Audeum Audio Museum e a arquitetura sensorial de Kengo Kuma
Você provavelmente já viu exposições de pintura e fotografia, conheceu registros fotográficos antiquíssimos e até assistiu ao primeiro filme da história. Mas e a história do som? Qual o registro mais antigo que temos de um barulho? E como os áudios começaram a ser reproduzidos? É esse legado que o Audeum Audio Museum pretende contar.
Localizado em Seul, na Coreia do Sul, o primeiro museu do mundo dedicado ao áudio foi inaugurado em junho de 2024. Entenda um pouco sobre a arquitetura do Audeum Audio Museum e o trabalho de Kengo Kuma, responsável pelo projeto.
Audeum Audio Museum, primeiro museu sobre o áudio do mundo
Localizado em Seocho, um dos 25 distritos de Seul, o museu fica longe da agitação (e da barulheira) do centro da cidade.
Sua estrutura oferece uma bela visão da montanha Cheonggye. A intenção é que o público possa estimular os sentidos humanos e se sentir próximo da natureza.
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Arquitetura e natureza
Muitos edifícios são inspirados nas formas orgânicas. O Estádio Nacional de Pequim tem o formato e a estrutura semelhantes a de galhos formando um ninho de pássaros; já o Museu do Amanhã foi inspirado nas bromélias do Jardim Botânico.
O mesmo acontece com o Audeum Audio Museum. Sua fachada é formada por milhares de tubos longilíneos, que se distribuem como imensas estalactites externas.
Essa gigante persiana de alumínio mostra as mudanças dos raios solares ao longo do dia de acordo com o clima, o tempo e a estação.
Aqui, a intenção é reproduzir um efeito semelhante à luz do sol em uma floresta. Para um efeito ainda mais impressionante, os tubos envolvem o prédio por completo.
Já o interior do Audeum é feito por uma espécie de "cortina de madeira", que enfatiza a suavidade e a naturalidade do material.
O acabamento privilegia a acústica local para que o visitante possa aproveitar a extensa coleção de equipamentos de reprodução sonora do museu.
Ele foi projetado com uma espécie de transição gradual entre a dureza do alumínio duro e a maciez da madeira interna.
No total, são 224.246 metros quadrados que se dividem entre os sete andares de espaço para exposições no Audeum Audio Museum.
Experimentar o som
Qual o sentido de ir a um museu do áudio e não ouvir registros sonoros de décadas passadas? O Audeum Audio Museum proporciona uma experiência imersiva para o visitante.
A intenção, porém, não é apenas ouvir: o Audeum quer que o visitante "experimente" o som utilizando seus cinco sentidos.
Fonógrafo
Para contar a história do áudio, o Audeum Audio Museum conta com aparelhos do mundo inteiro, que datam desde o século XIX até os dias de hoje.
Uma das atrações é o fonógrafo. Criado por Thomas Edison em 1877, o aparelho contava com um alto-falante cilíndrico capaz de gravar e reproduzir sons.
Além dos aparelhos, o Museum conta com um acervo com mais de 100 mil discos.
Exposição inaugural
Sua primeira exposição, “Jung Eum”: In Search of Sound, explora a busca pelo "bom som" e a criação do Hi-Fi (reprodução com a maior fidelidade possível ao som real).
Entre os itens em exposição estão os sistemas de som 16-A e 16-B, da já extinta Western Electric, que foram usados em pequenos teatros em 1932, e o alto-falante Lansing Iconic, de 1937, que deu início à evolução da tecnologia de áudio doméstico.
A Western Electric, aliás, foi uma empresa de engenharia elétrica muito importante para a história do som.
Desenvolvidos em 1926, seus sistemas de som 12-A e 13-A foram os primeiros grandes sistemas de som de cinema do mundo com cornetas em formato de caracol.
Ambos foram considerados responsáveis pelo fim do cinema mudo quando utilizados no filme The Jazz Singer, de 1927.
Kengo Kuma, responsável pelo Audeum Audio Museum
O Audeum Audio Museum foi criado por Michael Chung, fundador da empresa de aparelhos de som Silbatone Acoustics.
Foi ele quem escolheu Kengo Kuma, arquiteto japonês e professor emérito do Departamento de Arquitetura da Universidade de Tóquio, para desenvolver o projeto.
Inclusive, Kuma é conhecido por seus projetos inspirados e em sinergia com a natureza.
Um dos principais marcos do trabalho de Kuma é elaborar projetos que tenham a ver com o contexto histórico, social e ambiental do espaço.
Ao arquitetar um edifício, ele explora e conversa com a arquitetura, a natureza, a história e a geografia daquele distrito.
Em maio deste ano, o arquiteto veio ao Brasil para reuniões com escritórios parceiros e fez um pedido: ir a Petrópolis (RJ) para conhecer os jardins elaborados por Burle Marx.
Os projetos do escritório Kengo Kuma and Associates estão em andamento em mais de 50 países. Alguns dos mais recentes são:
- Asakusa Culture Tourist Information Center, no Japão
- Odunpazari Modern Art Museum, na Turquia
- Dallas Rolex Tower, nos Estados Unidos
- The Morette Memorial, na França
- Moriyama City Hall, no Japão
- The Exchange, na Austrália
- Stone Grove, na Itália
Outra obra recente e marcante de Kuma foi o Estádio Nacional do Japão, construído para os Jogos Olímpicos de 2020. Em 2021, a revista Time o elegeu como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo na categoria Innovators.
Como visto, o Audeum Audio Museum não é apenas um museu localizado, mas integrado a Seul. Em um distrito afastado, ele privilegia o silêncio para que o visitante possa valorizar cada som que desejar ouvir.
Criar espaços harmônicos com o ambiente e que se integram à natureza é uma necessidade crescente da arquitetura. Conheça um pouco mais sobre a integração entre cidades, pessoas e natureza por meio da ecologia urbana.