Peter Forbes relembra conselho: "Os projetos que você fizer, faça para serem obras-primas"
‘’Less is more não é uma frase para escrever em uma camiseta e basta. É uma filosofia, uma visão de trabalho que deve ser vivida e colocada em prática.’’
E essa foi apenas uma entre várias citações de Peter durante uma entrevista que acabou virando um bate-papo espontâneo, aula de história e viagem no tempo — e que tempo! Como falar de arquitetura e não lembrar de grandes nomes como Mies van der Rohe e Louis Kahn? Ah, os anos 60!
Peter Forbes é um arquiteto da FAIA. Paralelamente, executa projetos em Chicago, Boston, Nova York e, desde 2008, leciona no Florence Institute of Design International. Ganhou inúmeros prêmios, incluindo a Medalha de Ouro da Industrial Designers Society of America, em 1994, e o Chicago Athenaeum Award of Architectural Excellence, em 2009, e foi recebido no New England Design Hall of Fame. Entre suas publicações, está a obra Ten Houses: Peter Forbes and Associates (Rockport Press).
Peter começa contando um pouco do seu trabalho, da sua paixão em projetar casas e explica: “A beleza desses projetos é a singularidade de cada criação, estudar o seu cliente, a cultura dele, quem ele é, de onde veio”.
Ele também realça a importância da conexão entre o lugar e o projeto. “Eu projetei uma casa nos Estados Unidos baseada no primeiro ponto em que a luz encontrava o solo pela manhã. Isso fez com que aquele projeto se tornasse único e específico para aquele local. Tem sempre um senso de magnetismo entre o arquiteto e o lugar, muito além do projeto que será realizado. Uma casa de frente para o mar, por exemplo, você não precisa necessariamente projetar para ver o mar, você pode projetar para o cliente encontrá-lo. Aquele ponto já está ali antes, quando você chega para criar, e a maneira como você respeita e interpreta isso interfere muito no resultado final”, avalia Peter.
“Durante os anos em que trabalhei com Mies, ele citava muito a importância de construir com cuidado, respeitando o lugar. Ele comparava pontuar um cristal em uma ópera, e ressaltava que você deve ser muito cauteloso ao inserir um projeto em uma paisagem; arquitetura é algo muito denso e ficará ali para sempre”, relembra Peter.
“As sensações que você cria com um projeto também são muito importantes, eu gosto de destacar o Seagram Building em Manhattan. É um projeto do Mies incrível, no qual ele criou um respiro em meio aos arranha-céus da Park Avenue. É um diferencial, um espaço único naquela avenida. Ele conseguiu valorizar ainda mais um terreno valiosíssimo, não construindo a mais, e sim criando uma praça. E as pessoas respondem a isso, virou um ‘vazio’ em meio ao caos da cidade grande”, conta Peter.
Peter, já que você começou a falar um pouco do Mies, acredito que você leva muitos aprendizados do tempo em que trabalhou com ele. Fale um pouco para a gente de como foi essa experiência.
Mies era extremamente cuidadoso e valorizava muito os detalhes. Eu lembro dele fumando o seu cigarro no escritório de 24 pessoas — mas que tinha um elevador em que só cabiam três — Peter ri —, corrigindo os projetos e pontuando exatamente o que ele queria. Ele sempre sabia aonde queria chegar, e esse era o seu diferencial. Mies sabia explicar exatamente porquê aquilo não funcionaria, e justificar porquê estava errado.
Se eu aprendi uma coisa trabalhando com Mies é que as coisas devem ser feitas em um modo perfeito. Ninguém vai se importar com quanto dinheiro você fez realizando aquele projeto, mas sim com aquilo que você deixou construído. Build forever. Se você construir para sempre, será imortal. Você sabe quanto Brunelleschi ganhou construindo a cúpula do Duomo? Ninguém sabe, talvez ele tenha até perdido dinheiro — Peter ri. Mas o projeto estará ali para sempre. Se você compra uma calça e ela não te serve, você troca, doa ou joga fora; na arquitetura não funciona assim. Eu procuro organizar o meu escritório como Mies organizava, para os meus projetos serem perfeitos.
