Arquitetura viking: o que podemos aprender com ela?
Muito conhecidos pela navegação e pela pirataria, os povos vikings não eram tão nômades quanto pareciam. Sim, seu comércio era feito pelos mares, mas seu estilo de vida era mais voltado ao sedentarismo — o que permitiu o desenvolvimento da arquitetura viking.
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Ainda existem diversas ruínas e estruturas que provam a existência da arquitetura viking. E, além das lendas, esses povos ajudaram a desenvolver um estilo de arquitetura e design muito difundido mundo afora: o escandinavo.
Conheça a história e as características da arquitetura viking!
História da arquitetura viking
Os vikings formam a antiga civilização surgida na Escandinávia — região que hoje compreende a Dinamarca, a Noruega e a Suécia.
É até difícil descrever quem seriam os vikings, já que eles não se viam como um povo único, mas como comunidades de uma determinada região. Fazendo um paralelo, é como se eles não se reconhecessem como brasileiros, mas como cariocas, paraibanos ou paulistas.
A palavra "viking" (ou wikinge) só foi utilizada para denominar os povos escandinavos séculos depois. Na Europa, por exemplo, havia diversos termos: nórdicos, normandos, gall, lochlannach, varegos ou varêngios, ashmen, rhos e al-Majus, por exemplo.
Wikinge, aliás, era um termo utilizado no século X pelos ingleses. Em um primeiro momento, significava "pirata" e se referia aos povos que vinham do norte assolar suas terras no verão, saquear mosteiros e vilas e montar acampamentos de guerra.
Só depois de algum tempo começou a se referir aos povos vindos da Escandinávia, especialmente da Dinamarca, de onde vieram os primeiros vikings estabelecidos na Grã-Bretanha. A etimologia da palavra é bem vasta e também se refere à baía de onde esses navegadores vinham.
Em um primeiro momento, pode parecer estranho o termo "arquitetura viking", já que a fama dos vikings vem de suas navegações. De fato, eles tinham um forte comércio marítimo, mas também desenvolveram a agricultura e o artesanato.
Os vikings viveram em pequenas comunidades agrícolas durante os anos de 793 a 1066. Com a chegada dos cristãos e o comércio internacional ganhando força — principalmente o alemão —, os povos da região perderam força.
Características da arquitetura viking
Veja alguns tipos de construções muito comuns na Era Viking.
Ancoradouros
Durante o inverno, os vikings não navegavam. Sempre que não podiam navegar, deixavam suas embarcações em casas de barco ou ancoradouros, edifícios construídos pouco atrás da linha d'água e cavados no chão. As paredes eram feitas de madeira com pedras amontoadas na base.
Os ancoradouros eram muito longos, pois cada navio poderia ter 25 m ou mais. Embora abrigassem apenas um navio cada, muitas casas de barco eram construídas em sequência, uma atrás da outa, para que várias embarcações pudessem ser alojadas.
Fortificações vikings em anel
Trelleborg ou Treleburgo é um nome usado para o conjunto de sete fortificações em formato de anel da Era Viking localizado na Dinamarca e na parte sul da Suécia.
Todos os trelleborgs têm uma forma estritamente circular. Essas estruturas também podem ser parcialmente cercadas por muralhas avançadas, que não precisam ter o mesmo formato.
As sete fortificações são:
- Nonnebakken, na Dinamarca;
- Aggersborg, na Dinamarca;
- Treleburgo, na Dinamarca;
- Borrering, na Dinamarca;
- Treleburgo, na Suécia;
- Fyrkat, na Dinamarca;
- Borgeby, na Suécia.
Casa de rituais
As casas de rituais eram os edifícios religiosos antes da chegada dos cristãos à Escandinávia.
As primeiras casas de rituais eram edifícios simples de madeira, não muito diferentes de outras construções, como as casas longas. Nelas, os vikings exibiam as armas de inimigos derrotados.
Mas com o passar do tempo, elas ficaram muito complexas — praticamente imitavam estruturas de igrejas. Um exemplo dessa mudança foi o telhado multicamadas com decorações nos picos.
As entradas também foram ornamentadas com colunas. A maioria dos rituais (sacrifícios de animais abatidos e queimados) ocorria do lado de fora, então a decoração era basicamente externa.
Casa longa
As casas longas (langhús) eram muito comuns na arquitetura viking. De fato, os vikings gostavam de estruturas grandiosas, onde cabiam muitas pessoas.
Em todas as terras nórdicas, as pessoas viviam nesse tipo de construção, que costumava ter de 5 a 7 m de largura e 15 a 75 m de comprimento, dependendo da riqueza e posição social do proprietário.
Elas eram construídas em torno de esquadrias de madeira em simples pés de pedra. Suas paredes eram feitas de tábuas, troncos, vime e cobertas com a argamassa da época.
Starvkirke
É um tipo de igreja cristã feita de madeira, muito comum na Escandinávia Medieval após a chegada dos cristãos.
O nome tem origem em sua estrutura, formada por postes e vergas de minério de ferro. Atualmente, a maior parte delas se encontra na Noruega.
Os telhados eram, muitas vezes, multicamadas, e geralmente tinham uma torre no meio da camada mais alta. A estrutura era feita de madeira e tinha paredes de pedra ao redor da base.
Do lado de fora, as igrejas parecem casas de rituais com uma arquitetura viking mais complexa. No entanto, o interior era altamente decorado com desenhos intrincados. A maioria retrata Jesus, a cruz ou os discípulos.
