Ruy Ohtake: o legado do gênio das curvas e cores
Infelizmente, Ruy Ohtake faleceu, aos 83 anos, na manhã do último sábado, 27 de novembro de 2021. Ohtake era um dos principais arquitetos do Brasil. Seu falecimento foi noticiado com destaque pelos principais jornais, revistas e portais neste triste dia para a Arquitetura.
Ruy Ohtake nasceu em 1938, filho primogênito da artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake (1913-2015). Se formou na FAU-USP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 1960. Deixou os filhos Elisa Ohtake, diretora de teatro e dança, e Rodrigo Ohtake, também arquiteto, e o irmão, Ricardo Ohtake, arquiteto, gestor cultural e artista gráfico, além dos netos, Tom, Ivan e Lia.
A família Ohtake sempre teve destaque na cena cultural paulistana. A Casa Tomie Ohtake, que Ruy construiu para a mãe em 1968, recebia almoços de domingo com a família e convidados ilustres, entre artistas, arquitetos e curadores. Ali se reuniam grandes mentes para pensar o desenvolvimento do Brasil a partir da cultura.
A importância da obra de Tomie, considerada a “dama brasileira das artes plásticas”, justificou a criação do Instituto Tomie Ohtake, centro cultural em sua homenagem, inaugurado em 2001. O projeto de Ruy para o prédio revolucionou a paisagem paulistana na virada do milênio – época de empreendimentos imobiliários sem graça ou estilo. As curvas e as cores de Ruy abriram portas para uma revalorização da Arquitetura autoral no período contemporâneo.
Curvas desenhadas à mão livre e cores fortes e absolutas, inclusive, foram a marca da Arquitetura de Ruy Ohtake. Da geração seguinte à de Oscar Niemeyer, ele se enquadrava na Arquitetura pós-moderna – ou seja, com os mesmos preceitos e a predileção pelo concreto da Arquitetura moderna, porém com uma abertura maior para cores e outros materiais. Acima de tudo, a Arquitetura de Ohtake é autenticamente brasileira.
Os projetos de arquitetura de Ruy Ohtake
Ruy Ohtake foi autor de projetos de diferentes programas e escopos. Fez desde empreendimentos de alto luxo, como o Hotel Unique, de 2002, até projetos de interesse social, como o conjunto habitacional “Redondinhos” de Heliópolis, de 2011. Também são de Ruy a Embaixada do Brasil em Tóquio, de 1981, e o Hotel Renaissance, em São Paulo, de 1996. Em comum a todos eles, Arquitetura autoral e de alta qualidade.
Talvez o projeto de Ruy de maior impacto nem seja de arquitetura, mas de urbanismo. Em 1976, ele imaginou um parque às margens do Rio Tietê, incluindo a despoluição do rio. Esse projeto serviu de base para o Parque Ecológico Tietê, inaugurado em 1982, e para o Parque Várzeas do Tietê, ainda em construção, que será o maior parque linear do mundo. Um dos grandes legados de Ruy para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes da maior cidade do Brasil.
A amizade entre Ruy Ohtake e Portobello
A Portobello teve a honra de manter um relacionamento próximo com Ruy Ohtake nas últimas décadas. Ruy e Cesar Gomes Junior, presidente do conselho da Portobello, nutriram uma amizade que só cresceu com o passar dos anos. Essa parceria se desdobrou em produtos que Ruy assinou para a Portobello, mas também em muitas trocas e diálogos com toda a equipe.
Uma história que Ruy adorava contar foi de quando trouxe do Japão uma grande peça de porcelanato para a Portobello. Durante uma viagem, viu as grandes peças, que ainda não existiam no Brasil, e se encantou. Não teve dúvidas: comprou uma amostra pesadíssima de 1,20m de altura e embarcou com ela no longo voo de volta, para apresentar a novidade para seu amigo Cesar.
Em 2011, Ruy desenhou a linha Concretíssyma para a Portobello. A reprodução do concreto único de Ruy Ohtake em porcelanato foi um sucesso imediato e segue sendo produzida pela Portobello até hoje. “Ensinar o concreto para a Portobello, poxa, é uma coisa fantástica”, disse Ruy em uma de suas últimas entrevistas, realizada no início de julho para a Academia Portobello.
O concreto de Ruy Ohtake, sem dúvidas, leva sua marca autoral. “Desde recém-formado, sempre gostei muito do concreto. Uso muito concreto nas minhas obras de arquitetura. E faço, em função disso, muita pesquisa. Pouca gente no Brasil tem a pesquisa que eu consegui fazer com o concreto: vários tipos de concreto, textura, tons etc”, contou Ruy.
Em 2017, a parceria com a Portobello evoluiu dos planos para o tridimensional. Para o lançamento da Officina Portobello, Ruy desenhou uma linha de mobiliário em porcelanato: a mesa de jantar Ímpar, as mesinhas Sambinha e Frevo e as estantes Surf e Redonda. O arquiteto encarou o formato plano do porcelanato como um desafio para criar suas curvas.
Para além do desenvolvimento de produtos, a Portobello sempre esteve em constante proximidade com Ruy. Pela admiração por sua Arquitetura, a empresa realizou eventos em três de suas obras em São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, Hotel Unique e Um Rooftop.
Nos últimos meses, Ruy e a equipe Portobello estavam trabalhando em um novo projeto, que será lançado em breve. O arquiteto via na empresa a inovação que acreditava: “Tem que ter confiança e ousadia para fazer. A primeira experiência pode não ser muito boa, mas não tem importância, vamos fazer a segunda, até ser boa.”
O falecimento de Ruy Ohtake entristece profundamente a família Gomes e todos na equipe Portobello que tiveram o prazer de trabalhar diretamente com o arquiteto. Acreditamos que legado de Ruy Ohtake seguirá vivo, através de suas obras e de seus filhos.