, o Camp Nou passa por uma nova reforma — desta vez, pelo Colégio de Arquitetos da Catalunha. O objetivo é que o estágio abrigue 105 mil pessoas, com todos os assentos cobertos.
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