Soft Tech: 4 dicas culturais para refletir sobre a tendência de 2022
Com a pandemia de Covid-19, o uso de diversos recursos digitais teve um "boom", fazendo com que a gente passasse a viver em um mundo que transita entre o real e o virtual. Pois essa é uma tendência que veio para ficar, mas com um caminho bem delineado: o Soft Tech, ou "tecnologia leve", que aborda esse híbrido entre a tecnologia e o mundo real.
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A Soft Tech foi mapeada pela Portobello em seu Trend Book, um vasto estudo sobre tendências de comportamento da sociedade. O conceito por trás dela é que a interação com o mundo online seja mais equilibrada, objetiva e, ao mesmo tempo, sustentável.
A tendência Soft Tech enxerga as interações virtuais como extensões da vida física. Entenda mais sobre o assunto a seguir e confira dicas culturais que abordam e ajudam a refletir mais a respeito.
O que é Soft Tech
Como dito, a pandemia fez com que a tecnologia fosse incorporada em novos espaços. Home office, ferramentas de estudo e videoconferências já existiam, mas tiveram o uso intensificado nessa nova realidade. Mas Soft Tech não para por aí.
Metaverso
A Soft Tech também fala da importância da realidade virtual (ou metaverso) como uma forma de escapismo do mundo físico. Apesar de suas possibilidades fantasiosas, aqui o metaverso é visto como uma extensão da vida cotidiana, um mundo virtual que também é real. Eventos inteiramente digitais e hiper-realidade 3D são partes dessa tendência.
Globalização
Essa possibilidade de ir a um mundo virtual já foi bem experimentada em jogos, como Second Life e The Sims, mas também em outros que abordam histórias mais fantasiosas — eles também permitem uma boa interação entre os usuários.
O metaverso, no entanto, é mais "realista": o usuário pode ter casa, relações sociais e ir a festas dentro desse mundo. É uma forma de globalização: é possível interagir com pessoas do mundo inteiro, como se estivesse presencialmente com elas.
Sustentabilidade
A Soft Tech também aborda como esse híbrido entre real e virtual pode acontecer de maneira sustentável, sem oferecer impactos negativos em uma escala mais ampla. A união entre empresas e governos, por exemplo, pode favorecer a criação de empregos em setores que passam por modernização tecnológica sem que isso traga também perda dos direitos trabalhistas.
4 dicas culturais para entender melhor o que é Soft Tech
Veja livros e podcasts que abordam o assunto de maneiras diferentes:
1. Sofia (podcast)
Imagine a união de podcast, série, ficção científica e um grande elenco contando tudo isso. Em "Sofia", áudio série original do Spotify, acompanhamos a história de Helena (Mônica Iozzi), uma mulher que sempre sonhou em abandonar sua cidade natal.
Ao conseguir um emprego como uma das milhares de operadoras da assistente virtual Sofia (Cris Vianna), Helena, de certa forma, adentra a realidade dos usuários — que não sabem que a assistente virtual é, na verdade, real.
A história traz bem esse híbrido entre real e virtual, trabalho e vida pessoal, relações com máquina e humanos. A assistente real-virtual sabe de tudo da vida dos usuários e age como uma amiga de infância.
Mas a Soft Tech não fica apenas na história. Pensada como uma série em áudio, "Sofia" nada mais é do que uma nova roupagem para uma antiga conhecida: a radionovela.
Outro fator interessante é que há diversas versões da história para países diferentes: a Sofia brasileira é a Sonia mexicana, a Sara francesa e a Susi alemã.
2. Sentidos do trabalho (podcast)
Produzido pela float, o podcast Vibes em Análise, disponível no Spotify, traz os pesquisadores e psicanalistas André Alves e Lucas Liedke falando sobre diversos assuntos que pautam os tempos atuais, num formato que mais parece uma sessão de análise.
No primeiro episódio, intitulado Sentidos do Trabalho, os psicanalistas usam diversas referências para abordar o contraste entre o futuro otimista do mercado do trabalho versus a realidade atual, com alta taxa de desemprego, insatisfação, cansaço e alta carga de tarefas para quem está empregado.
O episódio aborda, principalmente, os resultados do estudo Vibes do Trabalho, que fala sobre a positividade tóxica, a meritocracia e o neoliberalismo tecnológico.
3. Who owns the future? (livro)
NFT, criptomoeda, moda digital. O desenvolvimento de produtos e serviços que só existem no mundo virtual está em alta. Pioneiro da internet e um dos pais da realidade virtual, Jaron Lanier já quis fazer as pessoas largarem as redes virtuais, pois elas estariam acabando com nosso senso de empatia. Hoje, ele mantém uma visão não muito positiva sobre o futuro e as relações sociais.
No livro "Who owns the future?", o pesquisador e cientista social afirma que a ascensão das redes digitais levou a economia à recessão e dizimou a classe média. Agora, à medida que a tecnologia achata cada vez mais indústrias de inúmeros segmentos, a sociedade enfrenta desafios ainda maiores para criar empregos e aumentar a riqueza pessoal.
Lanier, no entanto, propõe uma alternativa para uma nova economia da informação que estabilize a classe média e permita que ela cresça. É o momento para pessoas comuns serem recompensadas pelo que fazem e compartilham na web.
4. Round 6 (série)
Até que ponto é possível ir diante de uma dificuldade financeira?
A série sul-coreana Round 6, disponível na Netflix, nos apresenta um grupo de pessoas com graves problemas financeiros que são convidadas a participar de um jogo para ganhar um prêmio milionário. O problema é que o desafio logo se transforma em uma carnificina, em que a competição pelo dinheiro se transforma em luta pela sobrevivência.
Apesar de não falar diretamente sobre tecnologia, Round 6 aborda diversos assuntos relacionados à Soft Tech: o uso de recursos avançados para a exploração dos menos favorecidos, individualismo, injustiças sociais e o abuso de classes mais altas sobre as mais baixas.
No fim, a série, que mais parece um terror social, traz camadas mais profundas sobre a sociedade sul-coreana, mas que podem ser adaptadas à realidade ocidental.
Aprendeu mais sobre a Soft Tech? Mas ela não é a única tendência de comportamento captada pela Portobello. Baixe o Trend Book e confira quais serão as principais macrotendências de 2022!
Imagem principal: Soft Tech aborda o híbrido entre real e virtual com um viés mais político, coletivo e sustentável (Foto: ThisIsEngineering/Pexels)