Desenho técnico: o que é, tipos e aplicação na arquitetura
Um projeto arquitetônico só pode ser executado com a precisão de todas as informações necessárias para sua execução. É para estudar todos os seus aspectos e deixá-los documentados que existe o desenho técnico.
Exigido para a elaboração de diferentes produtos e serviços, é praticamente impossível imaginar projetos de arquitetura, design e engenharia sem um desenho técnico. Entenda como ele é aplicado:
O que é desenho técnico?
É uma expressão gráfica de um objeto que tem como objetivo mostrar dados importantes sobre suas características e dimensões. É um documento que aponta ao executor do projeto quais as ideias do projetista.
No desenho técnico de uma roupa, por exemplo, o observador tem informações sobre altura, largura de mangas, ombros, gola, saia/pernas, cintura e da peça por completo.
Isso não significa necessariamente que quem o fez também será responsável por costurar a peça. Contudo, precisa deixá-lo legível para qualquer pessoa que entenda minimamente sobre projetos do tipo.
A mesma lógica se aplica em qualquer outro objeto retratado no desenho técnico, incluindo imóveis. Resumindo, é uma ferramenta essencial para a reprodução gráfica de um projeto, independentemente do tipo.
Geometria descritiva
É o grande pilar do desenho técnico, pois foi de onde ele se derivou. A geometria descritiva é uma ciência que representa objetos tridimensionais em um plano bidimensional.
Utilizando projeções ortogonais (figuras desenhadas no plano que resultam da projeção de todos os pontos de outra figura fora dele), é possível representar graficamente como serão as diferentes perspectivas de um objeto.
Vistas em desenho técnico
Quando se faz um desenho em perspectiva — ou seja, como uma determinada área de um objeto tridimensional é vista pelo observador —, alguns detalhes técnicos podem ficar escondidos.
Por isso, um projeto precisa ser elaborado em projeção ortográfica, conhecida popularmente como vistas ortogonais ou vistas em desenho técnico.
Uma projeção ortográfica mostra o objeto tridimensional em uma superfície plana, permitindo a visualização de todas as suas faces (vistas). Em desenho técnico, há três tipos de vistas: superior, lateral e frontal.
Perspectivas
A perspectiva é a representação bidimensional de um objeto tridimensional. Como dito, ela representa a visão de um observador com relação a diferentes pontos de vista.
Quando o indivíduo está a metros de distância um arranha-céu, por exemplo, consegue ver sua parte frontal e lateral. É considerando essa visão que o desenho em perspectiva é feito.
Um fator importante é que a perspectiva ajuda a ter uma ideia de como aquele objeto se comporta no mundo real, pois permite que o observador tenha uma ideia de sua altura, largura e profundidade.
Em relação ao desenho técnico, existem três tipos de perspectivas:
Axonométrica
Também chamada de perspectiva paralela e axonometria, a perspectiva axonométrica é a projeção cilíndrica ortogonal sobre um quadro.
É muito utilizada na arquitetura e na engenharia por sua simplicidade construtiva: basta ter um esquadro com ângulo de 30° para poder desenhar as linhas oblíquas.
A perspectiva axonométrica pode ser:
- Isométrica: suas três faces têm a mesma inclinação em relação ao quadro;
- Dimétrica: os raios projetantes são ortogonais ao plano vertical de projeção. Dois ângulos são iguais e o terceiro aparece mais longo ou mais curto;
- Trimetrica: os três eixos principais são escorçados em ângulos diferentes.
Cavaleira
Considerada um método de perspectiva rápida por facilitar o desenho de objetos em dimensões reduzidas, a perspectiva cavaleira é uma projeção cilíndrica oblíqua sobre um plano paralelo, na qual o objeto projetado tem uma face paralela ao plano.
Cônica
A perspectiva cônica é a mais utilizada pelo arquiteto na elaboração de um desenho técnico — tanto que é também chamada de perspectiva do arquiteto. Isso porque ela é a única que retrata fielmente aquilo que o observador vê.
Nesse tipo, as linhas são oblíquas e se originam em um ponto de fuga, mas as referentes à altura e largura permanecem sem alterações com relação às outras perspectivas.
Operatividade
O desenho técnico não começa e termina em si. É um desenho operativo, ou seja, após seu término, segue para uma operação de confecção, montagem ou construção.
Quais são os tipos de desenho técnico?
Existem duas formas de representar graficamente o projeto. Veja:
Desenho não projetivo
São representações esquemáticas, que costumam resultar de cálculos algébricos. Gráficos, diagramas, esquemas, fluxograma e organogramas entram nessa categoria.
Desenho projetivo
São os desenhos que representam projeções do objeto em um ou mais planos. Alguns exemplos são planta baixas, desenhos geométricos e esboços à mão livre.
É no tipo projetivo que saem os diversos projetos de arquitetura e engenharia, como mecânica, de estruturas, tubulações e máquinas.
Quais as normas essenciais para um desenho técnico?
Uma grande diferença entre o desenho técnico e o artístico é que, no primeiro, o artista não é livre para fazer a representação gráfica como desejar.
Ele precisa seguir regras de normatização para respeitar a proporção do projeto e ser compreendido por qualquer profissional contratado.
