Arquitetura medieval: construções religiosas e monumentais
Edifícios que nos remetem a um mundo antigo, único, paralelo; a um conto de fadas. Essa é a arquitetura medieval, que resiste ao passar do tempo e à evolução da engenharia.
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No entanto, mais do que algo "lúdico", a arquitetura medieval mostra como construções são capazes de explicar contextos históricos.
Para um povo iletrado, elas também são capazes de ensinar — principalmente as normas da Igreja Católica, que ditava as regras na época.
Conheça a arquitetura medieval e seus diferentes estilos!
A história da arquitetura medieval
Como o nome indica, a arquitetura medieval se desenvolveu principalmente durante a Idade Média na Europa, que começou com a queda do Império Romano (476) e terminou com a queda de Constantinopla (1453), capital do Império Bizantino. Claro, isso não significa que suas manifestações arquitetônicas tenham começado e terminado nessas datas, mas seu desenvolvimento e auge foi nesse período.
Apesar de ser muito associada à regressão intelectual e cultural — principalmente pelo termo "Idade das Trevas", utilizado pelos humanistas do século XVII —, a Idade Média não foi apenas uma época de retrocesso. Esse termo pejorativo, aliás, limita quase mil anos de desenvolvimento humano a uma obscuridade que pode ser enxergada em diversos momentos da história.
A arquitetura medieval é um exemplo disso. Igrejas, fortificações e castelos revelam uma época de desenvolvimento que reflete a preocupação estética arquitetônica aliada a uma estabilidade na engenharia. Mas simboliza, é claro, a fé que imperava na época.
As características da arquitetura medieval
As construções da época seguiam algumas premissas:
- padrões nas construções de igrejas e templos;
- temáticas religiosas, principalmente católicas;
- fachadas de três arcos (arquitetura gótica);
- construções grandiosas;
- técnicas inovadoras;
- riqueza de detalhes.
Os estilos consagrados
Apesar de termos a impressão de que a arquitetura medieval é composta apenas por castelos de contos de fadas, suas construções seguiam estilos diferentes.
Elas tinham dois objetivos: queriam se aproximar de Deus e proteger os nobres da invasão germânica. Portanto, são grandiosas e sólidas.
Pré-românico
A arquitetura medieval pré-românica ocorre logo no início da Idade Média, entre os anos 500 e 1000. Nesse contexto, surge com o Reino Merovíngio (481 a 751) ou com o Renascimento Carolíngio (751 a 843) e dura até o começo do período românico, no século XI. Caracteriza-se principalmente pelos grandes monumentos encontrados no sul e oeste europeus.
Esse estilo absorve formas da Grécia Antiga e da arte cristã primitiva, além dos povos germânicos e mediterrâneos. Nessa época, os germânicos chegaram à região, se estabeleceram e aceitaram o Cristianismo. Foi aí que as construções — principalmente eclesiásticas — deixaram de ser de madeira e passaram para a pedra.
Românico
O período românico, como o nome indica, surge com a influência romana nas artes e na arquitetura.
As construções mais importantes foram criadas na França e na Itália durante os séculos XI e XII, mas marcam o continente europeu por inteiro.
Carrega bastante da arte pré-românica, como o estilo mais pesado, com paredes bem grossas, poucas janelas e entrada de luz escassa.
O estilo da arquitetura medieval românica funciona como uma transição entre a pré-românica e a gótica. Por isso, pode ser dividido em duas eras.
De 1070 a 1100, igrejas e templos eram maiores, mais escuros e sem detalhes. Já de 1100 a 1170, quando igrejas menores foram construídas e reformadas, o estilo se tornou mais detalhado e ornamental.
Também caracterizam o período os ícones, as pinturas sacras em disposição tríptíca (quadro médio maior e pontas com pinturas menores) e os mosaicos vitrificados.
Gótico
O estilo gótico é muito rico, detalhado e, provavelmente, o mais chamativo da arquitetura medieval.
Por ter nascido na França, especificamente na Île-de-France, o estilo era conhecido como arquitetura francesa. Foi só a partir do Iluminismo que surgiu o termo "gótico".
Algumas características da arquitetura medieval gótica são:
- vitrais: são vidraças compostas por vidros coloridos. Representam cenas ou personagens — na época, sempre bíblicos. Grandes, aumentavam a iluminação interna das catedrais, que se tornaram claras. A luz estaria relacionada ao divino;
- rosáceas: também iluminavam o interior das construções, mas tinham tamanho menor. Da mesma forma que os vitrais, remetiam ao bíblico. Quando em formato de flor, representavam Maria. Já o sol era um símbolo para Jesus Cristo;
- arcobotantes: estruturas em formato diagonal que ficavam na parte externa. Elas se apoiavam em algum contrapeso para manter paredes e colunas em pé;
- florão: adorno feito de pedra em formato de pinha. Decorava o interior e o exterior de construções;
- tímpanos: são arcos pontudos que ficavam logo acima dos portões. Costumavam ser três;
- torres: normalmente em dupla, na fachada. Muitas igrejas ainda mantêm esse formato;
- igrejas muito altas e imponentes, com paredes mais finas;
- estátuas e gárgulas.
Os tipos de construções medievais
A arquitetura medieval também se modificava conforme a classe social do cidadão.
Religiosos
Grande parte das obras da arquitetura medieval é relacionada à crença religiosa. O mais interessante é que cada estilo retrata as mudanças do Cristianismo durante esse período.
