11.05.2022
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Casa Aqua mostra que é possível aliar estética, design, funcionalidade e ecoeficiência (Foto: CASACOR)

A força do ESG na arquitetura

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11.05.2022
Como o conceito ESG na arquitetura traz propósito e garante o compromisso socioambiental dos projetos
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A casa da gente é o nosso lugar no mundo. Grande ou pequena, com um ou dois quartos, dentro de um condomínio ou não, é o nosso universo particular. E já que estamos falando em mundo, você já parou para pensar que o nosso lar também pode ser um agente de transformação para um planeta mais sustentável? Esse papo pode soar como coisa de eco-chato, mas na Menos1Lixo garantimos que não. Afinal de contas, a sustentabilidade vem ganhando cada vez mais espaço globalmente e, claro, a arquitetura não fica de fora dessa.

Hoje, quando o assunto é sustentabilidade, um dos pilares mais discutidos é o ESG. Você provavelmente já ouviu falar nessa sigla, mas se não souber o que de fato significa é só seguir na leitura. 

Afinal, o que significa contemplar a sigla ESG na arquitetura?

Uma das técnicas que mais vêm crescendo no campo da arquitetura é o conceito ESG. O termo foi cunhado em 2004 num relatório feito pelo Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU). A sigla do inglês significa Environmental, Social and Corporate Governance, e é utilizada para referir-se à governança  ambiental, social e corporativa, em tradução livre, aplicados a empresas e instituições. Para se ter ideia, em 2021 o interesse em ESG bateu recorde no país; ou seja, nunca os brasileiros buscaram tanto pelo assunto quanto no último ano. Não é pra menos, já que, ao incentivar boas práticas nesses três campos, esse tripé proporciona impactos pra lá de positivos e maior credibilidade às corporações que o levam a sério, por meio da responsabilidade socioambiental e de uma governança empresarial eficaz e justa.

A arquitetura está diretamente relacionada com a construção civil, que pode proporcionar impactos ambientais negativos ao planeta. A pergunta que fica é: como mudar esse cenário? Sim, é possível fazer diferente, e a tecnologia tem ajudado através de novas alternativas que evidenciam que modelos extrativistas lineares estão fora de lógica. O Brasil, por exemplo, é o 4º país que mais cresceu em 2021 no setor de energia solar fotovoltaica

Se abrir para o universo do ESG na arquitetura é uma oportunidade. 

Fato é: a construção de qualquer projeto de arquitetura exige uma gestão atenta para se tornar de fato sustentável. Assim, as práticas corporativas do conceito ESG podem inspirar profissionais dessa área, e de várias outras, a terem um controle maior de prevenção à impactos negativos socioambientais. Se colocarmos na balança, que, de acordo com especialistas climáticos a serviço da ONU, o mundo só tem três anos para começar a derrubar emissões de CO2, ou perde a chance de aquecer menos que 1,5°C, tudo isso se torna ainda mais urgente.

Natana Angheben Eitelven, arquiteta e paisagista pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), se especializou em criar ambientes em que a natureza reafirme o seu poder na vida dos seres humanos. Para ela, não dá mais pra produzir sem pensar no antes e no depois, está tudo interligado. Pensando nisso, a arquiteta nos deu algumas dicas de como trabalhar os três pilares do ESG na arquitetura na prática. Confira abaixo. 

ESG na arquitetura
Natana em um dos seus momentos de pesquisa e inspiração do jeito que ela mais gosta: imersa na natureza (Foto: arquivo pessoal)

Ambiental (environmental)

A indústria da construção é um dos setores com maior potencial para reduzir significativamente a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e, nesse pilar, o conceito ESG pode ser aplicado no campo da arquitetura por meio de práticas sustentáveis como:

  • Ventilação e iluminação natural: um estudo evidenciando a forma como a edificação está disposta no terreno faz toda a diferença. Dessa forma, é possível prever formas de aproveitar o sol e a ventilação a favor do ambiente, economizando energias industriais como ar condicionado, lâmpadas, e etc. Esse cuidado reduz consideravelmente o impacto ambiental, e se for colocar na ponta do lápis, as contas do mês também. Quem mais concorda que é um baita desperdício não usufruir da luz natural do nosso país?
  • O uso de madeira engenheirada: a conta aqui é simples e direta! Enquanto na produção de concreto ou aço há emissão de C02 (componente que contribui, por exemplo, para poluição do ar e problemas ambientais gravíssimos, como efeito estufa), a madeira engenheirada absorve esse componente. Estima-se que um metro cúbico dessa tecnologia retira cerca de uma tonelada de dióxido de carbono da atmosfera. Mas, claro, é importante que não só esse material, mas também qualquer outro fornecido, possua certificação verde. 
  • Diminuição dos ruídos: muitos ainda não sabem, mas sim, esse é um impacto ambiental que precisa ser cuidado. A poluição sonora provoca o afastamento de animais, prejudicando a reprodução, e pode até mesmo ser fatal. Os ruídos afastam e até matam as aves, ocasionando a diminuição da sua população local, desequilibrando o ecossistema e provocando o aumento da população de insetos na ausência de seus predadores. O ruído de construção é uma das principais fontes de poluição sonora, devido aos maquinários, demolições e paisagismo. O investimento em materiais com alta capacidade de isolamento acústico pode ser uma boa alternativa, assim como a combinação de materiais que podem aumentar a eficiência no bloqueio do som.
  • Limitação do uso de combustível: a queima de combustíveis fósseis, como gás e diesel, é provavelmente o maior impacto negativo ao meio ambiente numa construção. Cada projeto resulta nessas emissões de gás de dióxido de carbono, metano e outros resíduos poluentes que contribuem para o aquecimento global. Mas se engana quem pensa que diminuir esse impacto é uma tarefa difícil. Minimizar as distâncias de transporte, reduzir o tempo de marcha lenta do veículo, apostar em fontes de combustível mais ecológicos e usar equipamentos híbridos são algumas das opções que ajudam a diminuir as emissões negativas, melhorando a qualidade do ar e, consequentemente, de vida.

