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Torre Eiffel decorada com os anéis que simbolizam os Jogos Olímpicos
Medalhas olímpicas já foram concedidas em modalidades artísticas (Foto: Ibex73)

Quando medalhas olímpicas eram dadas para a arquitetura e outras artes

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28.07.2024
Entre 1912 e 1948, arquitetos e artistas puderam participar das competições e receber medalhas olímpicas por suas obras. Saiba mais
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Você sabia que medalhas olímpicas já foram dadas a arquitetos e artistas? Entre 1912 e 1948, as Olimpíadas não se restringiam aos esportes e incluíam também algumas modalidades artísticas.

Portanto, houve um período em que profissionais dessas áreas representavam os seus países nos Jogos Olímpicos. Mas muita gente não faz ideia de que essa fase existiu!

Este artigo foi feito para compartilhar com você as principais curiosidades dessa época, como funcionavam as competições e por que as modalidades artísticas foram deixadas para trás.

Fique com a gente!

Por que as Olimpíadas uniam esportes e artes?

Os Jogos Olímpicos estão entre os eventos mais prestigiados do mundo. E a sua história remonta à Grécia Antiga do século 8 a.C.

Cidadãos de várias cidades-estado gregas peregrinavam até Olímpia — o que explica o nome “Olimpíadas” —, onde as competições eram realizadas.

Para os gregos, o esporte e as artes devem caminhar juntos, já que o exercício do corpo e da mente seria a melhor forma de alcançar a harmonia plena.

E foi com essa lógica que o Barão Pierre de Coubertin, um dos fundadores do Comitê Olímpico Internacional (COI), criou um plano para os Jogos Olímpicos modernos.

Até os anos 1890, a tradição olímpica estava no esquecimento.

Coubertin queria estimular as práticas esportivas na sociedade, sobretudo entre os mais jovens. Acima de tudo, o seu intuito era promover uma conexão entre atletas, artistas e espectadores.

Estátua de Pierre de Coubertin em Atlanta, Georgia, EUA
Estátua de Pierre de Coubertin em Atlanta, Georgia, EUA (Foto: JJonahJackalope)

Em 1906, o plano de Coubertin foi discutido no Congresso Olímpico. Mas como faltavam apenas dois anos para a próxima edição dos Jogos Olímpicos, a incorporação de modalidades artísticas se concretizou em 1912, nas Olimpíadas de Estocolmo.

As competições de arte passaram, então, a integrar o programa, embora os organizadores não estivessem apoiando, de fato, a ideia.

Os próprios artistas suecos começaram a questionar se o julgamento da competição e a entrega das medalhas olímpicas seriam feitos de forma justa.

Como os participantes não estavam muito empolgados, apenas 35 arquitetos e artistas se inscreveram. As modalidades eram as seguintes: arquitetura, pintura, escultura, música e literatura.

Foi somente na terceira edição das Olimpíadas, de Paris, em 1924, que as medalhas olímpicas dadas para as artes passaram a ser valorizadas. Ao todo, 193 obras foram enviadas para a competição.

Com o passar do tempo, as modalidades artísticas ganharam mais visibilidade, aumentando a quantidade de competidores e visitantes interessados em conhecer as criações de arquitetos e artistas.

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Como eram dadas as medalhas olímpicas para a arquitetura e outras artes?

Como vimos, as medalhas olímpicas eram entregues para as seguintes categorias: arquitetura, pintura, escultura, música e literatura.

Porém, depois elas foram divididas.

Na literatura, por exemplo, havia as subcategorias lírica, drama e épica. A música passou a ter as modalidades instrumental, orquestra, canto solo ou coral. 

Além da pintura, os artistas podiam competir com desenhos e artes gráficas. E a escultura foi subdividida em relevos, estátuas, placas, medalhas e medalhões.

Até mesmo a arquitetura ganhou outras categorias, como a de planejamento urbano.

Embora as formas de se competir nas artes sejam bem diferentes do esporte, a lógica era parecida com a usada nas modalidades esportivas.

"Salto com barreiras: a corrida", do pintor luxemburguês Jean Jacoby (Foto: Tom Lucas)

Em primeiro lugar, os artistas inscritos apresentavam as suas obras, que deveriam ser inéditas. Então, os trabalhos passavam pela avaliação de um conjunto de jurados. 

Cada jurado conferia uma nota para cada trabalho. Os que recebessem as melhores avaliações levavam as medalhas olímpicas ao final.

Da mesma forma que na Grécia Antiga, apenas artistas amadores podiam fazer parte dos jogos. Além disso, todos os trabalhos deveriam estar, de alguma maneira, relacionados aos esportes.

Essas exigências faziam com que a quantidade de participantes fosse limitada e as premiações fossem pouco diversificadas.

No caso da arquitetura, por exemplo, a maioria dos trabalhos era de projetos feitos para os próprios Jogos Olímpicos, como arenas e estádios.

Já na música, as composições soavam como hinos.

Havia ainda um limite para as produções musicais e de palavras para os trabalhos literários. Afinal, era preciso que os jurados tivessem tempo suficiente para avaliar todas as obras.

Quem foram os arquitetos e artistas ganhadores de medalhas olímpicas?

A maioria dos ganhadores de medalhas olímpicas de trabalhos de arquitetura e artes não teve os seus nomes marcados na história.

Entretanto, alguns jurados renomados participaram das avaliações dos Jogos Olímpicos, como a sueca Selma Lagerlöf, a primeira mulher a receber o Nobel de Literatura, e o músico russo Igor Stravinsky.

