15.09.2023
Avaliação 
Avalie
 
Sem votos
Avaliar
Trilhos de trem resgatados de período colonial em Gana formam obra do artista Ibrahim Mahama, que abre Bienal de SP (Crédito: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

Diversidade e obras em grande escala marcam a 35ª Bienal de São Paulo

calendar-blank-line
15.09.2023
Trilho de trem, plantação de milho e potente percurso em floresta fazem parte de coreografias do impossível, que segue até 10 de dezembro
minutos de leitura

Trilhos de trem sobre o piso do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, recebem os visitantes na 35ª Bienal de São Paulo, aberta ao público no dia 6 de setembro. Essa estrutura faz parte da obra de Ibrahim Mahama, artista que, em sua pesquisa, se debruça sobre materiais que contam uma história e atravessam temas como commodities, migração, globalização e intercâmbio econômico

Esse trilho, por exemplo, foi resgatado em Gana, onde Mahama nasceu, e tem as digitais do período colonial britânico. Na Bienal, ele foi cercado por vasos típicos do país e é um dos destaques da exposição coreografias do impossível, que segue até o dia 10 de dezembro, com entrada gratuita.

Na foto, da esquerda para a direita, os curadores Manuel Borja-Villel, Diane Lima, Grada Kilomba e Hélio Menezes
(Crédito: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

Mas, o que seria essa ‘coreografia do impossível’? À primeira vista, vemos quebras de paradigmas diante do corpo de curadores, nesta edição, de maioria negra. São eles: a baiana Diane Lima, voz no feminismo negro, curadora independente e pesquisadora; a portuguesa Grada Kilomba, artista interdisciplinar, escritora e teórica, com trabalhos apresentados na Documenta 14, Pinacoteca de SP, Bienal de Berlim, entre outros lugares; o baiano Hélio Menezes, antropólogo, crítico de arte, pesquisador e ex-curador do Centro Cultural São Paulo, e o espanhol Manuel Borja-Villel, historiador de arte, curador e ex-diretor do Museo Reina Sofia. 

Em coletiva para imprensa, Grada contou que nesse encontro dos quatro curadores, que até então não se conheciam, surgiram questões sobre a importância de uma bienal e qual seria o seu propósito.  “Como podemos atuar numa bienal de forma a criar uma plataforma que, de fato, consiga responder às questões urgentes atuais?”, refletiu.

Pois essa união, sem curador-chefe, resultou numa coleção de 1.100 obras de 121 artistas majoritariamente não brancos. Debruçados sobre anseios contemporâneos, o impacto dessa coreografia se manifesta sobre toda a mostra de três andares, que ergue a voz das diásporas e povos originários.Vemos discussões sobre raça, gênero, sexualidade, colonização, escravização, apagamentos culturais entre outros assuntos tão importantes e que vem ganhando cada vez mais espaço no universo artístico. 

Como exemplo, podemos lembrar das esculturas imensas, feitas em madeira, pedaços de troncos e galhos do artista filipino Kidlat Tahimik, situadas no primeiro piso. A obra de grande escala permite que o visitante ande entre os diferentes cenários. Há confrontos entre narrativas de povos originários brasileiros e filipinos contra o neocolonialismo. Também podemos ver o encontro de personalidades históricas e fictícias, além de mísseis erguidos no ar. 

Obra de Denilson Baniwa para a Bienal, plantação de milho aparece entre os destaques e, após colheita, poderá ser consumido por visitantes (Foto: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

Um dos destaques da Bienal é a obra Kwema, uma plantação de milho erguida em uma área externa do Pavilhão e com assinatura do artista amazonense Denilson Baniwa. A ideia, segundo os curadores, é que, quando possível, a colheita seja servida aos visitantes, algo que remete a passagem de tempo, partilha e a integração entre a obra e comunidade.

No mezanino, há um espaço dedicado à Cozinha Ocupação 9 de Julho, do Movimento Sem Teto do Centro, que se propõe a oferecer alimentos saudáveis a preços acessíveis.  

