E se o Instagram acabasse hoje?
Para arquitetos e designers, as redes sociais são, atualmente, o maior meio de divulgação do seu trabalho. No nosso caso não é diferente, o mundo digital sempre foi nossa principal estratégia de marketing, desde que fundamos o escritório. Seja para expor nosso portfólio, no site, blog e nas mídias sociais, onde encontramos pessoas que se tornaram clientes, seja para construção dos nossos contatos com prestadores de serviço e colegas na mesma área de atuação. Até hoje grande parte dos clientes chegam até nós por esse caminho.
Tudo isso, junto às demandas que a profissão exige, nos permitiu consolidar o nosso negócio mesmo sem uma rede extensa de contatos ou um alto investimento financeiro em marketing. Pois, embora demande bastante tempo de quem o produz, o marketing digital ainda é mais acessível e democrático, se comparado às mídias tradicionais (revista, tv e rádio).
Esse artigo está longe de ser uma crítica à internet ou seu uso no âmbito profissional, afinal, caro leitor, é graças a ela que mantemos nosso contato mensalmente. É, sim, uma crítica ao contexto atual, que exige que todos os profissionais sejam, além do papel que desempenham como arquitetos/designers, também influenciadores digitais.
Onde sentimos que, para atuar em nossa carreira, é obrigatório disponibilizar grande parte do tempo produzindo para as redes sociais em uma velocidade que atenda os desejos do tão temido algoritmo.
Uma dependência que não se limita a nossa área de atuação e tem se tornado a regra de mercado para diversos profissionais, especialmente os profissionais liberais, responsáveis por executar grande parte das atividades do próprio negócio: captação de clientes, divulgação, atendimento, visitas em campo, desenvolvimento das atividades, controle financeiro, contratação, dentre tantas outras atividades que um empreendimento exige.
A lógica firmada com a ascensão do Instagram nos últimos anos é uma corrida constante de produção de conteúdo. Onde a informação é produzida, consumida e some em poucas horas, sendo necessário uma criação desenfreada. Completamente diferente de um blog, por exemplo, em que o ritmo de produção é mais lento, possibilitando um aprofundamento de assuntos, com tempo de retenção muito maior.
É necessário ter em mente que, por si só, o influenciador digital é um profissional. Pensando dessa maneira é importante a reflexão: nossa carga horária de trabalho nos permite desempenhar um papel como arquitetos/designers e produzir conteúdo como influenciadores digitais? É possível lidar com todas as demandas profissionais do dia-a-dia e ainda produzir dezenas de stories, enquetes e posts no modo que a internet nos exige?
Dar conta de cronogramas gigantescos na velocidade das redes sociais está em total descompasso com o tempo do nosso trabalho. Ignora o tempo para elaboração de uma ideia, da produção criativa, do desenvolvimento de um projeto, do contato com o cliente e, até mesmo, o prazo para execução de uma obra.
Mantendo essa rotina dupla, em um ritmo frenético de entrega, comparando dados, métricas e taxas de engajamento, uma hora a conta chega e a exaustão vem. No pós-pandemia, nem se fala, passamos ainda mais horas em frente a telas, não há saúde mental que resista.
Falando dessa maneira pode parecer que sempre pensamos assim, mas não se enganem, nem sempre tivemos essa consciência. Os primeiros anos do escritório nos exigiram muitas horas de produção de conteúdo, divulgação dos mais diversos tipos e o cansaço também bateu por aqui. Seguir profissionais que produzem com propósito - ao longo do texto você vai conhecer alguns deles - sem rotinas fantasiosas, nos deu mais clareza para entender o nosso ritmo.
Ricardo Meira é arquiteto e professor, especialista em gestão e marketing para arquitetos. Acompanhar suas redes sociais é um alento para quem se sente sugado pelo cansaço da rotina dupla. O arquiteto compartilha suas inquietações e, frequentemente, a de outros colegas (através de espaços de pergunta), para mostrar que é normal não ter tempo para tudo, é esperado que o foco principal seja a vida fora das telas, e que é importante estabelecer limites e saber dizer alguns “nãos”.
Nem sempre os números do Instagram são medida de sucesso profissional. Como encontrar o equilíbrio? Primeiro, evitando comparações. Qual seu propósito? É importante produzir o que faz sentido para cada profissional, a seu modo e ritmo. Depois de tanta exaustão, trabalho e produção a gente quer saber de você: e se o Instagram acabasse hoje?