Selma Lagerlöf, escritora sueca
Selma Lagerlöf, vencedora do Nobel de Literatura, foi jurada nos Jogos Olímpicos de Paris (Foto: Wikimedia Commons)

Na primeira edição das Olimpíadas com as modalidades artísticas, com receio de não haver competidores suficientes, o próprio Barão de Coubertin se inscreveu na categoria literatura com um poema assinado pelos pseudônimos George Hohrod e Martin Eschbach.

E, surpreendentemente, acabou recebendo uma medalha de ouro.

Com o tempo, as artes foram conquistando o público. Tanto é que nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, 400 mil pessoas visitaram a exibição de trabalhos dos competidores.

Nesta edição, o arquiteto John Russell Pope recebeu uma medalha de ouro pelo projeto do Ginásio Payne Whitney, construído na Universidade de Yale.

Ginásio Payne Whitney, chamado também de Cathedral of Sweat, na Universidade de Yale, EUA
Ginásio Payne Whitney, chamado também de Cathedral of Sweat (Foto: Ragesoss)

Também se destacaram Isaac Israels, pintor holandês; Rembrandt Bugatti, escultor italiano; Percy Crosby, ilustrador norte-americano; e Oliver St. John Gogarty, escritor irlandês.

Nos Jogos Olímpicos de Amsterdã, em 1928, o francês Paul Landowski, famoso pelo Cristo Redentor do Rio de Janeiro, ganhou uma medalha de ouro com a escultura de um boxeador.

Entre as nacionalidades que mais levaram medalhas olímpicas nas modalidades artísticas estão os alemães, com 24; seguidos dos italianos, com 14; e os franceses, com 13.

Uma curiosidade é que apenas uma mulher foi vencedora nas modalidades artísticas: Aale Tynni, da Finlândia, na categoria de literatura.

Outro fato interessante é que somente duas pessoas ganharam medalhas olímpicas nas competições esportivas e artísticas.

Uma delas foi o norte-americano Walter Winans, campeão olímpico em escultura e no tiro. Outro foi o húngaro Alfred Hajos, bicampeão na natação e vencedor de uma prata na arquitetura.

Infelizmente, boa parte dos trabalhos ganhadores de medalhas olímpicas nas modalidades artísticas se perdeu com o passar do tempo.

Já os projetos de arquitetura são mais fáceis de encontrar, embora nem todos tenham saído do papel.

Estádio Olímpico de Amsterdã, do arquiteto Jan Wils
Estádio Olímpico de Amsterdã é uma obra que rendeu medalha olímpica ao arquiteto Jan Wils (Foto: Wikimedia Commons)

Um exemplo de obra arquitetônica que deixou a sua marca na história é o Estádio Olímpico de Amsterdã, elaborado pelo arquiteto holandês Jan Wils, que ganhou uma medalha de ouro em 1928. 

Outro é o Estádio Olímpico de Wroclaw, do arquiteto alemão Richard Konwiarz, vencedor do bronze em 1932.

Por que as modalidades artísticas olímpicas chegaram ao fim?

As modalidades artísticas fizeram parte dos Jogos Olímpicos de 1912 a 1948. O congresso do COI chegou à conclusão que praticamente todos os artistas competidores eram profissionais.

Ou seja, feriam o amadorismo das Olimpíadas.

Ainda assim, o comitê tentou manter as modalidades de arquitetura e artes em Helsinki, em 1952, mas o país anfitrião rejeitou a proposta.

Na edição seguinte, em 1954, as exibições de arte ocuparam o lugar das antigas competições.

Mas outros fatores, inclusive políticos, também influenciam essa transição do auge para o fim das modalidades artísticas.

"Football", gravura de Jean Jacoby (Foto: jean-jacoby.zataz.com)

Em 1936, por exemplo, os Jogos Olímpicos aconteceram em Berlim, que estava dominada por Adolf Hitler. 

Aproveitando-se do poder simbólico da competição, a Alemanha usou as artes para reforçar a superioridade da raça ariana.

Junto da Áustria, o país dominou as competições daquela edição, levando medalhas olímpicas em escrita lírica, categorias musicais, escultura em relevo e planejamento urbano.

Diante do fato de a maioria dos jurados ser alemã, houve uma forte desconfiança sobre a legitimidade dos resultados.

Já nos anos seguintes, devido ao cenário da Segunda Guerra Mundial, duas edições das Olimpíadas foram canceladas.

"Jogadores de polo", obra do artista Jean Jacoby, ganhador de medalhas olímpicas (Foto: Tom Lucas)

Quando os Jogos Olímpicos foram retomados, em 1948, a junção entre o questionamento da qualidade das obras e o avanço do esporte fizeram as pessoas perderem o apreço pelas modalidades artísticas.

Poucos se interessavam pelas competições de arquitetura e artes, enquanto o COI gastava dinheiro para realizá-las.

Por um tempo, até foi cogitada a possibilidade de aceitar artistas profissionais para elevar a qualidade das obras. Entretanto, o Comitê decidiu por excluir as modalidades artísticas de vez.

As medalhas olímpicas relacionadas à arquitetura e às outras artes foram desconsideradas. Isso significa que não fazem parte da contagem oficial dos países.

Da mesma forma que as artes, a arquitetura está sempre em processo de transformação. Que tal conhecer o conceito de impermanência?

 

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