Desigualdade de gênero e mulheres importantes para a arquitetura
A desigualdade de gênero está em todas as profissões, e na arquitetura não é diferente, infelizmente. No Brasil, o diagnóstico Gênero na Arquitetura e Urbanismo, promovido pelo CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo, aponta uma lacuna entre as condições das mulheres e dos homens na profissão, tanto no âmbito profissional, como privado.
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O estudo mostrou que as mulheres sofrem mais para alcançar altos rendimentos financeiros na área - e, para as mulheres negras, é ainda mais difícil. Há pelo menos 13 vezes mais homens brancos do que mulheres negras na faixa salarial acima de 13 salários mínimos.
A natureza de trabalho autônomo da arquitetura acaba por colocar as mulheres em ainda mais dificuldades para serem reconhecidas no trabalho, já que, para haver reconhecimento, é preciso antes haver oportunidades iguais. O diagnóstico do CAU aponta, por exemplo, que a maternidade constitui um maior obstáculo para o exercício profissional do que a paternidade, com apenas 1% dos homens declarando ter dificuldade para trabalhar por causa dos filhos - número 15 vezes menor que o percentual feminino.
O assédio sexual no ambiente de trabalho também afeta mais as mulheres, com 33% das mulheres relatando já ter sofrido assédio sexual, contra 4% dos homens. Já a pesquisa Women in Architecture, realizada no Reino Unido, revelou uma realidade parecida com a do Brasil: 32% das mulheres arquitetas sofreram discriminação sexual no trabalho, contra 3% dos homens.
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A historiadora de arquitetura Despina Stratigakos, autora de Where are the Women Architects (Onde estão as mulheres arquitetas) diz: “Embora as mulheres representem quase metade dos estudantes de arquitetura, elas estão sub-representadas entre os docentes. Os currículos do curso também favorecem bastante o trabalho e os escritos dos homens, deixando os alunos com a impressão de que as mulheres contribuíram pouco”.
Para ser lembrada, é preciso ser vista primeiro. Por isso, vamos destacar aqui algumas mulheres muito importantes para a arquitetura nacional e mundial, que merecem ser vistas, conhecidas e lembradas:
- Lina Bo Bardi
Nascida na Itália, Lina se mudou para o Brasil em 1946 e é considerada uma das arquitetas mais importantes da história do país. Dentre seus projetos notáveis está o Masp - Museu de Arte de São Paulo, um dos ícones da arquitetura moderna brasileira. Outras obras marcantes da arquiteta em São Paulo são o Sesc Pompéia, o Teatro Oficina e a Casa de Vidro. Lina também deixou a sua marca nos estados da Bahia e Minas Gerais, tendo projetado obras como o MAM-BA e a Casa do Benin.
- Zaha Hadid
A arquiteta iraquiano-britânica é reconhecida como uma das maiores arquitetas do século 20, tendo sido a primeira mulher a receber o Prêmio Pritzker, considerado o Nobel da área da arquitetura. Ela também foi a primeira mulher a receber Medalha de Ouro do British Architects Gold Medal. Seus projetos tem inspiração futurista, com muitas curvas e formas orgânicas, que mudam a partir da perspectiva do observador. Dentre suas obras de destaque, estão o Museu Maxxi na Itália, o Centro Heydar Aliyev no Azerbaijão e o Guangzhou Opera House na China.
- Kazuyo Sejima
Depois de Zaha Hadid, Kazuyo Sejima foi a segunda mulher a receber o Prêmio Pritzker, em 2010, e está entre as mais importantes arquitetas contemporâneas. Seus projetos trazem transparência, leveza e formas lisas, além de valorizarem a particularidade de cada lugar. Para ela, a arquitetura é como as pessoas se encontram no espaço, e precisa permitir que diversos grupos se reúnam e convivam em harmonia. Dentre seus projetos mais famosos, estão o New Museum, em Nova York, e o Museu de Arte Contemporânea do Século 21, no Japão.
- Norma Merrick Sklarek
A arquiteta norte-americana foi a primeira mulher negra a se formar no curso no país e a ocupar lugares de destaque na profissão, tendo ficado conhecida como a Rosa Parks da arquitetura, graças ao papel de protagonismo e ativismo na área. Tornou-se a primeira mulher negra a fazer parte do AIA - American Institute of Architects, e, depois, o instituto criou um prêmio com seu nome para homenagear profissionais que trabalham pela transformação social da arquitetura. Dentre suas obras mais expressivas, estão o Pacific Design Center e o Aeroporto Internacional de Los Angeles.
- Gabriela de Matos
A brasileira é a primeira arquiteta negra a ganhar o prêmio Arquiteto do Ano do IAB - Instituto Arquitetos do Brasil, o que aconteceu em 2021. A arquiteta tem realizado um trabalho de reconhecimento da herança arquitetônica africana no Brasil, e encabeça o projeto Arquitetas Negras, que busca mapear e divulgar as mulheres negras atuantes na área no nosso país.
Ótimo conteúdo