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Depois de sobreviver, a tendência é acontecer!

Foram tempos sombrios para os escritórios de arquitetura, fornecedores de primeira ordem na maioria dos processos na construção civil. Se as pranchetas ficam vazias, é sinal de lacuna para todo restante da cadeia, principalmente para fornecedores de materiais – os que certamente mais sofreram nesse período.

Além da crise político-econômica do país, cuja porta de saída começa a ser vislumbrada – ainda que de forma incipiente – , o mercado arquitetônico sofreu uma crise ainda mais aguda, a da construção, fruto do sucateamento de alguns órgãos públicos, da operação Lava-Jato e da “bolha" imobiliária –  a imensa oferta de imóveis entre 2008 e 2014, que acabou gerando  um gap nos anos posteriores. Ou seja, em nosso mercado, vivenciamos a crise em dobro.

Requalificação da orla de Ilha Comprida, é exemplo de design voltado ao urbano. Foto: Boldarini/ Divulgação.
Requalificação da orla de Ilha Comprida, é exemplo de design voltado ao urbano. Foto: Boldarini/ Divulgação.

Na contramão, alguns escritórios e empresas fornecedoras inovaram, buscaram o ajuste perfeito e usaram a criatividade para não apenas sobreviver, mas preparar-se para um crescimento tímido. Poucos, quase mágicos, cresceram no período mais sombrio da crise.

Exemplifiquei nesse espaço, em colunas anteriores, algumas inovações, seja em produtos, pensamento ou gestão. As gentilezas urbanas, abordadas aqui, chegam para ficar. Dificilmente um bom projeto arquitetônico sai do papel hoje sem oferecer algo ao entorno e à cidade, ou ser gentil com seus usuários. Bem como a inserção do design no contexto urbano, ou seja, projetos na escala intermediária entre o edifício e o plano urbano mais amplo. São exemplos de atuais, já implantados em alguns aspectos, mas que devem tomar fôlego na retomada da economia e se firmar como necessidade básica, não mais como luxo pontual.

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O premiado projeto de moradias infantis no Tocantins baseou-se no uso da madeira, uma das tendências para os próximos anos. Foto: Leonardo Finotti.

Escritórios com conceitos contemporâneos de gestão também conseguiram sobreviver e estão aptos a crescer. São empresas que pregaram o fim do distanciamento entre arquiteto e canteiro de obras, que trabalham de forma colaborativa ou que possuem dinâmica ampla de tipologias – a não especialização. Caso do FGMF arquitetos, que não pararam de projetar no período de crise, mantendo produção contínua e diversificada, em diversas escalas, até mesmo a do objeto.

Vimos também produtos inovadores surgindo - como os fotovoltaicos orgânicos, ou buscando protagonismo, caso da tecnologia de construção estrutural em madeira com CLT, mostrando que há caminho auspicioso para novidades e quebras de paradigma.

Escritórios
Gentileza urbana também é trend: um banco para uso público na transição do externo para o interno nesta edificação. Foto: Nelson Kon.

Com a redução no tamanho dos escritórios e indústrias, pipocam por todos os cantos os co-workings especializados, voltados unicamente ao segmento de arquitetura e design; os co-creators, crowdsourcing e open sources, que são formas mais acessíveis e interessantes de trabalhar projetos em quaisquer escalas. Mas o que fica realmente é a forma de olhar o mercado, planejar ações de curto e médio prazo de maneira mais racional do que quando o dinheiro vinha farto e a administração ficava em segundo plano.

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O Edifício Sêneca foi o primeiro a receber filmes fotovoltaicos orgânicos: inovação em meio à recessão econômica. Imagem: Ddivulgação/Totvs.

Para todos que permaneceram no jogo, que passaram por essa seleção natural, chegou a hora de acontecer. O ano de 2018 se desenha com desafios comuns aos anos eleitorais, porém, com um preparo que dificilmente os escritórios e indústria teriam se não fossem os malabarismos a que foram submetidos em tempos de recessão. Essa é a maior lição: manter a austeridade mesmo com os negócios voltando a brotar.

Parceria com Kengo Kuma na Japan House: uma das inúmeras obras recém-concluídas pelo FGMF Arquitetos. Foto: Flagrante/Romullo Fontenelle.
Parceria com Kengo Kuma na Japan House: uma das inúmeras obras recém-concluídas pelo FGMF Arquitetos. Foto: Flagrante/Romullo Fontenelle.
Outro monumento para a UNESP, pelo FGMF: 20 tubos perfurados representam os estudantes que fundaram a universidade. foto: Rafaela Netto.
Outro monumento para a UNESP, pelo FGMF: 20 tubos perfurados representam os estudantes que fundaram a universidade. foto: Rafaela Netto.
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