A Portobello sonhou com uma nova coleção para 2022 que representasse seus ideais, sua criação colaborativa e, sobretudo, o que passamos nos últimos anos e o que podemos desejar daqui para frente. Assim nasceu Unlimited Dreams, uma coleção feita para quem sonha.
A ela integram contribuições valiosas dos ícones da arquitetura brasileira Ruy Ohtake e Paulo Mendes da Rocha, que nos deixaram no ano passado. Seus filhos, o arquiteto e designer Rodrigo Ohtake e a arquiteta e designer Nadezhda Mendes da Rocha, deram continuidade à parceria com a Portobello na criação de suas linhas que ainda estavam em desenvolvimento, Oh!take e Soma, respectivamente.
Para o Dreambook Portobello, eles foram convidados a projetar um ambiente dos sonhos revestido com os próprios produtos cocriados na coleção. A talentosa arquiteta paulista Barbara Dundes também recebeu o desafio de projetar um espaço, mas com outro lançamento de destaque, Shibori, que leva a assinatura da designer italiana Paola Navone.
Confira como foi o processo criativo desses profissionais na entrevista exclusiva para o Archtrends Portobello.
Living soma elegância e descontração,
por Nadezhda Mendes da Rocha
A grande escala 80x80 dos ladrilhos da linha Soma guiou Nadezhda Mendes da Rocha para a construção de um living dos sonhos. "A ideia do projeto surgiu a partir do ensaio das possíveis composições com os desenhos. Espero que possa inspirar e trazer um ar descontraído e elegante para outros ambientes", afirma a arquiteta e designer, que completa o pensamento: "o revestimento como elemento de composição sempre deve ser usado de maneira despretensiosa e divertida".
Para ela, criar a nova linha ao lado de seu pai Paulo Mendes da Rocha foi uma experiência marcante. "Aceitamos o convite da Portobello de maneira amorosa, a fim de estarmos perto e criarmos algo juntos. Mas a responsabilidade de tocar o projeto após sua partida foi enorme e desafiadora. Contudo, creio que ele ficaria orgulhoso do resultado", comenta.
Eles buscaram, juntos, projetar Soma pensando nas novas possibilidades da indústria em relação aos produtos, além de trazer a liberdade na composição com os padrões geométricos, que podem combinar com diferentes materiais. "Se antes o pensamento de ladrilhos era modular e seus desenhos existiam apenas na escala 20x20cm, agora com a tecnologia das lastras a escala passa a ter o grande formato 80x80", ressalta Nadezhda.
A linha Soma também contempla a interpretação de mosaicos no formato 30x80. "Além de servirem para grandes áreas, eles podem ficar muito bonitos em paredes e superfícies menores", sugere a arquiteta e designer.
A convivência de Nadezhda Mendes da Rocha com a arquitetura existe desde sempre. Quando adolescente, ela compreendeu que a obra de seu pai tinha uma importância política muito forte, mas só percebeu sua real dimensão quando ele ganhou o Pritzker Prize, em 2016. Neste momento, ela cursava o primeiro ano da faculdade de arquitetura, na Escola da Cidade.
Nadezhda nasceu e cresceu na Casa do Butantã, criada por Paulo para viver com a família. "As possibilidades e liberdades criativas estão tão presentes na casa, em cada detalhe construtivo, que acredito que isso tenha sido minha maior inspiração profissional, a ideia de que se pode inventar todas as coisas", revela.
A arquiteta e designer nos conta que seu processo criativo é bastante variado. De acordo com cada demanda de projeto, sua inspiração também surge no dia a dia, nas cidades, nas pessoas. "Não tenho exatamente um estilo arquitetônico predileto, acredito que a boa arquitetura é aquela que dialoga com o lugar e a cultura onde ela está inserida, estabelecendo um discurso com/sobre os espaços", frisa.
Ondulação e volumetria de Oh!take,
por Rodrigo Ohtake
Criar Oh!take ao lado do seu pai foi um grande aprendizado para Rodrigo Ohtake. "Ele nos tirava do óbvio e trazia respostas surpreendentes. No processo criativo do produto, meu pai aparecia no dia seguinte com uma nova ideia, às vezes algo bem diferente e, outras vezes, uma evolução. Ele ficaria muito contente com o resultado da linha: dimensões, ondulação, cores fortes e volumetria", declara o arquiteto.
