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Arquitetura religiosa: como contribuir em projetos para diferentes crenças?

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A riqueza da arquitetura religiosa é resultado das doutrinas de diversos povos que, ao longo dos anos, transmitiram suas crenças por meio de imagens, pinturas e detalhes construtivos. As características das igrejas e templos antigos resistem ao tempo e interferem no modo como percebemos e utilizamos os espaços sagrados. Para entender melhor essa relação com o passado, confira algumas referências e maneiras de incorporá-las aos projetos contemporâneos.
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A arquitetura religiosa teve sua importância em tempos antigos e continua influenciando as crenças das sociedades atuais. Para muitos povos, os edifícios com funções sagradas não eram apenas espaços físicos dedicados a cultos, rezas, rituais e cerimônias, mas também monumentos que representavam poder e identidade.

A partir das características apresentadas em seus templos, igrejas e santuários, diferentes civilizações conseguiam obter destaque e visibilidade. Essa análise é encontrada no livro Religious architecture — anthropological perspectives, organizado por Oskar Verkaaik, professor do Centro de Pesquisa de Religião e Sociedade da Universidade de Amsterdam.

Ainda assim, mesmo entendendo a importância da arquitetura religiosa em nível político e social, é necessário considerar que o modo como concebemos um espaço sagrado interfere nas percepções e experiências das pessoas. Portanto, o material (edificação, ambientes, objetos) e imaterial (manifestações de fé) devem sempre andar juntos.

O profissional que se propõe a criar obras desse tipo deve estar atento ao aspecto sentimental de cada elemento escolhido. Neste artigo, vamos abordar os estilos arquitetônicos de algumas religiões e mostrar como eles podem contribuir para o desenvolvimento de projetos para diferentes crenças. Confira!

Budismo

O Budismo surgiu na Índia, se espalhou por toda a Ásia e se adaptou às culturas de diferentes regiões. Na arquitetura budista japonesa, por exemplo, é comum encontrar variantes de estilos chineses na forma de cavernas, estupas e pagodes.

A madeira era o material preferido para a construção dos templos. Os telhados geralmente são altos, curvados e se apoiam em lintéis e colunas. Os beirais avançam além das paredes, que costumam ser móveis, leves e finais como papel.

As divisões dos espaços internos são fluidas, o que permite alterar o layout dos ambientes. A relação interior e exterior é mantida por meio de aberturas que se modificam e que integram a edificação com a natureza e seus recursos.

Entre as obras de destaque, podemos citar o Mosteiro de Takshang (Butão), Angkor Wat (Camboja) e o Templo Branco (Tailândia). No Brasil também há exemplares de templos budistas, como o Zu Lai, em São Paulo.

Incorpore:

  • grandes aberturas, iluminação natural, jardins internos, fontes de água, móveis baixos;
  • decoração: velas, tapetes, arranjos florais, arandelas;
  • símbolos: estátua de buda, flor de lótus, peixes dourados;
  • cores neutras e suaves: branco, verde-claro, marrom, cinza. Pequenos elementos podem ser trabalhados em cores vivas;

Cristianismo

Catedrais, basílicas e igrejas abaciais são as construções que representam melhor a religião cristã. Entre as obras mais famosas, estão a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem (Minas Gerais), o Santuário de Las Lajas (Colômbia), a Catedral de Notre-Dame (França) e a Basílica de São Pedro (Itália).

Os grandes edifícios exibem estruturas complexas, derivadas dos trabalhos dos melhores artesãos de cada época. Na parte decorativa, é possível encontrar esculturas (no interior ou na fachada), pinturas de santos ou profetas, mosaicos e frisos de mármore. Muitos dos símbolos comunicam valores e a mensagem dos Evangelhos.

Incorpore:

  • materiais nobres: mármore, granito (porcelanato estampado);
  • contrastes de cores: tonalidades fortes e suaves;
  • várias aberturas pequenas, altares elevados, ornamentos;
  • símbolos: cruz, terço, lírio, imagens sacras.

Evangélicos

Diferentemente dos seguidores do catolicismo, os evangélicos não têm muitas referências arquitetônicas antigas. Por isso, apostam na funcionalidade e nos recursos empregados em grandes teatros para conceber suas igrejas.

Incorpore:

  • aspectos práticos e itens essenciais para uso do espaço;
  • tratamento acústico, iluminação cênica e assentos confortáveis (sempre aproveitando o máximo da área disponível);
  • materiais e revestimentos em cores claras.

Ortodoxos

Como resultado das diferentes visões de mundo apresentadas por católicos e ortodoxos, é possível verificar algumas mudanças na decoração e concepção de seus templos. As igrejas ortodoxas, a exemplo da Basílica de Santa Sofia (Turquia) e Catedral de São Basílio (Rússia), foram construídas sob várias influências.

Elas representam a união do Céu e da Terra, e trazem o uso exagerado de abóbadas e cúpulas, geralmente cobertas por torres em forma de pináculos. Nos detalhes arquitetônicos, cada cor e número têm seus próprios significados. Também é comum encontrar mosaicos e pinturas sobre madeira representando santos, Jesus e Maria.

