Os 8 maiores erros na hora de especificar revestimentos
Seria muita ingenuidade a minha dizer que não há segredos na especificação de revestimentos. Trabalho há anos com este universo e, mesmo depois de me tornar uma autoridade no assunto, preciso estar sempre me atualizando sobre os lançamentos e as novas tecnologias.
Parece papo de professora, mas realmente acredito que a educação é fundamental para o nosso crescimento pessoal e profissional, pois fornece habilidades, conhecimentos e ferramentas necessárias para enfrentarmos os desafios do dia a dia.
Quem trabalha com obras sabe o quanto este pode ser um ambiente estressante, e sei que a etapa de revestimentos causa muita insegurança em arquitetos e designers de interiores. Parte disso deve-se à uma defasagem na formação desses profissionais, mas a falta de conhecimento não pode prejudicar o cliente.
A seguir, confira os oito maiores erros na hora de especificar revestimentos e como você pode evitá-los!
1. Não entender as necessidades e os desejos do cliente
Um projeto bem-sucedido não é aquele digno de capa de revista, mas o que atende às expectativas do cliente. Imagine que você criou todo o projeto 3D de uma sala com o piso de madeira como base da decoração e, só na finalização, descobre que o cliente tem um cachorro e precisa lavar o piso com frequência. Este pequeno detalhe muda tudo. E não é culpa do cliente: ele não é obrigado a saber que o piso de madeira não é ideal para ele, mas você, sim!
Isso só é possível quando compreendemos as necessidades e os desejos daquela pessoa na nossa frente. Parece simples, mas acreditem que muitos arquitetos e designers de interiores subestimam a importância de uma boa conversa na hora de projetar.
Por isso, o Briefing Sensorial faz tanto sucesso. Desenvolvi esse método quando criei a Escola do Acabamento e essa ainda é a primeira aula do nosso curso. Através de um questionário simples, baseamos a escolha dos revestimentos nas reais necessidades, sonhos, hábitos e cultura do morador.
Quando entendemos o cliente de forma profunda, conseguimos especificar de maneira mais assertiva, elegendo as características técnicas que combinam com seu estilo de vida e com a estética desejada.
2. Pensar com o seu próprio bolso
Em qualquer profissão, é natural deixarmos as nossas próprias vivências e experiências interferirem. Mas na hora de especificar revestimentos, faça um exercício de distanciamento e reflita: é caro para mim ou para o cliente? Este valor final é aceitável para mim ou para o cliente?
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Nos meus anos como vendedora em lojas especializadas em revestimentos, perdi a conta de quantas vezes assisti clientes insatisfeitos com a compra. Isso poderia facilmente ser evitado com um planejamento de gastos alinhado ao poder aquisitivo do morador. Quando temos uma noção do quanto pode ser gasto, fica mais fácil acertar nas opções.
Eu sei que nem todo mundo gosta de falar de dinheiro. Enquanto alguns clientes apresentam abertamente suas condições financeiras, outros podem dar um pouco mais de trabalho neste quesito. Isso não é justificativa para deixar a situação virar uma bola de neve, resultando em um morador insatisfeito por não conseguir pagar o que lhe foi prometido ou por se deparar com opções com qualidade muito aquém do que ele poderia pagar.
Outro ponto importante com relação ao orçamento é compreender onde o cliente está disposto a investir mais. Por exemplo, uma pessoa que gosta de cozinhar, no geral, preocupa-se mais com o material da bancada do que com o rodapé da sala. Saber distribuir o dinheiro disponível conforme os desejos e as necessidades do cliente é uma senhora carta na manga na hora de apresentar o orçamento.
3. Desconsiderar a avaliação técnica do ambiente
O levantamento é a fase inicial de qualquer projeto. Nele, coletamos todas as informações necessárias para os desenhos técnicos, especificações e planejamentos. Um levantamento eficiente evita muitos erros, que poderiam comprometer a integridade da estrutura ou a segurança dos moradores.
Uma área molhada, como o banheiro e a lavanderia, não pode ser revestida da mesma forma que uma sala e um quarto. Em ambientes sujeitos à formação de lâmina de água, o piso indicado deve ter um coeficiente de atrito entre 0,4 e 0,7. O coeficiente de atrito é o parâmetro utilizado para medir a resistência do revestimento ao escorregamento. A lógica é simples: quanto maior o atrito, menor o escorregamento.
