Quem será o próximo Pritzker brasileiro?
Oscar Niemeyer foi o primeiro arquiteto brasileiro a vencer o Prêmio Pritzker, a principal láurea mundial entre os projetistas do espaço, em 1988. Paulo Mendes da Rocha, considerado o maior arquiteto brasileiro vivo, foi o segundo do país a receber a condecoração, em 2006.
Criado em 1979 pelo casal Jay e Cindy Pritzker, donos da rede de hotéis e da Fundação Hyatt, a premiação é considerada o Nobel da arquitetura e, todos os anos, agracia com um certificado, 100 mil dólares e um medalhão do bronze um arquiteto que cumpra os princípios de Vitrúvio (solidez, beleza e funcionalidade). Embora seja um critério amplo, além de atender aos princípios vitruvianos, os vencedores do Pritzker devem possuir uma trajetória profissional cujas obras contribuam para a humanidade e para o ambiente construído.
Profissionais e estudiosos de todos os cantos do mundo são chamados pelos organizadores a indicar sugestões de nomes para receber a homenagem, mas também são aceitas indicações diretas. Em um exercício de compreensão da atual safra de arquitetos brasileiros, fui instado a pensar: quem hoje, no Brasil, atenderia aos critérios para ser o próximo Pritzker?
Não há uma linha única de pensamento do júri que facilite esse exercício de futurologia. Porém, de forma estritamente pessoal, procurei algumas diretrizes para ajudar-nos a pensar:
Considerando premiações nacionais e internacionais e sua arquitetura detalhista – herdada da arquitetura moderna, revisitada de forma magistral – poderia-se apostar em Angelo Bucci. O paulista teve uma de suas obras recentes, a Casa de Fim de Semana, indicada como finalista do Mies Crown Hall America’s Prize (MCHAP) em 2017, uma das maiores premiações da atualidade, e possui histórico de obras condizente com o prêmio.
Responsável por obras premiadas nos segmentos industrial, corporativo e urbano, áreas que geralmente são “frias” para concepção de projetos mais humanos, Roberto Loeb foi vencedor por duas oportunidades seguidas da condecoração máxima no Prêmio AsBEA, da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura. Já trabalhou com os mestres Rino Levi e Fabio Penteado, e atua em projetos de programas complexos, trazendo a eles inovações tecnológicas e de sustentabilidade.
O Brasil Arquitetura, dos sócios Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, é outro escritório cujo trabalho condiz com as diretrizes do prêmio. Merecedor de diversas condecorações nacionais e internacionais, também foi finalista do MCHAP em 2014, com sua Praça das Artes, e por isso entra na minha lista de possíveis candidatos ao Pritzker.
Seguindo essa linha de raciocínio, de acordo com aspectos formais, ideológicos e técnicos, caberiam na premiação escritórios como UNA e MMBB, extensamente premiados e merecedores desse salto ao ápice da carreira arquitetônica. Esses dois últimos merecem aposta também devido ao fato de até hoje apenas três mulheres terem sido condecoradas na história do prêmio – Carme Pigem, do escritório espanhol RCR, a japonesa Kazuyo Sejima, do Sanaa, e a iraquiana Zaha Hadid, única a ter sido homenageada sozinha. Fernanda Barbara e Cristiane Muniz, do UNA, e Marta Moreira, do MMBB, possuem todas as condições de trilhar esse mesmo caminho, neste caso, juntas a Fernando Viegas e Fabio Valentim, e Milton Braga, respectivamente.
Grandes nomes nacionais ainda poderiam entrar nessa lista, como Ruy Ohtake, Márcio Kogan e Isay Weinfeld. Porém, se fosse para escolher um único nome, uma solitária opção nesse universo tão rico que é a arquitetura nacional, apostaria no mineiro Gustavo Penna.
Extensamente premiado no Brasil e exterior, Penna me seduz pela forma, pelos materiais, mas principalmente por seu discurso. O chamado “poeta da arquitetura” não se restringe a apenas refletir suas ideias em suas obras, mas também busca disseminar incansavelmente o seu pensamento – romântico e emocionante – em palestras, entrevistas, artigos e livros. Seu mais recente conceito, parte de seu próximo livro, é o das “generoscidades”. Segundo ele, em entrevista recente ao Estado de Minas, são “cidades generosas, mais do que gentis, pois gentileza é uma coisa que passa rápido, é um gesto de elegância e cidadania, mas passa. (…) A ‘generoscidade' implica em compromisso, durabilidade do gesto”, disse. O poeta da arquitetura, na mesma entrevista, ainda emenda: “Para mim, a arquitetura não é dentro e nem fora, é através. Da conversa, dos espaços, dos sentimentos”.
Baseando-me na citação oficial do júri para conceder o Pritzker a Paulo Mendes da Rocha, na qual fora declarado que aquele prêmio era destinado “à criação de uma arquitetura guiada pelo senso de responsabilidade aos habitantes de seus projetos, assim como para uma sociedade mais abrangente”, no “uso inteligente de materiais simples, criando uma arquitetura arrojada” e na "monumentalidade de seus edifícios”, penso que minha aposta, teoricamente, é bastante certeira. E você, apostaria em quem?