Como as pessoas vivem as cidades europeias na pandemia?
Embora o Brasil ainda não esteja pronto para o pós-pandemia, muitas cidades no país já adotaram um estilo de vida baseado no "novo normal". Aqui, o coronavírus chegou no final de fevereiro e, infelizmente, ainda contamina em patamar altíssimo. Já as cidades europeias começaram a sofrer com o problema um pouco antes e, no momento, tentam conviver com uma realidade cheia de restrições.
A pandemia ainda parece longe de acabar, mas é preciso reaprender a viver com as limitações que o vírus impõe. O clima, a economia e a situação política do Velho Continente podem ser diferentes, mas também servir de exemplo (positivo ou negativo) para o Brasil. Vamos entender como as cidades europeias vivem o "novo normal" enquanto esperam a chegada da vacina.
Cidades europeias: a vida durante a pandemia
É comum que haja "ondas" de contaminação de viroses. Por isso, muitas cidades europeias já enfrentam uma espécie de "segunda onda" de Covid-19. Veja quais soluções algumas apresentam para tentar seguir a rotina em meio à pandemia e como as pessoas lidam com isso.
Espanha
Com a economia no maior declínio já registrado, o governo espanhol ensaiou uma volta à normalidade em maio, com a abertura de pequenos comércios ainda com restrições e distanciamento.
Empresas com menos de 400 m² poderiam reabrir as suas portas por meio de um sistema de agendamento e sob rigorosas medidas de higiene. Também foram permitidas reuniões de até 10 pessoas mantendo a distância social.
Para preservar os trabalhadores, o governo distribuiu milhões de máscaras na entrada dos metrôs, já que o seu uso era obrigatório em transportes públicos.
Em setembro, a segunda onda chegou antes do previsto em Madri. Trabalhadores construíram arduamente um novo "hospital pandêmico" — apelido dado ao futuro Hospital Isabel Zendal —, com abertura prevista para novembro. No dia 2 de outubro, a cidade se tornou a primeira capital europeia a voltar com o lockdown.
Os moradores estão proibidos de sair da região, exceto para deslocamentos essenciais. Restaurantes e bares reduzirão as suas capacidades pela metade e fecharão mais cedo. Apesar de não ser tão rígido quanto o lockdown anterior, o governo proibiu viagens que não sejam para estudo, trabalho, cuidados de saúde e compras.
Em locais de culto, apenas um terço da capacidade deve ser utilizada, com distância mínima 1,5 m entre os fiéis. Já nas funerárias, o limite máximo é de 10 pessoas em cerimônias fechadas e 15 ao ar livre.
Home office
Entre as cidades europeias, as espanholas se destacaram na adesão ao home office.
Em março, 7 de cada 10 empresas enviaram todos ou parte de seus trabalhadores para casa, fazendo com que mais de 3 milhões de pessoas trabalhassem remotamente durante o confinamento — quatro vezes mais do que antes.
Essa tendência do teletrabalho promete permanecer após a pandemia.
Aluguéis
No geral, as cidades europeias sentiram o baque no turismo e nos aluguéis. Porém, na Espanha, ele foi ainda mais forte: o valor do aluguel caiu nas seis maiores cidades do país.
Portugal
No final de abril, foi a primeira vez em mais de quatro décadas que Portugal não celebrou pelas ruas a Revolução dos Cravos. Mesmo com a alta adesão ao isolamento, a capital portuguesa era o centro epidêmico no país.
Em junho, os casos continuaram a crescer — tanto que a tradicional festa de Santo Antônio, padroeiro de Lisboa, também não foi permitida na rua. O governo mobilizou mil policiais para que a população respeitasse as restrições.
O esforço valeu a pena. Com o passar do tempo, o governo se sentiu mais seguro para liberar alguns serviços e habituar a população ao "novo normal".
A partir das 10h, pequenos comércios, salões de beleza e concessionárias puderam finalmente abrir as portas, mas obedecendo às regras de distanciamento.
Além de comércios, os portugueses foram obrigados a usar máscaras ou viseiras em transportes e prédios públicos. Salões só poderiam atender com agendamento.
Graças a essas medidas, Lisboa se tornou exemplo para outras cidades europeias.
Praias
O calor de julho fez com que várias cidades europeias reabrissem as suas praias. E não seria diferente em Portugal.
Para manter o controle, o município de Oeiras instalou "semáforos" nas entradas das praias. Cada aparelho acende o sinal verde quando a ocupação é baixa, amarelo quando elevada e vermelho na lotação.
Ligados a um aplicativo chamado Info Praia, esses semáforos também informam sobre a lotação para que o usuário possa consultar antes de sair de casa.
