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Reforma das unidades residenciais de habitação social na França (Foto: Philippe Ruault via Pritzker)

Prêmio Pritzker valoriza arquitetura social e sustentável

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19.04.2021
Os vencedores do maior prêmio da arquitetura em 2021 são os franceses Anna Lacaton e Jean-Philippe Vassal, autores de casas sustentáveis e habitações sociais.
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Não seria exagero afirmar que Toyo Ito, Shigeru Ban, Frei Otto e Alejandro Aravena já eram arquitetos amplamente reconhecidos internacionalmente quando foram laureados pelo Pritzker, respectivamente, em 2013, 2014, 2015 e 2016. Nos anos mais recentes, entretanto, a premiação tem surpreendido, indicando nomes não tão famosos, pelo menos para nós, brasileiros. É o caso dos mais novos vencedores, a dupla francesa Anna Lacaton e Jean-Philippe Vassal.

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Pritzker 2021
Os novos Pritzkers Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal (Foto: cortesia Laurent Chalet via Pritzker)

O Prêmio de Arquitetura Pritzker é o principal reconhecimento do nosso meio – há quem o chame de Oscar da arquitetura. Desde 1979, a cada ano o Pritzker premia um arquiteto vivo, pelo conjunto de sua obra. Recentemente, nos fez conhecer mais dos trabalhos dos espanhóis Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramon Vilalta, laureados de 2017; do indiano Balkrishna Doshi, de 2018; do japonês Arata Isozaki, de 2019; e das irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara, de 2020. 

Pritzker 2021
Prédio de habitação social e estudantil, em Paris (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

A variedade de origens impressiona. Também é notável que nenhum deles, incluindo os novos Pritzkers, Lacaton e Vassal, possua grandes obras de destaque, o que ocorria no passado. Por exemplo, Jean Nouvel, laureado de 2008, tem em seu currículo a Torre Agbar, em Barcelona. Norman Foster, de 1999, o novo Parlamento Alemão, em Berlim. Renzo Piano, de 1998, o Centre Pompidou, em Paris. Todos eles fazem parte de uma geração de starchtects, ou arquitetos estrelados.

Pritzker 2021
FRAC, pavilhão de arte contemporânea em Dunkirk, na França (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

Por que o Pritzker mudou de direção em suas escolhas e tem elegido arquitetos mais low profile? Teria passado a era da arquitetura ostentação? A indicação de Shigeru Ban em 2014 já foi um indicador da mudança dos tempos. O arquiteto japonês se destacava por seus esforços humanitários, em locais destruídos por desastres. Ao lado de voluntários, ele erguia abrigos simples, de baixo custo e reutilizáveis para as vítimas. Em seu currículo, nenhum grande museu ou arranha-céu espelhado. Mas, sim, pequenas casas de bambu em campos de refugiados.

Pritzker 2021
Auditório multiuso em Lille, na França (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

A indicação de Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal segue a mesma lógica – a valorização da arquitetura social e sustentável. No anúncio em março de 2021, o júri afirma: “Ao priorizar a vida humana através de generosidade e liberdade de uso, eles beneficiam os cidadãos nas esferas social, ecológica e econômica, contribuindo para a evolução das cidades.”

Escola Superior de Arquitetura em Nantes (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

Lacaton nasceu em Saint-Pardoux, interior da França. Já Vassal vem de Casablanca, no Marrocos, antiga colônia francesa. Eles se conheceram na Escola Superior Nacional de Arquitetura e Paisagismo de Bordeaux. Logo depois de formados, fizeram o primeiro projeto juntos, na Nigéria. “É um dos países mais pobres do mundo, e as pessoas são tão incríveis, tão generosas, fazendo praticamente tudo com nada, encontrando recursos o tempo todo, mas com otimismo, poesia e criatividade. Foi realmente uma segunda faculdade de arquitetura”, declarou Vassal sobre a experiência.