No Brasil, quem normatiza o desenho técnico é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Veja algumas normas que precisam ser obedecidas:
- NBR 6492/94 – Representação dos projetos de arquitetura
- NBR 8196 – Emprego de escalas
- NBR 8403 – Aplicação, tipos de linhas e larguras das linhas
- NBR 10067 – Representação em desenho técnico
- NBR 10068 – Folha de desenho e leiaute e dimensões
- NBR 10126 – Cotagem de Desenho Técnico
- NBR 10582 – Apresentação da Folha para Desenho
- NBR 13142 – Dobramento de Cópia
- NBR 12298 – Como Usar Hachuras
Quais os graus de criação de um desenho técnico?
Para criar um desenho técnico, há uma série de processos:
Quanto ao grau de elaboração
- Esboço: é a elaboração inicial — uma espécie de "rascunho", em que o projetista é livre para fazer testes e decidir número de andares, organização do layout e posicionamento de cômodos, por exemplo;
- Desenho preliminar: é o trabalho entre o esboço e o desenho definitivo. Funciona como um desenho-teste, em que a base já foi relativamente escolhida, mas está aberto a alterações;
- Desenho definitivo: também chamado de desenho executivo, é a solução final do projeto, em que todos os detalhes importantes para sua elaboração já estão prontos.
Quanto ao grau de pormenorização
- Detalhe (desenho de produção): desenho de um componente isolado ou uma parte de um todo;
- Desenho de conjunto (montagem): é o projeto que mostra vários componentes reunidos, que formam um todo.
Qual a importância do desenho técnico para a arquitetura?
Dentro do desenho técnico, há uma especialização chamada desenho arquitetônico. Ele é fundamental para a elaboração de um projeto do segmento e, para o arquiteto, é essencial tê-lo em mãos para a execução do seu trabalho.
Produtividade
Com tudo projetado corretamente, os executores podem fazer todo o trabalho com mais precisão, evitando paradas, questionamentos e retrabalhos.
Visualização
O desenho técnico permite que os trabalhadores tenham uma ideia de como o projetista idealiza o resultado, o que facilita o trabalho e permite uma compreensão maior entre ambos.
Precisão
Quando se fala em arquitetura e engenharia, precisão é fundamental. Por mais que os dados possam ser informados em um documento específico, a visualização do desenho técnico possibilita que os responsáveis pela obra possam ver diferentes proporções de todo o conjunto.
Qualidade
Padronização traz qualidade na execução, pois diminui erros e otimiza o trabalho. Além disso, permite que o time dedique mais tempo a partes mais criteriosas do projeto.
Marketing
Atualmente, é possível criar desenhos técnicos em ferramentas digitais muito avançadas.
Elas acabam servindo como um atrativo de clientes e um diferencial de um arquiteto/engenheiro ou escritório, pois permitem praticamente uma visualização completa de como o projeto ficará quando pronto.
Serve como prova
Uma das grandes vantagens do desenho técnico para o arquiteto e o engenheiro é a possibilidade de usá-lo como prova durante a contestação da obra.
Se por algum acaso o cliente contestar a altura do pé-direito, a quantidade de cômodos ou qualquer outro problema com relação à execução do projeto, é possível mostrar que tudo o que foi feito está de acordo com o desenho técnico aprovado previamente por ele.
O que precisa ter em um desenho técnico de arquitetura?
Na NBR 6492, que fala sobre representação dos projetos de arquitetura, estão estipuladas as seguintes definições:
- Planta de situação: contém o partido arquitetônico por completo. Pode conter informações específicas em função do tipo e porte do programa, assim como para a finalidade a que se destina;
- Planta de locação (ou implantação): além do projeto de arquitetura, conta com as informações necessárias dos projetos complementares, como movimento de terra, arruamento, redes hidráulica, elétrica e de drenagem;
- Planta de edificação: vista superior do plano secante horizontal, localizado a 1,50 m do piso em referência;
- Corte: plano secante vertical que divide a edificação em duas partes, seja no sentido longitudinal, seja no transversal;
- Fachada: representação gráfica de planos externos da edificação;
- Elevações: representação gráfica de planos internos ou de elementos da edificação;
- Detalhes ou ampliações: todos os pormenores necessários, em escala adequada, para um perfeito entendimento do projeto e para possibilitar sua correta execução;
- Escala: relação dimensional entre a representação de um objeto no desenho e suas dimensões reais;
- Programa de necessidades: documento preliminar do projeto que caracteriza o empreendimento ou o projeto objeto de estudo;
- Memorial justificativo: texto que evidencia o atendimento às condições estabelecidas no programa de necessidades, além de apresentar o partido arquitetônico do estudo preliminar;
- Discriminação técnica: documento escrito do projeto que descreve os materiais de construção, locais de aplicação e técnicas exigidas;
- Especificação: norma destinada a fixar as características, condições ou requisitos exigíveis para matérias-primas, produtos semifabricados, elementos de construção, materiais ou produtos industriais semiacabados;
- Lista de materiais: levantamento quantitativo de todo o material especificado no projeto;
- Orçamento: avaliação dos custos dos serviços, materiais, mão de obra e taxas relativas à obra.
Na aplicação desta NBR, é necessário consultar a NBR 10068.
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