França
Uma das cidades europeias mais visitadas por turistas, Paris viu esse setor ruir por conta do coronavírus. Então, veio uma solução inusitada: investir no turismo para os moradores. Parece sem sentido?
Como a capital é um centro histórico e cultural muito forte, ela pôde voltar os seus esforços para vender a experiência parisiense em cafés, restaurantes, passeios de barco e até museus — uma redescoberta de Paris pelo parisiense.
A população aderiu à ideia. Em julho, todas as reservas do Jules Verne, restaurante da Torre Eiffel, estavam completas. Durante o verão, a entrada para os Bateaux Mouches, barcos que cruzam o Rio Sena, eram gratuitas para menores de 12 anos.
Para oferecer segurança e compensar os dois meses de fechamento, cafés e restaurantes foram autorizados a ocupar calçadas, estacionamentos e até algumas ruas pequenas.
Outra medida interessante foi oferecer cardápios mais em conta. O Le Bistrot d'à côté Flaubert criou um menu a € 24 para clientes e trabalhadores locais, que gerou entre 70% e 80% dos lucros de um mês normal de julho.
Conforto no novo lockdown
Em outubro, bares foram fechados, ginásios esportivos e piscinas públicas liberados apenas para menores de idade e estádios limitados a mil pessoas. Essas medidas foram, em um primeiro momento, limitadas a 15 dias, mas logo depois desse período, o presidente Emmanuel Macron decretou um novo lockdown a partir do dia 30.
A tendência foi a mesma de março: estocar produtos. Mas, nessa segunda onda, o parisiense preferiu tudo o que possa trazer conforto e distração durante o isolamento. Artigos esportivos, velas e até tintas para reformar móveis foram alguns dos itens que sumiram das prateleiras.
Itália
Ao contrário das cidades europeias anteriores, Milão foi o exato exemplo do que não fazer durante uma pandemia.
Logo no início, o prefeito Giuseppe Sala incentivou que moradores e turistas continuassem circulando normalmente ao compartilhar um vídeo chamado #MilãoNãoPara, quando o país tinha 14 mortos pela Covid-19.
Essa medida, claro, transformou a capital em um centro pandêmico. Exato um mês após a divulgação, o país registrou 919 mortes em 24 horas, somando 9.134 — 5.402 delas (59%) na Lombardia, região norte do país, da qual Milão é a capital.
A mudança de postura do prefeito foi radical. Em 8 de maio, ele se irritou com a movimentação de pessoas em Navigli, área boêmia da cidade, e ameaçou fechá-la, caso não houvesse uma mudança de comportamento. Os cidadãos estavam sentados confraternizando nos canais e bares do local, muitas vezes sem máscara. A cidade havia liberado a visitação de parentes e relações afetivas no dia 4, mas reuniões de amigos e aglomerações continuavam proibidas.
Tecnologia
Apesar do mau começo, a Itália resolveu virar o jogo. Pesquisadores do país utilizaram um sistema de rastreamento desenvolvido em uma parceria entre Google e Apple e desenvolveram o Immuni.
O aplicativo, disponível para Android e iOS, usa um sistema de notificação à exposição para determinar se o usuário de um smartphone passou pelo mesmo lugar que alguém registrado como infectado.
Sustentabilidade
Torino lançou um projeto-piloto para a utilização de carros híbridos com geofencing. Esse sistema, que por meio de GPS ou RFID aciona uma ação ao entrar em um limite geográfico, vai permitir mudar o motor para elétrico assim que o veículo chegar no centro da cidade.
Cinemas
Além da contenção, as cidades europeias tentam conviver com o "novo normal" enquanto a vacina ainda não é confirmada.
Uma dessas formas é o cinema ao ar livre — um conceito antigo que perdeu público com o passar das décadas.
Na Villa Bardini, em Florença, as cadeiras do cinema ao ar livre eram posicionadas em duas, com uma distância segura entre um par e outro.
A iniciativa faz parte do Moviement Village, um projeto voltado para a reabertura dos cinemas com segurança e rapidez.
Neste artigo, entendemos como foi o andamento da pandemia em algumas cidades europeias e como elas tentam conter uma segunda onda do coronavírus.
Como visto, o mundo precisou se adaptar às mudanças que a doença exigiu. E uma delas, independentemente de contexto, é crucial para evitar o surgimento de novas patologias pandêmicas.
Entenda por que a sustentabilidade deve ser o foco principal no mundo pós-pandemia!
Foto de destaque: A pandemia do novo coronavírus esvaziou as ruas das cidades europeias (Foto: Lteixeira)