Na visão de Rodrigo, o revestimento é fundamental para um bom desempenho térmico, acústico e, principalmente, para tornar o ambiente aconchegante. A nova linha, segundo ele, traz essa proposta. "As lastras de Oh!take conseguem decorar piso e parede com suas sete cores que combinam entre si, tornando o lugar acolhedor e não monocromático. Mas também criam inúmeras outras possibilidades. Já a obra de arte Soul, com sua volumetria surpreendente, pode decorar uma parte da parede ou ela inteira", propõe.
Rodrigo Ohtake cresceu em uma família de arquitetos, (pai, mãe e tio), então a arquitetura também sempre esteve presente na sua vida, em todos os momentos do dia, mas “de uma forma muito natural”, como ele costuma afirmar.
"Convivi intensamente com meu pai, principalmente na adolescência, quando eu já estava mais próximo da arquitetura. Almoçávamos juntos em família todos domingos na casa da minha avó [a artista Tomie Ohtake], onde tínhamos conversas sobre cultura, arquitetura, política e arte. Quando me tornei arquiteto, passamos a ficar mais juntos. Ele sempre foi muito generoso em compartilhar conhecimento", declara Rodrigo.
A arquitetura é uma profissão fácil de se apaixonar. A gente está falando em construir sonhos das pessoas, construir espaços onde elas se encontram" - Rodrigo Ohtake
O arquiteto conta como funciona seu processo criativo e suas inspirações ao criar projetos. "Fico muito tempo pensando para depois sentar e projetar. Muitas vezes funciona, noutras, é preciso voltar à etapa inicial. Já a minha inspiração é muito baseada em intuição, o que aprendi com minha avó Tomie. A gente nasce com alguma intuição, mas também desenvolve com repertório, observando o espaço e a vida das pessoas - a intuição é talvez a maior força autoral e individual do ser humano", percebe Rodrigo Ohtake.
O coração da casa com Shibori,
por Barbara Dundes
Em uma parede de cozinha sofisticada, a arquiteta Barbara Dundes destaca as peças artísticas Shibori, de Paola Navone, com aplicação de uma marcenaria limpa e prateleiras de estrutura metálica. No teto, ela traz o plano cartesiano das treliças muxarabi, elemento característico da arquitetura árabe. As varandas para entrada de luz natural e contemplação do verde e o tom madeirado, que abraça e aquece o espaço, completam a sensação de bem-estar.
Ao lado da cozinha, Barbara Dundes alonga o ambiente, criando a conexão com sala de estar, adega e estante com nichos simétricos. "No centro do projeto criamos a mesa em forma orgânica, para unir a família, incluímos o pendente do designer alemão Ingo Maurer e as cadeiras do ícone do design brasileiro Jorge Zalszupin, em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922", descreve a arquiteta.
Criamos um projeto de cozinha - o coração da casa - onde tudo se transforma, acontece, precisa ser vivo, fresco, leve e natural - Barbara Dundes
Barbara Dundes não conhecia a técnica Shibori ao ser convidada para projetar um espaço com uma das peças de Paola Navone, que interpretam a arte milenar do tingimento. "Quando conheci a técnica e vi o produto da Portobello, fiquei encantada. Paola Navone foge do óbvio, com sua linguagem contemporânea sempre ligada à tradição e elementos do passado", disse.
Segundo a arquiteta, as tonalidades esfumaçadas da versão Shibori Índigo Blue, com tingimento azul e cinza, mostra leveza, revela autenticidade e atemporalidade ao projeto. "Amo o produto no 20x20, a forma cartesiana em azulejarias. Ele é quadriculado e, ao mesmo tempo, imperfeito, um paradigma da vida moderna", afirma.
A paixão de Barbara Dundes pela arquitetura contemporânea com brasilidade nasceu desde a sua infância. "Sou filha de engenheiro, meu avô tinha uma construtora e loja de materiais de construção, meu bisavô, uma marcenaria e olaria", conta. Hoje, em cada projeto criado, ela e sua equipe procuram descobrir a história do cliente e trazer memórias afetivas para dentro de seu ambiente. "Entendemos que o seu espaço, criado por nós, é um lugar onde ele se sentirá à vontade para ser quem ele realmente é, para se conectar à sua essência", completa a arquiteta.
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