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Museu Judaico de Berlim: uma experiência sensorial

Há várias formas de contar a história de um povo. A arquitetura é uma delas. Nesse quesito, o Museu Judaico de Berlim teve êxito ao retratar diferentes capítulos da milenar vida judaica. Uma obra respeitável do ponto de vista arquitetônico e reverenciável em termos históricos.

Trazer à tona os sentimentos e as sensações de um povo não é nada simples. Contudo, uma das qualidades inerentes da arquitetura é justamente possibilitar uma verdadeira imersão sensorial por meio de construções. E nisso o museu alcançou a excelência.

Da angústia à esperança, neste artigo você fará uma visita ao Museu Judaico de Berlim e terá sensações afloradas por meio de um design de interiores e uma arquitetura fiel à história e às raízes judaicas.

A concepção do Museu Judaico de Berlim pela vida do arquiteto

O Museu Judaico de Berlim é uma mega construção de mais de 15 mil m² no coração da Alemanha. Os conflitos nos quais o país europeu adentrou no século XX sob o regime nazista formam uma história da qual muitos alemães não querem se lembrar. Porém, uma obra a mantém viva.

Por cima de um passado felizmente distante na Alemanha, o arquiteto Daniel Libeskind fundamentou este projeto grandioso. Vale reforçar que toda a concepção deste edifício foi muito baseada na própria experiência de vida dele: o profissional de origem judaico-polonesa teve familiares presos e desaparecidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Ou seja, Libeskind está inserido totalmente em um contexto que contribuiu para a formatação do Museu Judaico de Berlim. A experiência sensorial oferecida pelo arquiteto traz muito além de uma obra concreta: um constante caminho que suscita emoções de vários tipos.

A alvenaria do Museu Barroco faz dupla com o zinco do edifício moderno
A alvenaria do Museu Barroco faz dupla com o zinco do edifício moderno (Foto: Jewish Museum Berlin)

A imersão sensorial evocada pelo antigo com o novo

O prédio concebido por Libeskind fica ao lado do antigo Tribunal de Justiça de Berlim, que hoje guarda o acervo barroco do Museu Judaico. Estratégia utilizada para provocar uma experiência única aos visitantes ao dividir o local em duas fases: a barroca e a moderna.

O prédio mais antigo foi construído em 1735 e tem arquitetura original de época — porém, com partes reconstruídas, por causa da destruição da Segunda Guerra Mundial. O espaço abriga a bilheteria, um restaurante, salas com exposições itinerantes e a loja do museu.

Do outro lado fica o edifício arquitetado por Libeskind. Externamente, a estrutura é feita de zinco, em grandiosas chapas do material, que sofrem alterações com as intempéries.

Talvez, essa escolha seja uma analogia perfeita das peregrinações dos judeus ao longo de sua história: com muitos momentos de mudança de rota causados por fatores externos.

A Estrela de Davi despedaçada pela reconstrução do arquiteto Daniel Libeskind
A Estrela de Davi despedaçada pela reconstrução do arquiteto Daniel Libeskind (Foto: Wikipedia)

Dor

O formato do local, observado apenas com um olhar panorâmico, é uma clara alusão à Estrela de Davi, símbolo religioso judaico. Porém, ela está desfigurada. O estilhaçamento em linhas quebradiças evidencia um sentimento que grande parte dos judeus teve durante a repressão nazista: o de ter sido violentado abruptamente.

O prédio é quase que 100% fechado, com poucas entradas de luz natural, feitas por linhas que se intersectam. O arquiteto define o seu projeto a partir desse aspecto como Entre as Linhas, mostrando o pensar da organização, mais racional, e do relacionamento, mais emocional.

Jardim do Exílio conversa perfeitamente com a arquitetura do Museu Judaico de Berlim
Jardim do Exílio conversa perfeitamente com a arquitetura do Museu Judaico de Berlim (Foto: Jewish Museum Berlin)

Rejeição

Uma das partes anexas ao edifício que evoca sentimentos mais densos da história dos judeus é o Jardim do Exílio. O local traz ao todo 49 pilastras de concreto ocas em inclinação de 12 graus.