Sala recebe obras de Rosana Paulino, um dos destaques da edição (Foto: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

No terceiro andar, os visitantes encontrarão, em uma sala própria, uma série de pinturas da artista paulistana Rosana Paulino. São quadros amplos com representações de mulheres e seus corpos conectados à natureza: suas pernas se transformam em raízes e mãos seguram animais de mangue. 

Em outro espaço, no mesmo andar, há também a obra emblemática de Rosana, Parede da Memória, com fotografias de familiares impressas sobre almofadinhas e reunidas em um grande painel. Ela divide a galeria com bandeiras de tecido bordado de Arthur Bispo do Rosário.

Parede da Memória, de Rosana Paulino, em contato com bandeiras bordadas de Bispo do Rosário (Foto: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

A artista mineira Sonia Gomes participa com diversas obras, de diferentes tamanhos, em pelo menos três alas. Elas são esculturas costuradas, cobertas por tecidos estampados, redes de pesca, panos coloridos e retorcidos, que evocam memórias afetivas.

Ala repleta de esculturas afetivas de Sonia Gomes (Foto: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

Próximo de Sonia, há a potente instalação Floresta de infinitos dos artistas baianos Ayrson Heráclito e Tiganá Santana. 

Corredor cercado por árvores de Ayrson Heráclito e Tiganá Santana (Foto: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

O visitante é convidado a adentrar em uma sala escura, envolvida em árvores e cenários entre frestas, com sons da natureza e de batuques, e de onde surgem imagens de pessoas como Chico Mendes, do indigenista brasileiro Bruno Pereira, do jornalista britânico Dom Philips e de mãe Stella de Oxóssi.

A mineira Luana Vitra e sua obra Pulmão da mina, com delicadas esculturas em metal de canários (Foto: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

No segundo andar, entre os destaques, aparece a obra também em grande escala da mineira Luana Vitra chamada Pulmão da mina. A instalação conta com pequenas esculturas de canários, representando espécies sentinelas, usadas para identificar e alertar pessoas escravizadas sobre toxicidade em minas.

Obra de Igshaan Adams forma uma mapa sobre o piso da Bienal (Foto: Vistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo)

Já a obra do artista sul-africano Igshaan Adams reúne miçangas, arame, tecido e algodão na construção de um enorme mapa abstrato disposto sobre o piso. Esse tapete é atravessado por limites que aludem às fronteiras da segregação racial. Sobre o mapa, vemos pendentes em forma de nuvem de poeira – uma referência ao riel, dança tradicional retomada por novas gerações sul-africanas.  

Como principal evento de arte do país, a Bienal novamente se posiciona como termômetro para o tempo em que vivemos e é destino estimulante para quem ama e respeita as artes visuais. Não precisa dizer o quanto se faz necessário mais um dia de visita para contemplar todas as obras como elas merecem. E vale a pena.

Serviço: 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível
Período: até 10 de dezembro
Horários: terça, quarta, sexta e domingo, das 10h às 19h (última entrada:18h30); quinta e sábado, das 10h às 21h (última entrada: 20h30)
Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera, Portão 3
Entrada gratuita

Compartilhe
Avaliação 
Avalie
 
Sem votos
VOLTAR
ESC PARA FECHAR
Minha avaliação desse conteúdo é
0 de 5
 

Diversidade e obras em grande escala marcam a...

Diversidade e obras em grande escala marcam a 35ª Bienal de São Paulo

  Sem votos
minutos de leitura
Em análise Seu comentário passará por moderação.
Você avaliou essa matéria com 1 estrela
Você avaliou essa matéria com 2 estrelas
Você avaliou essa matéria com 3 estrelas
Você avaliou essa matéria com 4 estrelas
Você avaliou essa matéria com 5 estrelas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *



Não perca nenhuma novidade!

Assine nossa newsletter para ficar por dentro das novidades de arquitetura e design no Brasil e no mundo.

    O Archtrends Portobello é a mais importante fonte de referências e tendências em arquitetura e design com foco em revestimentos.

    ® 2024- Archtrends Portobello

    Conheça a Política de Privacidade

    Entenda os Termos de Uso

    Veja as Preferências de Cookies