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Enedina Alves Marques: conheça a história da primeira engenheira civil negra do Brasil

Enedina Alves Marques foi a primeira engenheira negra da história do Brasil (Foto: Fundação Palmares)

Você já imaginou ter que andar com uma arma na cintura e dar tiros para cima toda vez que precisasse ser ouvido? Era isso que fazia Enedina Alves Marques, a primeira engenheira negra do Brasil.

Se preferir, aperte o play abaixo para escutar o áudio do artigo:

Essa atitude de Enedina pode até parecer um pouco absurda nos dias de hoje. No entanto, se você parar para pensar um pouco e se colocar no lugar dessa engenheira, compreenderá o porquê da ação radical ser tão necessária.

Vamos começar pensando sobre o atual mercado de Engenharia no Brasil. De acordo com dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o nosso país tem atualmente mais de 800 mil engenheiros registrados. Desse número, apenas 196.372 são mulheres.

Saindo da questão de gênero e entrando na racial, o número de jovens negros desempregados é quase o dobro do de brancos, conforme mostra uma reportagem do Correio Braziliense. Isso prova que o preconceito, enraizado culturalmente na nossa sociedade, ainda existe.

Enedina entrou para a história como uma grande vencedora. Ela é hoje uma fonte de inspiração para engenheiros e engenheiras, que veem em sua trajetória um motivo para persistir na carreira, até mesmo nos momentos mais difíceis.

É por isso que escolhemos contar a história dela aqui no Archtrends. Siga a leitura!

Os primeiros anos e a vida escolar de Enedina Alves Marques

Enedina Alves Marques nasceu em Curitiba (PR), no dia 13 de janeiro de 1913. Ela era filha de Paulo Marques e Virgília Alves Marques, que ganhavam a vida trabalhando como agricultor e lavadeira, respectivamente.

Na década de 1920, dona Duca, como a mãe de Enedina era chamada, foi contratada para trabalhar como empregada doméstica na casa do major Domingos Nascimento Sobrinho. 

Sem ter com quem deixar Enedina para trabalhar, dona Duca levava a filha com ela para a casa do patrão. O major Domingos tinha uma filha chamada Isabel, da mesma idade.

As meninas logo ficaram amigas e brincavam juntas, enquanto dona Duca trabalhava. Quando Isabel entrou em idade escolar, o major Domingos propôs pagar pela educação de Enedina, se em troca ela fizesse companhia à sua filha na escola.

Por volta de 1925, as meninas foram alfabetizadas na Escola Particular da Professora Luiza. No ano seguinte, ingressaram na Escola Normal, até a formatura, em 1932.

Concluído o curso Normal, Enedina conseguiu emprego como professora e passou a dar aulas para crianças em cidades do interior do Paraná.

Em 1937, pensando em continuar a carreira como professora, Enedina voltou para Curitiba, onde se matriculou no curso Madureira, que era uma exigência para quem quisesse atuar como docente na época.

A descoberta do amor pela Engenharia e os principais projetos da primeira engenheira negra

A casa onde a mãe de Enedina Alves Marques trabalhava é a atual sede do IPHAN (Foto: IPHAN)

Durante a sua trajetória escolar, Enedina Alves Marques sempre gostou de matemática e das outras ciências exatas. Porém, ela não queria ser apenas professora, repassando os seus conhecimentos para os alunos. Preferia colocar em prática o que estudava e desenvolver projetos.

Foi por isso que, em 1940, a jovem ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná. Enedina concluiu o curso em 1945, tornando-se a primeira mulher engenheira do estado paranaense e a primeira negra do Brasil.

Enedina Alves Marques em uma foto com a família que a acolheu enquanto cursava a faculdade de Engenharia (Foto: Fundação Palmares)

Enquanto estudava Engenharia, Enedina continuou a trabalhar como professora, usando o salário para pagar os estudos. Nessa época, ela viveu abrigada na casa de uma família que estava engajada em um projeto de alfabetização para adultos.

Um ano após se formar, em 1946, ela conseguiu ingressar na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas do Paraná, em que atuou, inicialmente, como auxiliar de engenharia.

Com muito esforço, Enedina conseguiu fazer carreira como engenheira no setor público. Ela foi chefe de hidráulica, da divisão de estatísticas e do serviço de engenharia do Paraná.

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Na época em que o estado era governado por Moisés Lupion, entre 1956 e 1961, Enedina foi designada para trabalhar no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica do Paraná. 

Entre os principais projetos em que atuou está o Plano Hidrelétrico do Estado e em obras para o aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.

A Usina Capivari-Cachoeira, inclusive, é tida por muitos como um dos principais projetos desenvolvidos pela engenheira.

O dia a dia da primeira engenheira negra do Brasil

Enedina Alves Marques e suas colegas, quando trabalhava como professora (Foto: Fundação Palmares)

Os relatos de pessoas que viveram na época contam que Enedina Alves Marques era muito vaidosa e gostava de andar bem arrumada e maquiada em seu dia a dia. Entretanto, quando estava em uma obra, a vestimenta padrão era um macacão de operário com um cinto.

Era nesse cinto que a engenheira carregava a sua arma. Ela começou a andar armada quando percebeu que, por ser mulher e negra em um ambiente que era totalmente dominado por homens, precisava se fazer respeitar.

Como levantar a voz não adiantava, Enedina resolveu adotar uma postura mais enérgica. Toda vez que os colegas homens não a deixavam falar ou adotavam alguma postura machista, ela dava tiros para o alto, para amedrontá-los e impor respeito.

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Um dos principais trabalhos pelos quais Enedina Alves Marques é conhecida é a Usina Capivari-Cachoeira (Foto: Governo do Paraná)

Em 1958, o major Domingos Nascimento Sobrinho, que pagou pela educação primária de Enedina Alves Marques, faleceu. Ela ficou surpresa ao saber que estava inclusa no seu testamento e que receberia parte da herança. O ex-patrão de sua mãe quis mostrar a todos o orgulho que sentia da menina que ajudou a criar.

Alguns anos depois, em 1962, Enedina se aposentou do governo do estado do Paraná. O governador da época, Ney Braga, admitiu em decreto a relevância dos feitos da engenheira e concedeu a ela uma aposentadoria com um salário equivalente ao de um juiz.

Enedina faleceu em 1981, aos 68 anos, vítima de um infarto, no apartamento em que vivia na cidade de Curitiba. Ela nunca se casou e nem teve filhos, não deixando parentes próximos.

Homenagens póstumas

Como forma de homenagear Enedina, em 1988, a Câmara de Vereadores de Curitiba deu o nome dela a uma rua inaugurada na Vila Oficinas, no bairro Cajuru.

Quase duas décadas depois, em 2006, foi fundado em Maringá (PR) o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques. O reconhecimento veio por conta da admiração que o grupo fundador tem pela engenheira.

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Enedina Alves Marques construiu uma carreira brilhante! Ela venceu todos os preconceitos da época em que viveu e se tornou um dos grandes nomes da engenharia nacional.

Por isso, no Dia do Engenheiro, ela foi a escolhida para representar a homenagem que queremos prestar a todos que escolheram essa profissão.

Gostou de ler essa história? Então, você também vai gostar de saber mais sobre Tebas, um dos principais arquitetos negros do Brasil. Leia o nosso artigo que fala sobre a vida dele!

E se você é engenheiro ou engenheira, cadastre-se no Archtrends para expor, em nossa vitrine virtual, suas obras com produtos Portobello. 

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