01.07.2022
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Sofá Pebble Rubble, do grupo sueco Front para a Moroso, com desenho baseado em pedras (Foto: Alessandro Paderni)

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O colunista Marcelo Lima reflete sobre a necessidade de reconexão com o meio-ambiente, que ficou latente na semana de design de Milão deste ano
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Com você mesmo. Com as pessoas ao seu redor, com seus móveis, objetos e, sobretudo, com o seu planeta. Não soa exagerado dizer que o desejo de reconexão, latente nos dois últimos anos, parece funcionar como eixo central em torno do qual gravitaram a maioria dos lançamentos apresentados durante a última edição do Salão do Móvel de Milão, (@isaloniofficial), epicentro da mais influente semana internacional de design. Em muitas das coleções, foi possível detectar a clara preocupação dos designers em enfatizar a conexão entre design e meio-ambiente. E, consequentemente, entre o uso consciente das matérias-primas e a preservação dos recursos naturais.

Não sem tempo, móveis e objetos, apesar de menos impactantes, parecem ser pensados hoje não apenas para responder a funções específicas, ou para servir de meio de expressão pessoal, mas sim, considerando sua interação com as pessoas. Em meio a formas descontraídas, estofados mais flexíveis e cores vibrantes –  o império dos tons neutros e o da formalidade excessiva parecem, ao menos por ora, superados –  o objeto parece deixar um pouco de lado o propósito teórico que lhe foi atribuído para, apenas, e simplesmente, enriquecer a vida cotidiana.

sofá baseado em pedras
O sofá Pebble Rubble, do grupo sueco Front para a Moroso, com desenho baseado em pedras (Foto: Alessandro Paderni)

Encerrada em 13 de junho, depois de um recesso de dois anos ocasionado pela pandemia, e em meio a algumas baixas –  ausências das mais sentidas, Rússia e China ficaram de fora da festa este ano –, fato é que a maior feira mundial de design deixou uma mensagem clara no ar: é urgente que todos, em qualquer nível, atuemos pela preservação dos recursos naturais e evitemos qualquer tipo de desperdício. Afinal, se cabe aos designers projetar os móveis do futuro, cabe a eles também imaginar como produzi-los, de forma menos agressiva e mais sustentável.   

“De 1961 até hoje, o Salão do Móvel ultrapassou a dimensão de uma feira comercial. Estamos falando de um momento em que todo o setor tem a percepção clara de para onde estamos indo. Tudo em pouco tempo e em uma única cidade”, afirmou Maria Porro, a mais jovem presidente de todos os tempos da instituição, e também primeira mulher a ocupar o cargo. "Sabemos da nossa responsabilidade e por isso reforçamos nosso compromisso com práticas mais sustentáveis em todos os níveis da produção de nosso evento”, afirmou ela. Mas não somente isso.   

sofá mostarda
O sofá Zaza, do design Zaven para a Zanotta (Foto: Zanotta)

Chamando para si a missão de servir de farol para a comunidade internacional, o Salão resolveu dar a largada e apresentou, no recinto de exposições de Rho-Pero, a mostra Design com a Natureza, projetada pelo arquiteto italiano Mario Cucinella, que sugeria uma abordagem inusitada para nossas grandes cidades: afinal, por que no lugar de centros de produção de resíduos, não podemos pensar nelas como grandes fontes geradoras de materiais reciclados? A partir do plástico e do papel. Mas também do vidro e das plantas, por exemplo.

Apresentando os trabalhos de cerca de 600 jovens designers de todo o mundo com menos de 30 anos, o Salão Satellite (@isaloniofficial), um dos permanentes highlights de Milão, idealizado e dirigido por Marva Griffin Wilshire, este ano contou com a participação do designer alagoano Tavinho Camerino (@tavinhocamerino), além de apresentar os projetos  vencedores do I Prêmio Adriana Adam de Design (@premioadrianaadamdedesign), idealizado pelo arquiteto e designer Gaetano Pesce (@gaetano.pesce), voltado para jovens designers de todo o Brasil. 