As igrejas passaram por diferentes fases, pois retratam o desenvolvimento da arquitetura viking. Em um primeiro momento, suas paredes eram sustentadas por peitoris, e apenas os postes permaneciam ligados à terra. Com o passar do tempo, percebeu-se que eles apodreciam.
Nas construções seguintes, os postes foram colocados em cima de grandes pedras, o que aumentava sua durabilidade. Ainda mais tarde, essas estruturas foram inseridas em uma estrutura de peitoril apoiada em fundações de pedra.
Principais obras da arquitetura viking
Conheça agora algumas construções que simbolizam a arquitetura viking.
Borgring Borrering
Em 2014, cientistas da Dinamarca descobriram uma fortaleza viking em Zelândia, a maior e mais popular ilha do país.
Assim como as outras, ela segue o formato arredondado. Chamada de Borgring, a fortaleza tem 144 m de diâmetro, mas está debaixo da terra. Apenas meio metro dela é visível.
Ao que tudo indica, ela foi muito utilizada durante a Idade Média, pois era preparada tanto para uso social quanto para conflitos militares. A estrutura, no entanto, só foi encontrada graças a equipamentos de laser com capacidade de mapear solo e subsolo.
Os cientistas acreditam que Borgring tinha uma muralha de 10 a 11 m de largura e foi protegida por uma paliçada de estacas de madeira pontiagudas.
Nenhum fosso de fortificação foi descoberto, mas o córrego Ellebækken, que corre a oeste da fortificação, pode ter oferecido uma defesa natural.
Durante a escavação, em 2014, os portões norte e leste foram encontrados exatamente onde eles deveriam estar em uma fortificação do tipo trelleborg.
Fyrkat
Fyrkat é uma antiga fortaleza do anel viking localizada na Dinamarca, provavelmente construída em 980 d.C.
Como outras construções da arquitetura viking, ele segue o modelo circular, com quatro portões opostos uns aos outros e conectados por duas estradas de madeira que cruzam em um ângulo reto no meio exato do forte.
Em cada uma das portas, havia uma casa longa disposta em uma praça com uma casa menor no meio.
No local, atualmente existe a Vikingecenter Fyrkat, uma recriação de uma aldeia com a arquitetura viking da época.
A intenção foi reconstruir a vida viking na época do reinado de Haroldo, o Dente-Azul ou Haroldo I da Dinamarca. Ele foi responsável pela construção da fortaleza de Fyrkat.
Igreja de Borgund
A Igreja de madeira (ou stavkyrkje) de Borgund, na Noruega, é um grande edifício que representa a conversão do povo nórdico ao cristianismo.
Construída por volta do século XII, é a mais célebre e bem preservada de todas as construções eclesiásticas de madeira no país. Curiosamente, não sofreu grandes reconstruções nem mudanças de estrutura desde essa época.
A stavkyrkje de Borgund fica em uma área isolada e só está aberta a visitações entre maio e setembro. Seu estilo arquitetônico único, com pilastras de madeira e diversas águas-furtadas, também conta com outra marca da arquitetura viking: a decoração em estilo nórdico, principalmente com dragões.
Aplicações atuais da arquitetura viking
Exemplo de funcionalidade, conforto e minimalismo, o estilo escandinavo ou nórdico traz a impressão de ambientes mais amplos e clássicos — daqueles que atravessam décadas sem você precisar alterar sequer um lustre.
O estilo foi desenvolvido com mais força nas décadas de 1950 e 1960. Por ser uma região muito fria, as casas da Escandinávia precisavam ser bem confortáveis, já que as pessoas passavam bastante tempo nelas.
Uma grande fonte de inspiração foi o pintor sueco Carl Larsson. Embora tenha vivido muito antes do desenvolvimento do design escandinavo, as obras realistas do artista retratavam o dia a dia familiar na cidade de Sundborn.
Além disso, sua esposa, Karin Larsson, também artista plástica, decorava os ambientes com um estilo único. Assim, a casa dos dois se tornou referência.
Saiba como aplicar o design escandinavo, herança da arquitetura viking, em seus projetos.
Neutralidade
O design escandinavo é caracterizado pelo uso de tons neutros, principalmente branco e cinza. O marrom também aparece pelo grande uso de madeira nas casas — herança da arquitetura viking.
Linhas retas
O design escandinavo privilegia linhas retas e formas geométricas, influenciado pelas obras realistas de Carl Larsson. É muito difícil encontrar móveis redondos ou curvos.
Esse tipo de forma era muito encontrado nos telhados das igrejas vikings. Embora as fortalezas tivessem o formato arredondado, os edifícios em si eram mais geometrizados.
Uso de materiais orgânicos
Apesar de ser um exemplo de minimalismo, a arquitetura escandinava não pode ser confundida com a minimalista. A primeira utiliza muitos elementos naturais, como fibras e madeiras, enquanto a segunda se apoia no uso de plástico laqueado e aço inox.
O uso de madeira é uma herança bem forte da arquitetura viking. Além de proporcionar a sensação de aconchego, o material é um ótimo isolante térmico, ajudando a manter a temperatura amena tanto em épocas quentes quanto frias.
História e arquitetura andam juntas, como se fossem intrínsecas. Afinal, formatos de edifícios, usos de materiais e técnicas construtivas ajudam a desvendar como era a vida de um certo povo em uma determinada época.
Agora que você entendeu como funcionava a arquitetura viking, saiba um pouco mais sobre a asteca!