Tem alguma característica do Mies que você usa até hoje nos seus projetos?
Nos meus projetos você não consegue pontuar algo específico do Mies, porque eu levo comigo o modo de pensar dele, eu aprendi com ele, olhando-o trabalhar. Durante a minha carreira, em alguns momentos em que eu crio ou descubro o uso de algum material, eu penso: "Ele teria criado isso também se tivesse acesso à tecnologia que eu tenho".
Peter, nós não temos mais esses grandes ícones da arquitetura, mas ainda temos você. Qual o diferencial desses grandes arquitetos? O que você acha que falta hoje em dia?
Talvez nós estejamos vivendo na sombra desses grandes gênios. Hoje as pessoas se baseiam naquilo que já existe, não na época em que estão vivendo. Pensar é muito mais difícil do que desenhar e executar um projeto, e eu acredito que falta isso. Falta um arquiteto se fechar em um quarto e perder horas pensando, se inspirar no que aqueles grandes mestres estavam querendo criar, nas dificuldades que eles tinham para projetar, e não em um projeto pronto. Senão teremos sempre cópias e não criações.
Viver a arquitetura dos anos 60 era estar no meio de ícones, e eles eram muito mais acessíveis que os grandes arquitetos de hoje. Lembro de noites tomando martinis no apartamento do Mies e discutindo sobre projetos. Quando eu descia para tomar um café com Louis Kahn nos intervalos de trabalho, ele sempre pedia minha opinião, me incentivava a pensar, a dar ideias, a contribuir. Eu era apenas um jovem arquiteto, mas, para os grandes mestres, ouvir os outros era muito significante. E Louis sempre me falava: "Não faça muitos projetos, mas os projetos que você fizer, faça para serem obras-primas".
Eu comparo caminhar na rua, durante aquela época, com caminhar por Florença no período do Renascimento. “Ciao, Brunelleschi, como vai a cúpula?’’ — brinca Peter. Depois de um tempo difícil, de uma fase crucial, grandes mentes buscavam um caminho diferente, inspiração, e surgiram grandes criações, hoje em dia está tudo muito monótono.
Finalizo a entrevista perguntando qual foi o auge da carreira de Peter, e ele me surpreende respondendo:
O momento mais importante? Eu diria que ainda não o atingi — Peter ri —, pois nós ainda temos o amanhã. Tudo que eu vivi até agora foi fantástico.
Sempre admirei o trabalho do arquiteto americano Peter Forbes, e ter a oportunidade de ser sua aluna foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. A ideia de entrevistá-lo surgiu após pensar sobre quão importante é falar de arquitetura com alguém que teve a oportunidade de viver em uma das suas fases mais incríveis.
Conhecimento deve ser sempre passado adiante — quantas coisas que nós sabemos podem inspirar e ser úteis para alguém ao nosso redor? A informação atinge cada um de maneira diferente, instiga e gera diversas possibilidades de interpretação e percepção sobre o mesmo assunto. Eis que, então, uma conversa descontraída de uma hora e meia talvez tenha me atribuído tanto conhecimento quanto alguns anos de estudo — ou talvez até mais. Não poderia deixar de registrar cada detalhe e dividir isso com vocês.
What an amazing text!! It's so nice to read the thoughts of a legend!! You showed us with perfection what you felt on this interview and it's such amazing!! Congratulations Luiza, you're getting better and better!
Excelente entrevista e informações por ela repassada, principalmente qdo cita a importância de investigar a cultura e a identidade para quem ou lugar ao qual irá projetar. O bacana da singularidade!!
Além de conhecer um pouco sobre grandes nomes da arquitetura, achei uma ótima reflexão, parabéns!
"Pensar é mais difícil que desenhar e executar um projeto".
Concluo que sabedoria está em pensar, criar e buscar inspiração baseada em nossos conhecimentos e vivências.
Na arquitetura e na vida...
Ficamos felizes que tenha gostado!
Volte sempre.
- Equipe Archtrends Portobello
Hello, Luiz!
We appreciate your comment! Luiza wrote an incredible article.
- Team Archtrends Portobello