11.09.2020
Avaliação 
Avalie
 
Sem votos
Avaliar

Um ano sem eventos

 minutos de leitura
calendar-blank-line
11.09.2020
Como o mercado de design se adaptou à impossibilidade de realização de feiras e outros encontros presenciais, devido à pandemia de 2020.
minutos de leitura

Todos os anos, em setembro, a equipe de desenvolvimento de produto Portobello, acompanhada de profissionais de arquitetura parceiros, faz as malas e parte para Bolonha, na Itália, para participar da Cersaie, principal feira de revestimentos cerâmicos do mundo. 

Mas lá em março a trend forecaster Li Edelkoort já previa que nada disso aconteceria em 2020. “Qualquer pessoa que ainda esteja planejando um evento público para os próximos meses deve parar a organização hoje e encontrar maneiras inovadoras de se comunicar”, avisou Li, quando o coronavírus ainda parecia uma ameaça distante no Brasil.

Realmente a pandemia de Covid-19 fechou fronteiras e impediu a realização de grandes eventos presenciais em todo o mundo. Setembro chegou sem melhoras da pandemia em âmbito global. Ainda que a Europa já esteja vivendo uma gradual retomada das atividades, as fronteiras seguem devidamente fechadas. A edição desse ano da Cersaie foi cancelada, com a justificativa de impossibilidade de presença de profissionais internacionais.

Por outro lado, a principal resposta ao ano sem eventos presenciais tem sido a adaptação para o ambiente digital. A Cersaie investiu fortemente em conteúdo online. Na série de vídeos Here and Now, o historiador de arquitetura Francesco Dal Co, diretamente da vazia Veneza, discutiu a situação atual com os arquitetos Renzo Piano, de Paris; Norman Foster, da Suíça; Toyo Ito, de Tóquio; Frank Gehry, de Los Angeles; e Eduardo Souto de Moura, de Porto. 

O historiador de arquitetura Francesco Dal Co entrevista o Pritzker Norman Foster, na programação digital da Cersaie
O historiador de arquitetura Francesco Dal Co entrevista o Pritzker Norman Foster, na programação digital da Cersaie

Notou algo em comum entre esses nomes? Sim, todos possuem uma estatueta Pritzker, maior prêmio de arquitetura, na estante. As conversas são espontâneas e fascinantes, tratando principalmente de arquitetura e design, mas também explorando campos relacionados, oferecendo visões únicas do mundo contemporâneo. Perde-se no calor do contato humano presencial, mas ganha-se em democratização – qualquer pessoa pode assistir a esses conteúdos sensacionais online.

Eventualmente, depois da Cersaie, parte do time Portobello ainda visitava a Bienal de Veneza, em uma abrangente viagem de pesquisa e inspiração. A Bienal, que esse ano seria de Arquitetura, a princípio foi adiada para 29 de agosto, na esperança de uma melhora da crise, para depois ficar para 2021, empurrando a Bienal de Arte para 2022.

Por ironia do destino, o tema proposto pelo curador Hashim Sarkis no início do ano era justamente: Como viveremos juntos?. Essa pergunta faz ainda mais sentido agora, nessa situação que nos impossibilita de conviver, especialmente nas aglomerações que feiras e bienais costumam implicar.

“De que maneira a arquitetura poderia oferecer soluções para minimizar as consequências desta nova crise mundial?”, indagou Ole Bauman, historiador alemão, curador de arquitetura e diretor da Design Society do Victoria and Albert Museum, em texto de protesto contra o adiamento da Bienal de Arquitetura de Veneza

É frustrante que, em um momento de tantas transformações e incertezas, não possamos nos reunir com nossos pares profissionais para pensar e compartilhar soluções. Em bienais, feiras e fóruns, sempre ocorreram trocas entre arquitetos, designers, urbanistas e simpatizantes. Com a globalização do século 21, esse intercâmbio se tornou marcadamente internacional.

Mas, felizmente, há outras maneiras de comunicação e criação. Ainda em maio, antes da confirmação de que realmente não haveria Bienal de Arquitetura de Veneza em 2020, a Federação Russa já anunciava que sua exposição Open? seria inteiramente online. A transformação do pavilhão em plataforma digital foi uma maneira de garantir a continuidade dos projetos.

O curador russo Ippolito Pestellini Laparelli afirmou em seu anúncio: “Decidimos transformar as limitações impostas por essa crise em uma oportunidade de experimentar um ‘espaço’ e um formato diferentes e questionar o papel e as funções das instituições culturais”. Com a mudança de perspectiva, a reforma arquitetônica do Pavilhão Giardini, projeto do escritório Kasa, deixou de ser a ambição russa para a Bienal de Arquitetura de Veneza. 

Cena do videogame do artista Mikhail Maximov que permite visitar o Pavilhão Giardini virtualmente
Cena do videogame do artista Mikhail Maximov que permite visitar o Pavilhão Giardini virtualmente

Em seu lugar, foi criado o site pavilionrus.com, com conteúdos como podcasts, filmes, entrevistas em vídeo, palestras, apresentações musicais ao vivo e até um videogame. O artista russo Mikhail Maximov criou um jogo que permite experimentar o próprio Pavilhão Giardini, num contexto pós-apocalíptico.

