Desenhando soluções
Em entrevista para a revista Bamboo, em 2014, o designer francês Philippe Starck disse que talvez o mundo não precise de novos produtos, mas estamos sempre precisando de novas soluções. Para Starck, o design feito com visão e honestidade pode criar respostas eficazes para problemas reais, melhorando a vida das pessoas.
Ter consciência do impacto que suas criações podem causar no mundo é uma característica comum e indispensável aos bons designers. De olho na integração entre produto, experiência e tecnologia, o suíço radicado em São Francisco Yves Béhar faz parte desse grupo seleto. Fundador do premiado escritório fuseproject, Béhar aposta no design como uma ferramenta poderosa para promover mudanças sociais e ambientais positivas.
Em parceria com empresas como Herman Miller, Samsung, Puma, e Prada, o designer assina não apenas produtos revolucionários, como a cadeira Herman Miller Sayl e o berço inteligente SNOO, mas experiências transformadoras – como o projeto One Laptop Per Child, que fornece laptops para crianças em países em desenvolvimento, e o See Better to Learn Better, que distribui 500 mil óculos corretivos gratuitos para crianças em idade escolar no México e na Califórnia todos os anos.
Lançado em Los Angeles durante o último Summit Festival, o LivingHomes YB1 marca a entrada de Yves Béhar em uma nova área: casas pré-fabricadas.
Na Califórnia, onde a densidade urbana em cidades como São Francisco e Los Angeles é baixa, e a quantidade de imóveis disponíveis para moradia não é suficiente, uma nova lei aprovada pelo governador Jerry Brown autoriza e encoraja as pessoas a construírem habitações adicionais em seus quintais. Fruto de uma colaboração com o LivingHomes, estúdio de design a frente da construtora Plant Prefab, o projeto de Béhar combina sustentabilidade e design de alta qualidade para atender a essa nova demanda – com bom gosto e rapidez, bom custo-benefício e o menor impacto ambiental possível.
Projetado a partir de um sistema modular que permite uma boa variedade de plantas, telhados e dimensões de janelas, o YB1 oferece uma ampla possibilidades de layouts, em unidades que podem ir de 76 a 360 metros quadrados. Materiais certificados e que se adaptam a diferentes climas, bem como recursos que monitoram o consumo de água e energia e um sistema inteligente de iluminação, fazem parte do pacote. Produzidas com métodos construtivos sustentáveis, cada unidade leva um mês para ficar pronta e um dia para ser montada no local escolhido.
“Para mim, a próxima fronteira do design é pensar em toda a casa como um produto que um proprietário pode moldar às suas necessidades, em termos de tamanho, uso e estética”, diz o designer. “O objetivo do projeto é oferecer uma variedade de dimensões e layouts, ao mesmo tempo em que utiliza um sistema de construção que proporciona uma vida sustentável e eficiente em áreas urbanas”.
CS: É a primeira vez que você assina o projeto de uma casa. Como foi a experiência?
YB: Esta primeira incursão no mundo de casas pré-fabricas foi para mim uma oportunidade de pensar edificações de forma sistemática, em vez de pensar um projeto único que abrace todas as soluções. As pessoas querem moldar o ambiente em que vivem e adaptá-lo às restrições de luz e privacidade que possam existir. Steve Glenn, fundador e CEO da Plant Prefab, me propôs projetar um sistema pré-fabricado com o estúdio de design de sua empresa, o LivingHomes, que atendesse a necessidades e faixas de preço diversas.
CS: Qual o conceito por trás do projeto?
YB: Quando o governador Jerry Brown assinou a lei que torna as ADUs - Accessory Dwelling Units (algo como unidades residenciais assessórias) legais na Califórnia, ele iniciou uma revolução na forma como proprietários, construtores e planejadores urbanos pensam essas pequenas casas. Após essa regulamentação as solicitações de licença para a construção de unidades habitacionais extras, nos quintais de residências existentes, dispararam. O objetivo da lei é aumentar o número de habitações em uma região que tem uma densidade muito baixa e uma grande necessidade de moradia, e que, como resultado, não é acessível financeiramente. As ADUs poderiam aumentar muito a oferta de habitações nessas zonas. Nos últimos anos, eu e minha equipe do fuseproject temos pensado em um jeito mais acessível e eficiente de viver, como mostramos em nosso trabalho com a ORI, uma empresa que desenvolve móveis inteligentes que transformam pequenos estúdios em casas multifuncionais. Para mim, a próxima fronteira do design é pensar em toda a casa como um produto que o proprietário pode moldar às suas necessidades em termos de tamanho, uso e estética.
CS: Que inovações o LivingHomes YB1 traz para o mercado? Que melhorias ele propõe para a vida das pessoas?
YB: O sistema YB1 se destaca no mercado por ser adaptável, sustentável e acessível financeiramente. As casas podem ser construídas em várias configurações – módulos para cozinhas completas, banheiros, salas de estar e quartos (ou escritórios) estarão disponíveis – e, por causa dos recursos flexíveis, podem se acomodar em diferentes espaços e atender gostos estéticos e estilos de vida diversos. Além disso, o tamanho das casas pode variar de 76 a 360 metros quadrados. O sistema estrutural oferece opções variadas de layouts internos. É baseado em um grid que viabiliza janelas que vão do piso ao teto, janelas altas ou paredes como fechamento. Isso permite regular luz, privacidade e custos com muita precisão. Uma característica única do sistema é possibilitar também várias opções de telhado, permitindo que a construção se adapte a vários tipos de clima ou se integre ao estilo da vizinhança, por exemplo.
CS: Idealmente, como seria a casa do futuro?
YB: Estamos prevendo que o mercado de casas pré-fabricadas crescerá substancialmente na próxima década. Os consumidores buscam soluções de moradia para seus parentes e as cidades querem aumentar a oferta de habitações disponíveis para aluguel, tornando mais conveniente o processo de construir pequenas casas em propriedades existentes. Nosso objetivo é responder a essa tendência de maneira inovadora, construindo opções inspiradoras – com bom design e funcionais – e fazendo com que elas sejam acessíveis para os consumidores do futuro.
CS: Que questões o fuseproject gostaria de resolver através do design? Qual o seu projeto dos sonhos?
YB: O bom design gera mudança e deve tocar em múltiplos elementos da experiência humana. Você tem que pensar além do design físico e considerar como o usuário irá interagir na experiência que vai ser proporcionada. Para quem estamos projetando? O que é importante para eles? Como podemos melhorar uma experiência existente ou criar algo inteiramente novo com base em nosso conhecimento sobre eles? Quer seja design industrial, a criação de uma marca ou design ambiental, é nossa responsabilidade sempre entender e responder ao contexto em que o trabalho existe.
CS: Quais suas principais referências? Que designers, arquitetos e artistas inspiram você?
YB: A arquitetura, tanto a contemporânea quanto a histórica, está em grande parte da minha formação como designer. Arquitetos como David Adjaye e Bjarke Ingels são algumas das minhas fontes de inspiração.
CS: Quais os próximos projetos? O que vem por aí?
YB: Sistemas de saúde, construção e transporte são os grandes projetos em que estou focado. E, seguindo o lançamento do YB1, nos concentraremos em casas pré-fabricadas com custo abaixo de U$100.000,00. Aproveitaremos as técnicas de manufatura robótica e a tecnologia de construção que a Plant Prefab está desenvolvendo, para fornecer soluções habitacionais pré-fabricadas que atendam às necessidades funcionais, estéticas e de baixo custo de um segmento que está crescendo rápido, impulsionado por consumidores que buscam novas soluções. Um momento muito excitante.