Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à Califórnia
Nada é por acaso e quase tudo é sem querer: a Califórnia segue uma lógica própria, que não faria sentido em nenhum outro lugar dos Estados Unidos – e quiçá do mundo. O estado mais populoso do país liderado por Donald Trump passa longe do topo do ranking de densidade demográfica nacional, e esses contrastes, que confundem e fascinam nas mesmas proporções, estão impressos em alto-relevo na arquitetura local.
Emoldurado por montanhas, o horizonte que deságua no Pacífico é talvez a primeira coisa que ganhe os olhares de quem desembarca por aqui: a imensidão das cidades explica rapidamente a necessidade de carros – mas não dá conta de justificar a absoluta falta de um sistema de transporte público eficiente, provavelmente um dos maiores "pecados" de um condado como o de Los Angeles, por exemplo, o mais castigado pelo trânsito.
Para tentar driblar os congestionamentos hollywoodianos, os bairros se estruturaram para abrigar residências e comércios básicos, de forma que não é preciso se deslocar por muito tempo ou por longas distâncias para encontrar bons restaurantes, academias, bancos, supermercados, farmácias e outros empreendimentos de primeira necessidade.
O desafio maior, porém, nunca foi a coexistência de pessoas físicas e jurídicas numa mesma área, mas a organização desse quadro numa cidade que, via de regra, não passa do terceiro andar. Por se tratar de uma região constantemente afetada por terremotos, a Califórnia se habituou a construções mais baixas, um cenário que só mudou com o amadurecimento da engenharia civil – algo que aconteceu por aqui em meados do século XX.
A pouca estatura das construções mais antigas – e predominantes – da Califórnia permite, além de alongar o horizonte, uma maior exposição à luz do sol. Sem grandes prédios para fazer sombra, e com os quarteirões bem espalhados, cidades como Los Angeles acabam sendo regidas pelo sol: dormem e acordam cedo – e a pele sempre bronzeada dos locais é a prova viva disso.
Outro contraste simbólico da costa oeste americana é a mistura entre o novo e o velho. Aqui, construções ultramodernas como a do museu The Broad dividem espaço com obras clássicas, a seguir o exemplo do The Beverly Hills Hotel.
Essa dicotomia geracional das construções é também internalizada: decorações minimalistas ganham cada vez mais espaço californiano, revelando um lado talvez adormecido dessa sociedade acostumada aos exageros, como bem apontou Jim Heimann em seu livro "California Crazy", lançado pela Taschen no ano passado.
Na obra, Heimann visita o que pode ser considerado como o "berço do espetáculo" californiano. De acordo com o autor, quando estamos dirigindo a uma certa velocidade, é importante que consigamos identificar um estabelecimento com certa antecedência – e a maneira que os comerciantes encontraram para solucionar esse problema foi a instalação de bonecos, objetos ou placas gigantes. "Se você está no volante e, de repente, vê uma casquinha de sorvete enorme, você sabe logo de cara que aquele lugar é uma sorveteria. Esse tipo de arquitetura funciona bem para áreas assim, com muitos espaços", comenta o escritor.
Atualmente essas estratégias dignas de superlativos têm de se acostumar com a força do design nórdico, que visa simplificar ambientes. Não se trata exatamente de uma competição ou da substituição de um estilo pelo outro; é apenas uma complementação, um reflexo da própria diversidade californiana – algo que, a partir de agora, passamos a explorar juntos.
Muito boa matéria.Parabéns.
Adorei o texto. Adoro a Califórnia!