Arquitetura engajada colore a paisagem no Irã
A ilha de Ormuz, no Irã, ganhou uma intervenção colorida em sua paisagem, já repleta de belos tons criados pela própria natureza. Trata-se do projeto Presence in Hormuz, assinado pelo escritório local ZAV Architects — liderado por Mohamadreza Ghodousi, Fatemeh Rezaei, Golnaz Bahrami e Soroush Majidi —, que projetou cúpulas coloridas às margens do Golfo Pérsico.
As pequenas casinhas com formato arredondado, inspiradas nas formações rochosas do lugar, são uma espécie de residência cultural, criadas como uma alternativa aos hotéis tradicionais. O objetivo é incentivar a vinda de novos turistas para visitar a ilha. Segundo os arquitetos, o destino anda um tanto esquecido pelos viajantes e o projeto tem a intenção de ajudar a aumentar o PIB nacional por meio da arquitetura.
No total, o empreendimento tem 15 casas de férias que ocupam cerca de 200 cúpulas interconectadas. No complexo, há também restaurantes, cafés, lojas e recepção. De vários tamanhos e formatos, as pequenas construções se encaixam de maneira harmoniosa no horizonte de Ormuz e isso não foi por acaso. Os arquitetos estudaram exaustivamente cada detalhe da paisagem a fim de definir o desenho. Além da questão da forma, o intuito da interconexão entre as casas é criar uma experiência de férias diferente para o visitante, oferecendo um clima de comunidade durante a estadia.
As cores também foram uma preocupação importante na hora de desenvolver o projeto. Todas as cúpulas apresentam tons vibrantes na parte externa, como vermelho, amarelo, azul e verde. E, dentro das estruturas, a paleta ousada continua. As paredes internas foram pintadas da cor correspondente ao exterior e os móveis exibem tons bem acesos. “Não se pode tirar a cor da ilha de Ormuz — suas praias de areias coloridas mudam até a cor do azul do mar — nem do seu povo, para quem a cor é um importante meio de expressão seja nas roupas, no interior de suas casas ou mesmo na comida", afirmam os arquitetos.
Para o método construtivo, nada de recursos tecnológicos. A mão-de-obra local foi essencial para o sucesso da empreitada. Os profissionais usaram a técnica superadobe, do arquiteto Nader Khalili, que é inovadora e simples ao mesmo tempo, usando taipa e areia. Cada uma das cúpulas foi construída com sacos de areia empilhados, preenchidos com solo retirado do cais de Ormuz. Para dar sustentação aos arcos, foram usadas estruturas de aço e cimento. “Esse método de construção de baixa tecnologia possibilitou a contribuição de trabalhadores não qualificados. Hoje, todos estão treinados e continuam a colaborar em nossos projetos dentro e fora da ilha”, revelam.
Assim, o Presence in Hormuz é uma iniciativa que impacta não só visualmente no seu entorno, mas de maneira social. E esse é o objetivo do trabalho do escritório ZAV Architects. Eles acreditam que a arquitetura é uma plataforma para mudar o mundo, além de ter condição de ser um agente social e econômico engajado. Para isso, o ZAV vai além dos limites impostos pela indústria da construção. "É por isso que buscamos constantemente tirar a arquitetura de sua zona de conforto", finalizam.
Foto de destaque: O conjunto de casas coloridas interconectadas é uma hospedagem de férias diferente dos hotéis tradicionais (Fotos: Tahmineh Monzavi, Soroush Majidi, e Payman Barkhordari)