A arquitetura com propósito de Kengo Kuma
Kengo Kuma sabe como ninguém exaltar as tradições construtivas de seu país. O arquiteto japonês coleciona projetos incríveis no portfólio, que fazem dele e dos profissionais de seu escritório, o KKAA, serem admirados mundo afora, principalmente pelas estruturas de madeira que desenvolvem. No Brasil, por exemplo, ele assina a fachada da Japan House, um centro cultural em plena Avenida Paulista, em São Paulo, que apresenta uma linda instalação de madeira criada pelo mestre japonês.
Em geral, o que mais chama a atenção nos projetos de Kuma são os padrões simples de montagem que parecem ser complexos. São estruturas com diferentes intersecções e ângulos, formados por peças de madeira, que em conjunto criam prédios e fachadas que se destacam na paisagem.
Esse estilo de arquitetura único pode ser visto em um dos projetos mais recentes, assinado por Kuma e o KKAA. Trata-se da Morinos, uma escola comandada pela prefeitura de Gifu, no Japão. O lugar oferece programas educacionais e workshops, que ensinam os alunos sobre a importância das florestas e da vida selvagem.
O projeto foi encomendado ao KKAA pela Academia de Ciência e Cultura Florestal de Gifu, que é uma instituição educacional multidisciplinar. Entre as principais áreas em que a academia atua, estão a silvicultura — ciência que se dedica ao reflorestamento —, educação ambiental, arquitetura em madeira e marcenaria.
A arquitetura da escola representa os princípios do lugar e foi pensada com o propósito de inspirar os alunos que a frequentam. A estrutura apresenta um telhado inclinado, com um enorme beiral, que funciona como cobertura para o deque da área externa. A cobertura é sustentada por troncos vindos diretamente da floresta da região, posicionados em V, criando um espaço aberto, onde algumas aulas são ministradas.
Para este projeto, Kuma e sua equipe usaram ciprestes japoneses com cerca de 100 anos, que foram cortados pelos próprios alunos e instalados em conjunto com tábuas de cedro. Usadas como batentes para as portas e molduras nas janelas, essas tábuas exibem ainda a casca da árvore, com uma coloração mais escura, e se destacam na fachada onde predomina a madeira clara.
Nos interiores, uma outra surpresa cheia de significados: a terra do entorno foi aplicada nas paredes com uma técnica criada pelo artista Syuhei Hasado. O simbolismo, que exalta a cultura japonesa, fica ainda mais forte quando ele explica a inspiração de seu trabalho: um processo que resulta em um efeito degradê e lembra a aparência de um quimono cerimonial de 12 camadas.
Um espaço com estrutura, acabamentos e referências pensadas para inspirar e incentivar a criação de projetos que respeitem a natureza cuja preservação é indispensável à sobrevivência da espécie humana neste planeta. Quem dera que pudéssemos ter escolas florestais como esta em nosso Brasil.