A obra faz a referência ao exílio de centenas de milhares de judeus da Alemanha no final dos anos 1930. As colunas inclinadas mostram a desorientação do povo judeu, que foi expulso pelas tropas nazistas.

Um ponto interessante do Jardim do Exílio no Museu Judaico de Berlim é que há arvores dentro de cada coluna. O que simboliza a vida — plantas — envolta pela dureza do regime totalitário — concreto.

Parte também do Jardim do Exílio é a semelhança da uniformidade e do movimento dos pilares, com marchas de massas de judeus saindo da Alemanha.

Desesperança

Dentro do edifício, os longos e estreitos corredores em tons de cinza trazem à tona a frieza e a pressão às quais os judeus foram submetidos durante anos pelo do regime nazista.

Somado a esse aspecto do design interior, há cinco corredores específicos, chamados de Voids, totalmente vazios e com imensas paredes, com mais de 10m de altura.

A leitura a partir dos aspectos dos corredores é do inalcançável e de um caminho tortuoso, muitas vezes com a sensação clara de desesperança.

Rostos feitos com aço recobrem o chão todo e simulam massas de judeus em desespero
Rostos feitos com aço recobrem o chão todo e simulam massas de judeus em desespero (Foto: Berlim Visitas Personalizadas)

Desespero

Um dos Voids apresenta uma obra de cunho denso que remete ao Holocausto. Criada pelo artista Menashe Kadishman, de Israel, Shalechet, que em português quer dizer Folhas Caídas, simboliza milhões de judeus implorando pela vida.

A obra consiste em milhares de círculos de aço, todos com um rosto em expressão de desespero, espalhados por um corredor com pouca luz, gelado e cinza do concreto.

Ao passar pela obra, a fricção entre os rostos causa sons que ecoam pelo corredor, remetendo em muito a gritos de desespero e socorro de pessoas que sabiam que os seus destinos estavam selados.

Torre do Holocausto provoca sensação claustrofóbica e de abandono com sua estrutura
Torre do Holocausto provoca sensação claustrofóbica e de abandono com sua estrutura (Foto: Jewish Museum Berlin)

Morte

Outro ponto dentro da obra de Libeskind que remete ao fim da vida é a Torre do Holocausto. A obra só é acessada por um corredor, que se estreita cada vez mais, na medida em que se caminha em direção à torre.

No lugar, com uma única abertura pequena ao topo por onde entra luz, a escuridão prevalece, aumentada por paredes de 20 metros de altura em cinza concreto. Um local em silêncio, que simboliza o extermínio de judeus em campos de concentração.

Eixo da Continuidade é uma área que remete a um respiro em uma nova era
Eixo da Continuidade é uma área que remete a um respiro em uma nova era (Foto: Berlim Visitas Personalizadas)

Esperança

O intitulado Eixo da Continuidade, um enorme corredor que leva até o andar superior do Museu Judaico de Berlim, remete a esperança, vida e continuação. O espaço é permeado por paredes em cor branca em uma parte da construção que tem mais entradas de luz.

No percurso das escadas para se chegar ao andar de cima, há várias colunas que cumprem, ao mesmo tempo, uma função estrutural e estética.

Tais barras de concreto dão sustentação à parede para garantir a rigidez da área. De certo modo, os pilares atravessados também mostram que mesmo diante do esfacelamento da guerra, o povo judeu se apoiou e resistiu.

Vida

Já na parte superior, um espaço com 3 mil m² é inteiramente dedicado à tradição e aos símbolos da cultura judaica, reforçando valores e história.

A mostra permanente traz louças em metal e cerâmica, maquetes de sinagogas, quipás, pinturas e recortes de jornais, entre outros artigos fazem parte do acervo.

O Museu Judaico de Berlim prova que, por meio de uma arquitetura concebida e executada com valores e histórias reais, afloram-se os sentimentos mais humanos.

Desse modo, o Museu Judaico de Berlim reúne uma experiência sensorial que tem o objetivo de humanizar. Paralelamente, traz informações e símbolos, originais e desconstruídos, de uma história em continuidade.

Aproveite para aprender como aplicar arquitetura sensorial em projetos residenciais!

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