4. Não conhecer as propriedades dos materiais
Sempre digo que não existe revestimento bom ou ruim, existe o certo e o errado para o seu cliente. Para chegar à melhor opção, é necessário entender com profundidade os produtos disponíveis no mercado.
Com o briefing sensorial, o orçamento e a avaliação técnica correta do ambiente, é hora de ponderar as propriedades e desvantagens de cada material para, então, escolher aquele que melhor atende à necessidade daquele projeto.
A especificação equivocada pode acarretar em danos financeiros, emocionais e físicos. Por isso, afirmo sem sombra de dúvidas: o conhecimento técnico é o ponto de partida para bons projetos, obras bem executadas e clientes mais satisfeitos com seu trabalho.
5. Erro de cálculo e paginação dos revestimentos
Com o projeto em mãos e materiais escolhidos, é hora de calcular a quantidade necessária de revestimento. Isso só é possível quando estabelecemos a paginação, ou seja, o desenho que guiará a instalação e o assentamento. Nela, definimos o ponto de início, o sentido e, então, chegamos ao melhor formato para aquele ambiente.
A melhor paginação é aquela que agrada esteticamente o morador, considerando sempre a quantidade de rejuntes, e apresenta o melhor aproveitamento do revestimento, com menos recortes e, consequentemente, uma perda menor.
O cálculo do revestimento está diretamente relacionado à paginação e ao formato. Infelizmente, a regra dos 10% para a porcentagem de perda não é válida para todos os casos. Em uma paginação espinha-de-peixe, por exemplo, as perdas variam entre 15 e 25%, uma escolha que acaba sendo mais cara para o cliente do que a paginação alinhada.
Por mais que as lojas divulguem os valores dos revestimentos por metro quadrado, muitos materiais são vendidos apenas em caixas fechadas. Se este for o caso, para chegar ao número de caixas, basta dividir a metragem total + porcentagem de perda pelos metros quadrados comercializados em uma caixa e arredondar para cima. Sempre para cima! Um cálculo errado ou uma paginação com falhas técnicas podem gerar grande incômodo e prejuízo ao cliente.
6. Especificar errado os insumos de assentamento
Você sabia que as maiores patologias em obras aparecem durante a fase de assentamento? Os insumos variam conforme o material, o formato e a superfície na qual o revestimento será aplicado. Essa etapa é extremamente delicada pois, por um erro bobo na escolha da argamassa, causamos danos irreversíveis, atrasos no cronograma, perda de material e acidentes.
Um erro muito comum é achar que todas as argamassas são iguais, quando na verdade existem uma infinidade delas. A melhor forma de avaliar é sempre ler ficha técnica e entender que determinação do produto ideal envolve a base em que será aplicado, o tipo de produto, formato da peça e se é em ambiente externo ou interno.
E, olha, se tem um revestimento que as pessoas pecam na escolha da argamassa é a Lastra. Por serem peças enormes, são necessárias argamassas específicas para ter uma aderência e instalação completa. E a escolha errada da argamassa causa danos ao produtos.
O rejunte é o material responsável por preencher a emenda entre revestimentos, já que a maioria deles não podem ser assentados lado a lado, na chamada junta seca, pois tendem a expandir com o calor e retrair no frio. O rejunte irá garantir que a peça não trinque ou crie dentes. Sua espessura deve, então, seguir a orientação do fabricante do revestimento, pois depende daquele material específico. Existem três tipos de rejunte: cimentício, acrílico e epóxi, com indicações e custos distintos.
7. Não seguir as especificações dos fabricantes
Não existe fórmula mágica ou padrão de execução! Para garantir uma especificação e instalação segura dos revestimentos, o arquiteto ou designer de interiores precisa estar inteirado sobre as normas técnicas e as recomendações do próprio fabricante. Por isso, nunca deixe de ler a ficha técnica dos materiais.
8. Não contratar mão de obra especializada
Eu sei que alguns clientes insistem em economizar na mão de obra e até se disponibilizam para aplicar o papel de parede, pintar o muro e encaixar o piso vinílico. Mas sempre gosto de reforçar a importância de contratar mão de obra especializada. Cada produto tem uma forma de aplicação e, infelizmente, os macetes só tem quem faz.
Por isso, procure sempre a equipe mais apta a trabalhar com o revestimento que você especificou e evite que o barato saia mais caro. Mesmo quando falamos em um único material, como o porcelanato, tenha em mente que a mão de obra para instalação de piso e execução de bancadas é completamente diferente.
Qual dica foi mais importante para você?