Edifício residencial e comercial em Genebra, na Suíça (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

O projeto era uma cabana de palha, erguida com matéria-prima local, que acabou destruída pelo vento apenas dois anos depois. O conceito de arquitetura da dupla é nunca demolir e aproveitar o que já existe de forma sustentável, por meio de adições, respeitando a simplicidade e propondo novas possibilidades. 

Cabana de palha na Nigéria (Foto: cortesia Lacaton & Vassal via Pritzker)

De volta à França, eles iniciaram o escritório de arquitetura em Paris em 1987. Desde então, projetaram residências privadas e sociais, instituições culturais e acadêmicas, espaços públicos e planos urbanos, sempre priorizando a sustentabilidade. Por exemplo, a casa Latapie, em Floriac, interior da França, se aproveita da iluminação e ventilação natural para criar microclimas agradáveis.

Casa sustentável Latapie (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

Não muito longe dali, em Cap Ferret, eles projetaram outra casa sustentável. Em vez de cortar as 46 árvores do terreno, eles elevaram a casa do solo e permitiram que os troncos atravessassem a construção. Assim, os moradores vivem entre as plantas. Além de residências privadas, a dupla de arquitetos também já fez vários projetos de habitação social. Inclusive, chegaram a rejeitar projetos que pediam pela demolição de prédios dessa categoria.

Casa sustentável Cap Ferret (Foto: cortesia Lacaton & Vassal via Pritzker)

Para que destruir se é possível transformar? Em 2017, Lacaton e Vassal reformaram 530 unidades residenciais em três prédios de habitação social em Bordeaux. Foram feitas melhorias tecnológicas, mas, principalmente, os apartamentos ganharam mais metros quadrados, em uma ampliação, garantindo mais espaço privado para famílias em situação de vulnerabilidade social. “Nós nunca vemos o existente como problema. Olhamos com positividade, porque existe a possibilidade de fazer mais com o que já existe”, diz Lacaton.

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Reforma de três prédios de habitação social em Bordeaux, na França (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

Os projetos em andamento da dupla incluem a transformação de um antigo hospital em habitação social em Paris; a reforma de um prédio corporativo também em Paris; a construção de prédios residenciais de porte médio em Anderlecht, na Bélgica, e em Hamburgo, na Alemanha; e a construção de um prédio de uso misto em Toulouse, na França.

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Interior de unidade de habitação social (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

Surpreendentemente, nenhum arranha-céu espelhado em Dubai. Apenas edifícios baixos na própria França e países vizinhos. Estamos acostumados à cultura do espetáculo, e design e arquitetura não fogem dessa expectativa. É difícil selecionar as imagens para ilustrar o trabalho dos novos Pritzkers Lacaton e Vassal – a princípio, nada salta aos olhos. Porém, escrever esse texto foi tarefa fácil, pois a história por trás da arquitetura dos franceses é notavelmente relevante. Talvez a nova geração de arquitetos seja menos visual, mas trabalhe com mais propósito.

“Esse ano, mais do que nunca, nós sentimos que somos parte da humanidade como um todo. Seja por razões de saúde, políticas ou sociais, existe a necessidade de construir um senso de coletividade. Em um sistema interconectado, ser justo com o meio ambiente e com a humanidade é ser justo com as próximas gerações”, comentou Alejandro Aravena, ele próprio vencedor do Pritzker em 2016 e hoje parte do júri do prêmio. “Lacaton e Vassal são radicais em sua delicadeza e marcantes em sua sutileza, equilibrando uma abordagem ao ambiente respeitosa e direta”, justificou Aravena.

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Unidade de habitação social (Foto: cortesia Philippe Ruault via Pritzker)

Se a era da ostentação ficou no passado, podemos dizer que o último ano, marcado pela pandemia da Covid-19, reforçou a necessidade da arquitetura como ferramenta de transformação social, diminuindo desigualdades, e de construção de um futuro sustentável. Lacaton e Vassal entendem que a arquitetura tem a capacidade de construir uma comunidade e toda a sociedade.

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Prêmio Pritzker valoriza arquitetura social e sustentável

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