Visitante observa cadeira na mostra Design with Nature (Foto: Salone del Mobile)

Já no âmbito do circuito Fuorisalone – expressão que designa as manifestações que ocorrem fora da mostra oficial, nas mais diversas locações na cidade e em seus arredores –, mais uma vez, era possível encontrar um pouco de tudo: de estudantes exibindo trabalhos de graduação a cenários hi-tech, altamente elaborados, e patrocinados por grandes corporações internacionais. Um cardápio extenso de opções, mas no qual o tema da sustentabilidade, em todas as suas declinações, mais uma vez, ocupou o centro das atenções.

Até mesmo as locações escolhidas para os eventos faziam menção a formas de convivência mais saudáveis com o meio-ambiente. Caso, por exemplo, da mais aclamada mostra da temporada, Alcova, (aclova.xyz), que após uma bem-sucedida edição inaugural, em setembro de 2021, retornou ao Centro Ospedaliero Militaire di Baggio: um hospital desativado, implantado em meio a uma extensa área verde nos arredores da cidade, onde os curadores do projeto, Valentina Ciuffi e Joseph Grima, levaram a cabo uma radical experiência de fusão entre design e natureza.

Explorando o frescor e a exuberância da vegetação local, este ano a dupla expandiu as experiências gastronômicas e as áreas de convivência, transformando a atração em uma permanente festa ao ar livre. No programa, em meio a árvores e cantos de passáros, um recorte abrangente do design independente europeu, mesclando trabalhos de nomes consagrados com uma seleção de talentos emergentes que operam nas mais variadas áreas: da tecnologia, passando pelos materiais, produção sustentável e prática social.

sofá Horizonte e as mesas de centro Linha Fina, de Marcio Kogan e studio MK27 para a Minotti
O sofá Horizonte e as mesas de centro Linha Fina, de Marcio Kogan e studio MK27 para a Minotti (Foto: Minotti)
Sofá e poltrona Sendai de Inoda + Sveje design para a Minotti (Foto: Minotti)

Entre os brasileiros presentes a Milão, o arquiteto e designer Marcio Kogan (@smkogan27), e seu studio mk27 (@studiomk27) brilharam, mais uma vez, com suas criações para a italiana Minotti (@minotti_spa). Ainda no Salone, seis empresas brasileiras foram convidadas a participar em mostra conjunta coordenada pela Apex Brasil (@apexbrasil), e a brasileira Ornare (@ornare_official) participou pela primeira vez da bienal Eurocucina.

Por último, e não menos importante, a festa milanesa este ano aconteceu em meio a um clima de evidente nostalgia. E isso não se deve, exclusivamente, à memória dos 60 anos do Salão do Móvel, ou à lembrança de tempos melhores. Na imaginação dos designers parece subsistir, em paralelo, um sentimento de bem-vinda rebeldia. Uma sensação expressa, por exemplo, no desejo de glorificar móveis que, de alguma forma, representaram, ao longo da história, o anseio de desafiar os códigos existentes. 

Como, por exemplo, a poltrona Bambola (boneca, em italiano), de Mario Bellini, lançada pela B&B Italia (@bebitalia) em 1972. Móvel que, emblematicamente, este ano ganhou uma versão mais sustentável, além de nova roupagem. Além, claro, de recorrentes menções à sua célebre campanha publicitária, que fez história na comunicação. Tudo por conta de um ensaio de Oliviero Toscani, que fotografou Donna Jordan, modelo conhecida por seu trabalho na legendária Factory, de Andy Warhol, interagindo com a poltrona. Deitada, recostada, ou simplesmente desfrutando de seu íntimo convívio.  

Estímulo à liberdade de escolha, sem, no entanto, impor um estilo de vida. 

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