Os cristãos usavam as construções para se aproximar de Deus de diversas maneiras.
Enquanto o altar, as imagens e os detalhes seriam maneiras de levar a Igreja ao plano superior, as estruturas chamativas e ornamentadas tinham como objetivo mostrar o poder divino ao povo.
Civis
Escuras e sujas, as cidades eram formadas por bairros e praças protegidos por enormes muros de pedra. A (falta de) segurança, aliás, era o que ditava a arquitetura medieval civil.
Móveis rústicos e poços de água eram exclusividades dos abastados. Já os pobres sofriam com residências escuras e fechadas. Não havia iluminação pública, tampouco tratamento de esgoto.
As casas eram feitas de madeira e pedra; os únicos materiais disponíveis na época. A pouca circulação de ar protegia do calor e do frio. No andar térreo das residências funcionavam comércios e oficinas.
Militares
Fortificações são os exemplos não religiosos mais notáveis da arquitetura secular medieval.
As janelas tinham um formato de cruz, pois forneciam um encaixe perfeito para um besteiro — soldado armado com uma besta — atirar com segurança em invasores.
As paredes com ameias serviam como abrigos para os arqueiros nos telhados se esconderem enquanto não atiravam nos invasores.
Castelos
Os famosos castelos, símbolos da arquitetura medieval, visavam principalmente a proteção do reino contra invasões.
Começaram a ser construídos por volta do ano de 800 e são, com as igrejas, as construções mais famosas da época.
Além da ideia de aproximar os reis de Deus, os castelos tinham como objetivo fazer uma alusão ao poder divino em relação ao homem. Por isso, eram sempre opulentos, detalhados e rígidos.
Gárgulas
Do francês gargouille ("gargalo" ou "garganta"), as gárgulas eram representações de figuras grotescas e obscenas, com provável inspiração egípcia. Curiosamente, elas serviam de adorno para diversas igrejas na época da arquitetura gótica.
Elas tinham o objetivo de esconder os canos que faziam o escoamento da água — o líquido passava pela garganta das estátuas, daí o nome delas.
Mas não era apenas pela garganta que a água escoava. Há diversas representações de gárgulas obscenas, em que o cano desembocava no ânus da estátua. Não há uma explicação específica para isso — de fato, existem registros de religiosos que reclamavam desse tipo de representação —, mas as teorias são muitas.
Uma delas é de que as gárgulas serviam para "expurgar" ou "defecar" os pecados de dentro da igreja. Já outra diz que o grotesco representa o pecado, a vida sem salvação divina. E como a população geral da Idade Média era iletrada, essas gárgulas tinham um objetivo, de certa forma, educacional.
As principais obras da arquitetura medieval
Agora, conheça obras que marcaram a Idade Média.
Basílica de Saint-Denis
Marco histórico da arquitetura gótica, a Basílica de Saint-Denis teve seus primeiros anos no governo de Dagoberto I (628 – 637) como uma abadia beneditina.
Sua reconstrução ocorreu por volta de 1137, sendo anexada a outra abadia, que era também uma residência real.
A basílica é conhecida como o Cemitério Real da França. Excetuando três dos monarcas do século X até 1789, todos os outros têm seus restos mortais enterrados lá.
Catedral de Milão
Construída em 1386, a Catedral de Milão é uma das mais célebres construções da arquitetura medieval.
Sua complexidade pode ser vista ainda pelo lado externo, que conta com cinco portas de entrada e dezenas de torres.
Já seu interior tem cinco naves com uma altura que chega aos 45 m, divididas por 40 pilares.
Castelo de Lichtenstein
Também conhecido como Castelo dos Contos de Fadas, o Castelo de Lichtenstein fica em um penhasco nas Montanhas Suábias, na Alemanha.
Construído aproximadamente em 1200, o edifício foi destruído algumas vezes. Depois de 1381, ele esperou por quase 500 anos até ser reconstruído novamente.
No entanto, mantém características da arquitetura medieval, como as torres e o telhado triangular.
As aplicações atuais da arquitetura medieval
Por fim, veja como algumas das características da arquitetura medieval se perpetuam até hoje.
Portões de três arcos
Mais comuns em construções históricas, os portões com topos arredondados também são vistos em residências de grandes proporções. Eles aparecem tanto como entrada quanto em casas com pé-direito alto.
Torres
Torres, principalmente duplas, ainda são muito vistas em igrejas do interior e na região do Seridó, no Rio Grande do Norte, além da região sul.
No geral, as torres são uma característica ainda muito forte para a identificação de paróquias por todo o país, o que as diferencia de construções evangélicas.
Vitrais
Os vitrais acabaram se perdendo na arquitetura, mas ainda são vistos em igrejas e outros tipos de construção, principalmente no Rio de Janeiro.
Isso porque o estado sedia uma das últimas fábricas de vitrais do mundo: a Luidi e Gonçalves Vitrais.
É possível observar esse tipo de arte no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Confeitaria Colombo, nos palácios Laranjeiras e Pedro Ernesto e na Ilha Fiscal.
A arquitetura medieval é resistente, com trabalhos de restauração até hoje. As igrejas são as construções mais marcantes, já que são reflexos da época.
Aqui no Brasil, a fé também se faz presente em construções que representam o contexto histórico e cultural do país. Conheça igrejas brasileiras com arquitetura inesquecível!