Não teve tanta sorte o Salone del Mobile, outro grande evento italiano cancelado. Sequer houve tempo de pensar em uma substituição digital. Inicialmente a feira estava marcada para 21 a 26 de abril, foi adiada para 16 a 21 de junho, mas acabou sendo definitivamente cancelada em 27 de março. Em 21 de fevereiro, foram confirmados os primeiros casos de Covid-19 em italianos. No final do mês, a Itália já era o país mais atingido da União Europeia, impossibilitando os organizadores do Salone e eventos paralelos criarem qualquer versão online. 

O cancelamento teve enorme impacto na economia de Milão. Somente o Salone del Mobile movimenta cerca de 120 milhões de euros. Outros 250 milhões de euros são gastos pelos visitantes internacionais na cidade nesse período. A feira e os eventos do fuorisalone atraem cerca de meio milhão de pessoas todos os anos. 

Outros eventos de design pelo mundo cujas versões presenciais foram canceladas são: Biennale Interieur, Berlin Design Week, Design Miami/Basel, Frieze London, iF Design Award Ceremony and Exhibition, Maison&Objet, Frieze New York, ICFF, NeoCon e SP-Arte.

Uma pesquisa de Oxford revelou que 406 mil empregos do setor criativo do Reino Unido foram perdidos em 2020 devido à pandemia de Covid-19. O prejuízo foi de 74 bilhões de libras. A pesquisa indica que o setor criativo foi impactado com o dobro da força do que o resto da economia. Pré-pandemia, o setor criativo crescia cinco vezes mais que o resto da economia do país.

The Hothouse, uma das instalações físicas do London Design Festival. A estufa de vidro permite o cultivo de plantas pouco comuns no Reino Unidos. Projeto do paisagista Tom Massey em parceria com o escritório de arquitetura Studio
The Hothouse, uma das instalações físicas do London Design Festival. A estufa de vidro permite o cultivo de plantas pouco comuns no Reino Unidos. Projeto do paisagista Tom Massey em parceria com o escritório de arquitetura Studio

A reação, no entanto, já está a caminho. O London Design Festival está confirmado para acontecer de 12 a 20 de setembro – provavelmente o único grande evento de design mantido desde a chegada da pandemia ao ocidente. Os fundadores Sir John Sorrell e Ben Evans, com apoio do prefeito de Londres, decidiram dar continuidade ao festival. “Houve grande consenso de que deveríamos manter e é importante que a comunidade do design fique junta nesses tempos desafiadores”, declararam.

O evento, claro, será diferente esse ano. Não são esperados visitantes internacionais. “Será um festival para os londrinos, com foco no local”, afirmaram. Além das instalações físicas, que poderão ser visitadas presencialmente, haverá, claro, muito conteúdo online (londondesignfestival.com).

Unity, de Marlene Huissoud, uma das instalações do London Design Festival. A obra precisa ser inflada pelos visitantes, por meio de bombas de ar ativadas com os pés. A proposta é valorizar a importância das pessoas trabalharem
Unity, de Marlene Huissoud, uma das instalações do London Design Festival. A obra precisa ser inflada pelos visitantes, por meio de bombas de ar ativadas com os pés. A proposta é valorizar a importância das pessoas trabalharem

O London Design Festival, local e híbrido entre presencial e virtual, parece ser um bom exemplo para outros países que já tem a epidemia controlada internamente, enquanto não houver vacina ou contenção da pandemia em nível global. Em grande parte, 2020 foi realmente um ano sem eventos. Porém a necessidade humana de conexão e o caráter criativo do mercado de design estão impulsionando novas soluções.

--

Foto de destaque: 0 Designers do projeto Connected, do London Design Festival. Eles foram desafiados a criar uma mesa e uma cadeira para home office.

Compartilhe
Avaliação 
Avalie
 
Sem votos
VOLTAR
ESC PARA FECHAR
Minha avaliação desse conteúdo é
0 de 5
 

Um ano sem eventos...

Um ano sem eventos

  Sem votos
minutos de leitura
Em análise Seu comentário passará por moderação.
Você avaliou essa matéria com 1 estrela
Você avaliou essa matéria com 2 estrelas
Você avaliou essa matéria com 3 estrelas
Você avaliou essa matéria com 4 estrelas
Você avaliou essa matéria com 5 estrelas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *



Não perca nenhuma novidade!

Assine nossa newsletter para ficar por dentro das novidades de arquitetura e design no Brasil e no mundo.

    O Archtrends Portobello é a mais importante fonte de referências e tendências em arquitetura e design com foco em revestimentos.

    ® 2024- Archtrends Portobello

    Conheça a Política de Privacidade

    Entenda os Termos de Uso

    Veja as Preferências de Cookies