Social

No âmbito social, o conceito ESG alerta sobre a importância de aspectos como direitos humanos, relações saudáveis de trabalho, diversidade entre os colaboradores, equidade, além de relações com a comunidade e claro, investimento em projetos sociais. 

A verdade é que o reflexo de uma arquitetura com mais sustentabilidade, atenta não só à edificação, mas também ao entorno dela, reflete na sociedade de uma forma muito positiva. Quer um exemplo?

ESG na arquitetura
Projeto mostra que sim, é possível construir visando também o entorno da edificação (Foto: Siméon Duchoud)

O projeto nasceu a partir do olhar regenerativo e inquieto de Francis Kéré. Quando criança, o nativo de Burkina Faso, país africano, viajava cerca de 40 quilômetros até a aldeia mais próxima para ir à escola, com má iluminação e ventilação. Quando decidiu estudar arquitetura na Europa, ele investiu o seu conhecimento para a construção de uma nova escola, trazendo uma lente otimista e propositiva para a sua aldeia natal.

O sucesso da Escola Primária se deve à otimização de resultados com mínimos recursos disponíveis. Uma construção híbrida de argila e lama foi levantada primeiramente, já que o primeiro item é abundante na região. A construção também conta com uma técnica de barro tradicional conhecida como ‘tijolos de argila’, material que tem a vantagem adicional de ser barato, fácil de produzir e também fornece proteção térmica contra o clima quente do país. O telhado da escola foi projetado para fora do espaço das salas de aula e um teto de argila perfurado com ampla ventilação foi introduzido. Esse teto de tijolos empilhados possibilita a ventilação máxima, proporcionando ar fresco e liberando o ar quente pra fora através do teto perfurado. Logo, a pegada ecológica é muito reduzida, uma vez evitada a necessidade do uso de ar-condicionado. Você concorda que esse é um baita exemplo de enxergar a construção e o seu entorno?

Governança corporativa (corporate Governance)

Quando o assunto é governança, o estímulo é para o cumprimento de obrigações fiscais e legais, transparência, e algo pra lá de importante para o campo da arquitetura: gestão de riscos e de crises. 

Só no Brasil, cem milhões de toneladas de entulho são descartadas anualmente. Então, quanto melhor pensado for o projeto e quanto mais interdisciplinares forem as equipes, maiores serão as chances de reduzir esse impacto. 

E você sabe qual é a importância disso? Resíduos de demolição compõem surpreendentes 90% do total de detritos, e grande parte desses resíduos é descartada em aterros ou por meio de incineração. Ambos os métodos prejudicam o planeta. 

Quanto mais compatibilidade entre os times de arquitetura e engenharia, os fornecedores e todos os envolvidos na edificação, menores serão as chances de desperdício e grandes erros que resultem em custos e degradação ao meio ambiente.

A mensagem que fica aqui é: o conceito ESG tem grande importância no campo corporativo por separar quem contribui para a preservação do meio ambiente de quem ainda não despertou para o assunto mais importante da atualidade.

Empresas e negócios são a engrenagem do sistema e podem sim mudar o mundo. Um novo futuro corporativo é essencial para um futuro mais justo, e é muito mais fácil do que parece participar da construção dele. Bora fazer a diferença? 


Por João Espingarda - @joaospng

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  1. Esse texto me inspirou muito a trabalhar com bioconstrucoes, muito bom, João, Menos 1 Lixo e Archtrends

  2. Que texto incrível! Amei essa escrita leve, sensível e rica ao mesmo tempo. Como profissional da sustentabilidade que lê muito sobre isso o tempo todo e as vezes fica cansada da escrita monótona, ler esse artigo foi um respiro pra alma. Quero ler mais do João Espingarda por aqui! 🙂



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