Incorpore:

  • símbolos: cruz ortodoxa (tem três barras);
  • cores quentes, em especial o dourado (representa velas queimando em direção ao céu);

elementos que criem uma atmosfera celestial.

Espiritismo

Os centros espíritas apresentam tipologias e distribuições espaciais semelhantes às das igrejas evangélicas. O desenho e organização são quase os mesmos: um salão para reuniões, uma sala de passes separada, uma mesa disposta em local de destaque e, normalmente, um pouco mais elevado que o restante do piso.

O salão de reuniões não traz imagens religiosas, e a parte externa da edificação muitas vezes contém o nome da Instituição, de forma visível e organizada. Em qualquer região, se apresentam como ambientes funcionais, geralmente casas doadas pelos próprios seguidores do Espiritismo e que, por isso, mostram variações no tamanho e estrutura.

Embora esse tipo de arquitetura religiosa se baseie na simplicidade — considerando que a doutrina não tem recursos para grandes aquisições ou construções de templos —, é importante que novos projetos sejam pensados para garantir maior conforto e aproximação entre os frequentadores do local.

Incorpore:

  • cores claras: preferencialmente o branco, que significa iluminação e espiritualidade; e o violeta, que representa o mistério da reencarnação;
  • símbolos: ramo de videira, cepa ou parreira, flor violeta, borboleta;
  • poucos objetos e elementos. Um toque a mais pode ser dado com plantas ou com tecidos (cortinas, toalhas de mesa) que agreguem textura.

Judaísmo

Os cultos da religião judaica serviam grupos locais de judeus em diferentes lugares. Eles eram realizados nas sinagogas, edificações utilizadas para adoração a Deus e aprendizado das escrituras. Entre as obras recentes, estão o Centro Judaico de Munique e Sinagoga Ulm (ambas na Alemanha), e o Centro Comunitário C.I.S. (Chile).

As construções do Judaísmo têm um propósito triplo. O primeiro é servir como casa de preces e orações. O segundo é oferecer local para estudos da Torah e do Talmud. Por fim, uma sinagoga também é tratada como ponto de encontro da comunidade, ou seja, um grande centro onde ocorrem todos os debates e decisões.

Após a emancipação judaica na Europa, os judeus buscaram maneiras de expressar sua nova posição nos países onde viviam. Portanto, construções modestas, requintadas apenas no interior, passaram a apresentar detalhes luxuosos e fachadas adornadas. O resultado pode ser visto nas diversas sinagogas monumentais encontradas hoje.

Mesmo com a liberdade para construir espaços majestosos, não foi possível desenvolver um modelo de arquitetura religiosa judaica. Com isso, as principais referências foram obtidas na mistura de vertentes, entre elas: gótico, bizantino, mourisco e neoclássico. Assim, diferentes sinagogas podem apresentar mais ou menos influência de cada estilo.

Incorpore:

  • espaços voltados para o exterior (solução que representa a valorização da arquitetura judaica e a visibilidade conquistada com o tempo);
  • escritas decorativas com caligrafia hebraica;
  • decoração: símbolos, Estrela de Davi, candelabros (Menorah), velas;
  • cores: branco, azul-celeste, prata e dourado (citadas na Torah e relacionadas a objetos com finalidades específicas).

Islamismo

A mesquita é o edifício islâmico por excelência. É o local de encontro para a oração, reflexão e descanso do povo muçulmano. O estilo e layout desse tipo de arquitetura é moldado pelas tradições regionais e lugar onde foi construída. Por isso, a decoração e outras características estéticas costumam variar muito.

Muitas mesquitas contam com um pátio aberto com uma grande sala de oração. Além disso, trazem um nicho na parede indicando a direção de Meca, para a qual os muçulmanos rezam. Outros elementos de destaque são o minarete (torre alta e estreita), usado como lembrança visual do Islã, e as cúpulas, representação do céu.

Entre as obras mais famosas, estão Masjid al-Haram (Arábia Saudita), Al-Aqsa (Israel), Sultan Ahmed (Turquia), Badshahi (Paquistão) e Taj-ul-Masajid (Índia). É possível verificar a imponência das torres em todos os exemplares citados.

Incorpore:

  • lâmpadas pendentes: a luz é essencial nas mesquitas, considerando que a primeira e a última oração do dia ocorrem antes do nascer do sol e após o pôr do sol;
  • motivos geométricos, arabescos, estampas estelares ou vegetais;
  • inscrições caligráficas com citações do Corão;
  • cerâmicas, tapetes, artesanato em madeira ou metal;
  • ambientes coloridos, ricos em detalhes ou com pinturas em miniatura;
  • pátios, fontes e jardins.

O estudo das doutrinas possibilita produzir uma arquitetura religiosa em diferentes escalas. Seja em grandes construções de igrejas, seja em projetos residenciais menores, seu papel como profissional deve envolver a criação de um espaço peculiar e que respeite as crenças de quem o utiliza.

Gostou de relembrar aspectos de obras importantes? Para continuar se inspirando, confira o nosso artigo sobre herança arquitetônica: quando construções antigas viram projetos modernos!

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